Primeiro nome do Partido Novo a ser eleito para comandar um Estado na esteira da onda de renovação política que marcou as eleições do ano passado, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, vai delegar aos deputados de sua base de apoio na Assembleia Legislativa a prerrogativa de escolher técnicos para comandar as superintendências regionais de Saúde e Educação, antigos feudos da velha política mineira.
A decisão resvala no discurso do Novo que entre outras coisas defende processos de seleção para o preenchimento de cargos públicos.
Segundo Zema, o objetivo é aproveitar o "conhecimento" dos deputados em suas regiões. "Não podemos ser dogmáticos. Isso seria um retrocesso", disse ele em entrevista ao Estado, a primeira desde que assumiu o governo.
Na conversa, Zema também falou sobre a tragédia provocada pelo rompimento de uma barragem da Vale em Brumadinho. Segundo ele, houve "pirotecnia" de setores do poder público e a catástrofe não foi um problema ambiental, mas de engenharia.
Leia os principais trechos da entrevista.
O senhor fez críticas duras ao PT e ao PSDB durante a campanha. Nomear para a administração estadual filiados ao PSDB não é uma contradição?
De forma alguma.
Houve alguma pressão do Novo para que o senhor nomeasse quadros do partido?
Não houve. É lógico que há alguma pressão pequena de uma outra pessoa que contribuiu com as ideias do Novo e desrespeitando os próprios ideais do partido quer alguma coisa para si ou algum conhecido.
Outro motivo de críticas é a manutenção do Germano Vieira (ex-secretário no governo do PT) na Secretaria de Meio Ambiente. Por que ele foi mantido?
Mesmo que eu...
Foi na gestão dele que ocorreu a revisão das regras e rebaixou a classificação de risco para barragens como a de Brumadinho.
Existe uma confusão muito grande em relação à Secretaria do Meio Ambiente. O que aconteceu aqui em Minas foi que um problema de engenharia causou um desastre ambiental e uma tragédia humana. Para todos os efeitos a população e a mídia tem crucificado a área ambiental que tem a responsabilidade de analisar o impacto da barragem sobre o ambiente. Ela não tem poderes para ir lá e avaliar a solidez da barragem.
A mudança nas regras de classificação de risco não diminui o controle do Estado sobre a segurança sobre as barragens?
Vamos lembrar aqui que a barragem de Brumadinho foi autorizada em 1976. Desde o acidente de Mariana ela não recebia rejeitos. Até falo que o caso de Brumadinho é um cadáver que saiu andando. Ela estava desativada há três anos e de repente tivemos este acidente.
A prisão dos engenheiros levou a este cenário?
Estou aguardando o final do processo. Sei que nestes momentos em que as emoções estão afloradas parece que algumas áreas do poder público querem demonstrar para a população que agiram ou que fizeram algo. Mas o que cabe neste momento é analisar a real causa do que ocorreu e não pirotecnia que às vezes ocorre em alguns setores do poder público, infelizmente.
O senhor está falando do Ministério Público?
Não quero citar ninguém. São vários. Aí tem de todas as esferas. Até do Executivo. Talvez em Mariana o problema tenha sido este. Precisou acontecer outra vez para que tenha um aprendizado.
A impunidade não é um motivo para que este tipo de coisa continue a acontecer?
Certamente. Se houver culpados que sejam punidos com todo o rigor que a lei determina.
O Novo vai ter que flexibilizar suas propostas para se adaptar à realidade de administrar um Estado do tamanho de Minas Gerais?
Sou totalmente contrário a qualquer tipo de radicalismo ou de postura de quem se acha dono da verdade. Nosso objetivo é sermos protagonistas de uma mudança cultural no setor público e com certeza não é de um dia para o outro que vamos conseguir isso. Vamos ter alguns momentos como este das superintendências regionais de saúde e educação, até por causa do conhecimento de políticos que já estão aí há muito tempo e sabem que é bom e quem é ruim e que podem colaborar. Não podemos ser dogmáticos, isso seria um retrocesso.
O senhor disse que é contra radicalismo, mas o Novo defende mudanças radicais.
Não considero, não. Considero meritocrática e só. Vale lembrar que no caso das superintendências regionais vai ter um processo seletivo no qual serão selecionados dois ou três nomes e a classe política vai estar depois indicando qual desses nomes é o mais conveniente para eles. Se for alguém ruim nós não vamos aceitar, mas vamos dar a prerrogativa de eles participarem. Não podemos nos dar o luxo de falar que vamos escolher quem é o superintendente e o deputado ficar sabendo depois.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo..