O embate entre o vereador Carlos Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, e o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, jogou nesta quarta-feira, 13, o Planalto em sua pior crise nos 44 dias de governo. Após receber alta do hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde ficou internado por 17 dias, o presidente tomou o lado do filho na briga e desautorizou Bebianno, sugerindo até mesmo que ele pode deixar o cargo.
Em entrevista à TV Record, Bolsonaro disse que o ministro mentiu quando afirmou ao jornal O Globo que eles conversaram na terça-feira, 12, três vezes pelo telefone sobre rumores de crise no governo. O presidente informou que determinou à Polícia Federal a abertura de inquérito para apurar suspeitas de desvios de recursos do Fundo Partidário destinados ao PSL por meio de candidaturas laranjas nas eleições de 2018.
Bebianno presidiu o partido durante o período eleitoral. "Se (o Bebianno) estiver envolvido e, logicamente, responsabilizado, lamentavelmente o destino não pode ser outro a não ser voltar às suas origens", afirmou o presidente à Record.
Reportagens do jornal Folha de S.Paulo apontaram suspeitas de candidaturas laranjas em Minas Gerais e em Pernambuco.
Bolsonaro acrescentou na entrevista à TV que o pedido de abertura de investigação foi feito ao ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sérgio Moro, que disse ter "carta branca" para determinar investigações do caso. "O partido tem que ter consciência. Não são todos, é uma minoria do partido que está aí nesse tipo de operação que nós não podemos concordar."
Bebianno afirmou que não pretende deixar o cargo e confidenciou a amigos próximos que se o presidente quiser que ele saia, terá de demiti-lo.
A entrevista ocorreu antes de Carlos Bolsonaro postar no Twitter a mesma acusação de que o ministro havia mentido. O filho do presidente foi além e divulgou o áudio enviado por Bolsonaro a Bebianno, pelo WhatsApp, no qual ele se recusa a atender ao subordinado.
A cronologia deixou militares da equipe de Bolsonaro desorientados. A leitura no Planalto, até então, era a de que Carlos estava descontrolado e havia usado o Twitter para atacar o ministro sem o conhecimento do pai. Um general já havia sido escalado para orientar Bolsonaro a controlar os filhos. O temor agora é que Bebianno deixe o governo atirando. Ele foi o principal coordenador da campanha de Bolsonaro.
O post de Carlos dizia: "Ontem estive 24h do dia ao lado do meu pai e afirmo: É uma mentira absoluta de Gustavo Bebianno que ontem teria falado 3 vezes com Jair Bolsonaro para tratar do assunto citado pelo Globo."
Ele anexou na mensagem um áudio do próprio presidente. "Gustavo, está complicado ainda.
Na entrevista à Record, Bolsonaro afirmou: "Em nenhum momento conversei com ele." Ao jornal O Estado de S. Paulo, Bebianno reiterou que trocou mensagens com Bolsonaro, uma delas para cancelar sua viagem ao Pará, onde iria em comitiva com outros ministros tocar projetos do governo.
A conta oficial de Bolsonaro no Twitter reproduziu os posts de Carlos e destacou os "principais trechos" da entrevista à Record, resumidos aos comentários sobre Bebianno. As declarações sobre a reforma da Previdência, por exemplo, foram ignoradas. Com a temperatura elevada, um integrante do governo não descarta a queda de Bebianno, que estaria "ferido" e teria dificuldades de vencer um duelo com o filho do presidente.
Disputa antiga
A disputa entre Carlos e Bebianno começou ainda na fase de transição.
Por causa das divergências com Carlos, Bebianno foi orientado a não visitar Bolsonaro no hospital e evitar telefonemas. O filho do presidente passou o tempo todo ao lado dele durante a internação. O pedido evitou um encontro do filho de Bolsonaro com o ministro.
A guerra recrudesceu após o Estado divulgar relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que apontou movimentações "atípicas" de um ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ). Flávio procurou o pai para acusar o empresário Paulo Marinho, seu suplente no Senado, e Bebianno de alimentarem uma rede de intrigas entre aliados e setores da imprensa para estender a crise. Carlos ganhara um aliado na luta para derrubar o ministro.
Numa entrevista divulgada na madrugada desta quarta pela Rede TV, um terceiro filho de Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), ampliou a luta interna no Planalto ao dizer que faltava ao vice-presidente, Hamilton Mourão, "um pouquinho de traquejo político". No final de novembro, Mourão já tinha sido alvo de Carlos. O vereador escreveu no Twitter que a morte do pai "interessa aos que estão muito perto".
Interlocutores civis e militares do presidente ouvidos pela reportagem relataram que a postura de Carlos de desmentir um ministro é algo "grave".
No Planalto, militares e ministros civis avaliaram que o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, era a pessoa indicada para sugerir ao presidente que "domasse" seus filhos, mas ele não quer se envolver em assunto de família. A interlocução de Mourão foi descartada. O mais provável é que o ministro Carlos Alberto Santos Cruz, da Secretaria de Governo, cumpra essa missão. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo..