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Estado de Minas

Oposição luta por mais espaço na Câmara dos Deputados

Papel da esquerda vai além de obstruir pautas na Câmara dos Deputados. Grupo já se articula para criar frente ampla e angariar aliados até mesmo entre partidos de centro e centro-direita


postado em 07/01/2019 06:00 / atualizado em 07/01/2019 07:33

Na Câmara dos Deputados, estratégia do bloco contrário ao governo passa por apoiar nomes fortes na disputa pela cadeira de presidente da Casa (foto: Senado/Flickr)
Na Câmara dos Deputados, estratégia do bloco contrário ao governo passa por apoiar nomes fortes na disputa pela cadeira de presidente da Casa (foto: Senado/Flickr)

Brasília – Apesar de o PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, ter conquistado a segunda maior bancada da Câmara dos Deputados com 52 deputados – o PT detém a maior, com 56 parlamentares –, o governo vai precisar lidar com a oposição que chega com nomes fortes na Casa este ano. Em um governo de extrema-direita, o papel da esquerda vai além de obstruir pautas que vão à votação no plenário. O grupo se articula para conseguir presidir comissões, montar uma frente ampla e fazer alianças para poder derrubar matérias que julgam “inapropriadas”, que ferem os direitos civis. Lideranças congressistas falam sobre os principais desafios da esquerda em 2019 e avisam que vão aproveitar possíveis rachas que ocorrerem entre legendas de centro e centro-direita para fazerem negociações e angariar aliados.

Para conquistar esse espaço, a oposição deverá articular, sobretudo, um nome à presidência da Câmara que mantenha um canal aberto de diálogo com ela. Figuras que circulam com mais força entre os parlamentares são Rodrigo Maia (DEM-RJ), que busca a reeleição, e Arthur Lira (PP-AL), outra opção do centrão, que se articula para conquistar os votos necessários para o pleito, marcado para o início de fevereiro. “A formação do bloco é uma decisão importante para a oposição, porque vai ser decisiva para saber quais comissões serão presididas ao longo dos próximos quatro anos. É importante fazer as contas para saber qual é a opção que vai dar maior espaço político e garantir uma oposição efetiva”, disse uma liderança da esquerda.

O PSL afirmou durante a semana que apoiará Maia nas eleições da Casa. O que se ouve nos corredores da Casa é que a jogada desagregou toda a articulação que o atual presidente tentava entre os partidos para buscar a reeleição. Acreditam que, com o apoio declarado, lideranças se esquivariam de fazer aliança declarada com integrantes do partido de Bolsonaro. “O PSL transformou a eleição do Legislativo em uma questão de governo. Isso contaminou as expectativas de Maia de ser um candidato independente”, explica um parlamentar. Com isso, negociações em torno da agenda de pautas governistas já começam a ocorrer na Casa.

PRIMEIRO NOME
Durante a semana, o novato Marcelo Freixo (Psol-RJ) anunciou que também disputaria o pleito. Até o momento, é o único nome da esquerda que se lançou como candidato. Entretanto, congressistas aliados afirmam que, pelas contas, ele não teria chance de vencer; tampouco formaria um bloco amplo, com representatividade, para ganhar espaços de destaque em comissões relevantes. “Se lança uma candidatura avulsa, forma um bloco pequeno, e a oposição vai pegar comissões pouco importantes. Aí, o que vamos fazer pelos próximos quatro anos? Se juntar o número de parlamentares de esquerda, dá aproximadamente 120 pessoas. Precisamos conseguir comissões como a CCJ, onde todos os projetos do governo passam, para garantir oposição mais dura”, explicou outro parlamentar.

Por isso, a candidatura de Freixo parece não fazer barulho entre os próprios integrantes da oposição. Acreditam que não terá viabilidade, embora reconheçam a importância de um nome de esquerda estar na disputa pelo cargo mais alto da Câmara. “Antes de se lançar como candidato, não conversou com ninguém da esquerda, mas depois procurou para tentar negociar apoio. Nossas escolhas são ou ficar no bloco do Maia, que dialoga com a oposição e conquistar lugares importantes no Congresso, ou no bloco de partidos de centro e centro-direita, que o Arthur Lira tenta montar”, explicou o parlamentar.

À reportagem, Freixo ressaltou que o campo democrático dentro do Congresso terá que trabalhar de maneira unificada e explicou que a candidatura dele à Presidência foi um nome escolhido pelo Psol em um contexto diferente, que não é apenas para marcar oposição, mas para ter uma candidatura mais sistemática, em um governo de extrema-direita como é o de Bolsonaro. O novo congressista ressalta que, entre os principais desafios da esquerda a partir deste ano, está o combate à pautas que mantenham a desigualdade social no país.

“A República teve avanços, mas há ainda lacunas muito profundas para serem combatidas. O Brasil é o nono país mais desigual do mundo. Evidentemente a oposição tem que ser um bloco conjunto e aproveitar os possíveis rachas que acontecerem entre partidos de centro e centro-direita, que não concordam com Bolsonaro. Sobretudo, não é um momento em que pode se dar ao luxo deixar um setor dela de fora”, afirma, em relação à celeuma envolvendo o PT e a frente de oposição, criada pelo PDT, PSB e PCdoB, que estudava deixar a sigla do presidenciável derrotado Fernando Haddad de fora da articulação.

BLOCO ‘DEMOCRÁTICO’ A deputada Maria do Rosário (PT-RS) minimizou o impasse entre as forças da esquerda e disse que o partido já se articula para montar o bloco com todas as siglas “democráticas”, não necessariamente de oposição. Além do campo da esquerda, para a parlamentar, há setores liberais que ainda vão repensar se aderem ao governo. Ela cita o PSDB e atribui ao desgaste interno da sigla nas eleições uma possível divisão dentro da legenda.  “Existem graus de relação, claro, mas precisamos manter o canal aberto com todos que fazem parte do campo da democracia. Nossas pautas prioritárias este ano são de defesa da democracia, de patrimônio público nacional e de direitos humanos. Três assuntos que estão em risco e ameaçam os direitos da população”, completou a parlamentar.

Apesar de o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, afirmar que o governo estará aberto para dialogar com o PT no Congresso, Maria do Rosário nega qualquer tipo de diálogo. “Não contestamos o resultado. Não há qualquer possibilidade de ter essa ligação. Mesmo sendo eleito presidente, não deixa de ser despreparado, violento, leviano, que defende, sempre que pode, um torturador”, critica.

De olho nas promessas


A oposição deverá ser rigorosa na fiscalização do governo e mostrar à população quando o presidente Jair Bolsonaro se desviar do que foi prometido durante a campanha, garante Alessandro Molon (PSB-RJ). “Todas as vezes que a proposta do governo for ruim para a sociedade, vamos impedir o avanço e apresentar alternativas. Seremos uma oposição responsável e propositiva”, explica. Molon afirma que vai garantir que se adote um enfoque de redução das desigualdades sociais nas propostas apresentadas pelo Executivo. “Se o projeto que chegar da reforma da Previdência aumentar ou reduzir os direitos, poderemos ser ou não oposição. Assim como a mudança na tributação”, exemplifica.

 

 


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