Jornal Estado de Minas

Redes sociais atraem 'avalanche' de votos e viram protagonistas nas eleições



Construir militância virtual forte, capaz de disseminar pelas redes sociais a mensagem e o trabalho da campanha nas ruas, foi a receita de sucesso dos candidatos que ficaram entre os mais votados para o Legislativo estadual e o federal na eleição do último domingo.

Ao contrário dos pleitos anteriores – quando as campanhas levavam em consideração apenas o número de curtidas e seguidores –, os postulantes que conseguiram se eleger tiveram, além de base grande de seguidores, engajamento forte, conseguindo viralizar seu posicionamento social e contra a corrupção.

“As ferramentas digitais são essencialmente bilaterais, de diálogo. Não adianta ter muitos seguidores e tentar empurrar o conteúdo. Aquela história de inflar perfil, comprar seguidores, como em 2010 e 2014, é estupidez. O que vale é engajamento, para que a mensagem reverbere. Quem teve sucesso em 2018 é porque a militância ‘comprou’ a campanha”, avalia Marcos Marinho, consultor político, doutorando em comunicação política pelo Instituto Universitário de Lisboa.

Em Minas Gerais, um caso emblemático é o do advogado André Janones, terceiro mais votado para deputado federal, que teve ascensão meteórica depois de se tornar um porta-voz dos caminhoneiros durante a paralisação de maio.

Advogado de Ituiutaba, ele passou a transmitir vídeos ao vivo da BR-365, no Triângulo Mineiro, a favor dos caminhoneiros e endereçando críticas ao governo. O discurso duro rendeu milhares de compartilhamentos, vídeos com mais 15 milhões de visualizações, quase um milhão de seguidores no Facebook e, no último domingo, 178.657 votos.

“Eu tinha atuação local, com 70 mil seguidores no Facebook. Ao fim das manifestações, 600 mil. Hoje, um milhão, mesmo falando de outras demandas da sociedade”, conta Janones, que usou o Facebook como porta de entrada para quem queria conhecer o seu trabalho.



A estratégia: a partir de lives no Facebook, começou a consolidar uma rede de contatos de WhatsApp, que ao fim da eleição, era de 14 mil números – todos interessados a receber as notícias do candidato. “As redes sociais alavancaram meu trabalho. Acredito que eu teria uns 40 mil votos, na minha região. Tive 178 mil votos, em todas as regiões de Minas”.

Entre os 77 eleitos para a Assembleia Legislativa, o mais seguido no Facebook é Noraldino Júnior, presidente estadual do PSC. Ao lado da cadela Serena, que sempre aparece com ele nas fotos de perfil das redes sociais, ele tem quase 2 milhões de seguidores.

“A rede social nos dá oportunidade de abrir o mandato, prestar contas. A participação me fez crescer durante o mandato. Não só no número de seguidores, mas como político, como pessoa”, diz o deputado, quinto mais votado.

Entre os novos nomes do parlamento mineiro, o vereador de Divinópolis Cleitinho Azevedo (PPS) ganhou projeção ao viralizar vídeos em que critica a corrupção e os privilégios.
Algumas de suas postagens ultrapassaram 1,5 milhões de visualizações.

“Fiz uma campanha voltada para rede social. Um jeito novo de fazer política. Gastei apenas R$ 24 mil na minha campanha”, afirmou Cleitinho.

“Meus vídeos viralizaram quando comecei a tirar a poeira debaixo do tapete e tocar na ferida. Comecei a mostrar através de vídeos toda injustiça que os políticos fazem com povo”, conta o vereador, quarto mais votado para a Assembleia, com 115.491 votos.

Mensagens Eletrônicas


Nos outros estados, influenciadores se elegeram graças ao YouTube. Em Brasília, Luis Miranda – que ficou conhecido pelo Canal Miranda USA, que tem 735.390 seguidores –, foi o sexto mais votado, pelo DEM. Ele se mudou do Brasil em 2014, segundo seu canal, indignado com os gastos públicos da Copa do Mundo.

Em Miami passou a dar dicas de empreendimentos, exibindo o dia a dia da vida nos Estados Unidos.
“Foi com vocês, da internet. Fomos eleitos por pessoas honestas e inteligentes, que não acreditam em fake news”, disse Miranda, ao anunciar a vitória em seu canal.

Com rede articulada, que cresceu de forma organizada e acelerada nos últimos anos, o PSL conseguiu eleger deputados que ganharam notoriedade nas redes com discurso anticorrupção. No Ceará, André Fernandes foi o deputado estadual mais jovem eleito em 2018.

Com apenas 20 anos, o youtuber, estudante de marketing político, tem 493 mil inscritos e foi eleito pelo PSL, com o discurso contra privilégios e contra o governo de Camilo Santana (PT).

Em São Paulo, o PSL conseguiu uma dobradinha. Deputado mais votado da história, Eduardo Bolsonaro tem hoje 2 milhões de seguidores no Facebook, 666 mil no Twitter e 200 mil no Youtube e se tornou, no último mês, porta-voz da situação médica do pai, Jair Bolsonaro – o presidenciável com mais seguidores no Facebook, com 7,8 milhões.

A segunda mais votada foi a jornalista Joyce Hasselmann, com 1.843.735 votos. A paranaense, com passagem por rádios, revistas e TV, se fortaleceu no YouTube, com 927.364 inscritos.

“Mamãe, Falei”


Na Assembleia paulistana, o segundo mais votado é Arthur do Val (DEM), conhecido pelo canal “Mamãe, Falei”, com quase um milhão de inscritos. Ele foi apoiado pelo Movimento Brasil Livre (MBL), de forte ativismo nas redes sociais em oposição ao governo do PT, que também elegeu Kim Kataguiri (DEM), quinto mais votado para deputado federal. Kataguiri também está próximo da casa de 1 milhão de curtidas no Facebook.

Para o consultor político Marcos Marinho, o WhatsApp foi fundamental para transmitir a mensagem. “Os players de 2018 estão construindo sua base e militância desde 2013. Muitos dos campeões de votos, que se elegeram pela primeira vez, foram notoriedade em algum momento”, afirma Marinho, que destaca o poder do WhatsApp nestas eleições.


“O WhatsApp é terra de ninguém. Ele não é uma rede social, é um mensageiro eletrônico. Ele ‘clusteriza’ grupos e dentro deles, cria sentimento de pertença. Ali você cria uma bolha muito hermética. Você expõe suas verdades de maneira mais brutas e rudes”, afirma..