A atividade de robôs no debate político sobre os candidatos à Presidência dobrou uma semana após o atentado ao presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), revela monitoramento da Diretoria de Análise de Políticas (DAPP) da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Entre 5 e 11 de setembro, interações de robôs no Twitter totalizaram 788 mil compartilhamentos, o dobro da semana anterior. No período, houve 9,9 milhões de publicações originais e 7,3 milhões de compartilhamentos (retuítes) sobre os presidenciáveis. O volume de citações feitas por perfis automatizados respondeu por 10,8% do total dos retuítes.
O monitoramento de robôs, obtido com exclusividade pelo jornal O Estado de S. Paulo, leva em conta as interações provenientes de perfis automatizados com base nos retuítes. O aumento foi verificado em todos os principais grupos de discussão.
Nos que apoiam o candidato do PSL, o avanço foi de 18,4%. No grupo de Ciro Gomes (PDT), de 12,1%, no de Fernando Haddad (PT), de 11,6%, e nos de João Amoêdo (Novo) e Geraldo Alckmin (PSDB), o avanço foi de 6,1%.
Desconsiderando a presença de robôs, o mapa de interações sobre presidenciáveis identificou que 64,2% dos perfis que falam sobre candidatos se opõem a Bolsonaro. Os que apoiam o militar reformado representam 13,4% dos perfis, seguidos pelo grupo alinhado ao PT, com 12%.
Para o professor Marco Ruediger, diretor do DAPP e um dos responsáveis pelo monitoramento, o número mostra que os usuários aproveitaram a onda de atenção que o atentado atraiu para defender seus candidatos.
As publicações sobre Bolsonaro feitas por seus apoiadores refutam as especulações de que o atentado teria sido forjado, desejam boa recuperação ao presidenciável do PSL, questionam o seu suposto baixo apoio entre mulheres e criticam o candidato Ciro Gomes (PDT).
De acordo com a FGV, mais de 75% dos compartilhamentos feitos por mecanismos automáticos vieram do campo de apoio ao candidato do PSL.
Ciro Gomes e Fernando Haddad (PT) foram os candidatos que mais tiveram destaque no debate econômico. Numa análise do conteúdo, a FGV identificou que Ciro recebe apoio por sua proposta de tirar nomes do SPC. Por outro lado, ele foi alvo de críticas pelo posicionamento crítico ao aplicativo de transporte Uber. O estudo diz que Ciro é o candidato em torno do qual gira o debate sobre propostas efetivas para a área econômica, de forma favorável ou crítica. "É possível observar reações positivas e demonstração de conhecimento sobre propostas para a área", diz o estudo do DAPP.
Haddad, por sua vez, foi vinculado a discussões sobre as posições contrárias à reforma trabalhista e ao teto dos gastos públicos adotado no governo do presidente Michel Temer (MDB)
Propostas
Segundo Ruediger, os ataques pessoais têm perdido relevância e dado lugar a discussões sobre propostas concretas.
Para as próximas semanas, Ruediger enumera quatro frentes em que as discussões devem se desenvolver: o prosseguimento das investigações sobre as motivações do ataque a Bolsonaro, o crescimento de Ciro Gomes nas pesquisas e nas redes, já observado nas últimas semanas, o debate em torno da candidatura de Fernando Haddad, agora oficializado como candidato do PT à Presidência, e as estratégias de Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede) para crescerem nas intenções de voto.
À reportagem, o Twitter afirmou, em nota, que levantamentos sobre o impacto de automação indevida na rede social "levam em consideração apenas sinais externos e muito limitados, além de não considerarem as ações anti-spam da plataforma." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo..