Juiz de Fora – Nas investigações do ataque ao candidato Jair Bolsonaro (PSL) por Adelio Bispo de Oliveira, em Juiz de Fora (MG), entre as muitas perguntas à espera de resposta, uma torna-se relevante. Assim como não se sabe quase nada sobre o passado recente do agressor, por que ele teria se estabelecido numa cidade com a qual não tem vínculo familiar ou um trabalho e se há outros envolvidos no caso, se questiona especialmente a formação da equipe de advogados que representa Adelio no caso. São quatro profissionais envolvidos na defesa: Zanone Manuel de Oliveira Júnior, Fernando Costa Oliveira Magalhães, Marcelo Manoel da Costa e Pedro Augusto de Lima Felipe e Possa. Zanone, inclusive, usou um avião do qual é dono para deixar Belo Horizonte às pressas rumo a Juiz de Fora, onde participaria da defesa de Adelio.
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Em entrevista exclusiva ao Estado de Minas, porém, o advogado Marcelo Manoel da Costa colocou em xeque a versão do próprio companheiro de defesa. Segundo ele, a banca que trabalha no caso prioriza a “visibilidade”, e não o valor classificado como “irrisório”. “Tenho certeza de que não há participação política ou um grupo bancando nossos honorários. A visibilidade, para nós, é bem-vinda. Chegamos primeiro”, disse.
O advogado descartou qualquer participação de igrejas no caso, embora o acusado tenha dito que agira a mando de Deus. “Adélio usou essa frase como uma metáfora para falar de Jair Bolsonaro, que, na opinião dele, é lobo em pele de cordeiro e uma ovelha negra do rebanho. Disse ainda que não concorda com as ideias políticas do presidenciável, principalmente em relação aos negros e quilombolas.”
“Como já existe a confissão, acreditamos que estamos pisando num terreno bem confortável”, resumiu o advogado.
PARCEIROS No voo no dia seguinte ao ataque, Zanone Júnior teve a companhia do advogado Fernando Magalhães. Os dois se juntaram a Marcelo e Pedro Augusto na audiência de custódia em que foi definida a transferência de Adelio do Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (Ceresp) de Juiz de Fora para a penitenciária federal.
Zanone e Fernando são velhos parceiros. Os dois trabalharam juntos, por exemplo, na defesa do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, envolvido na morte de Eliza Samúdio, ex-namorada do ex-goleiro Bruno. Ambos advogam em Belo Horizonte e na região metropolitana da capital, mas não são do mesmo escritório. Os dois foram acionados por Marcelo e Pedro Possa, que são de Barbacena, também na Zona da Mata, e acompanham o caso desde o início.
Sobre o contato com os advogados para um caso de repercussão internacional, pois envolve um candidato à Presidência da República em primeiro lugar nas pesquisas, Marcelo explicou que o primeiro contato se deu por meio de um parente de Adelio, que fora aluno de Zanone, e telefonou para ele. A questão do pagamento será combinada depois”, disse o advogado.
ANDARILHO Adelio é natural de Montes Claros, no Norte de Minas.
Assim que chegou à Polícia Militar (PM) na quinta-feira, Adelio assumiu que esfaqueou Bolsonaro por motivações políticas e religiosas. “Esclarece que recebeu uma ordem de Deus para tirar a vida de Bolsonaro, haja vista que, embora ele (o presidenciável) se apresente como evangélico, na verdade não é”, lê-se em trecho do boletim de ocorrência.
De acordo com uma sobrinha de Adelio, ele se tornou missionário da Igreja do Evangelho Quadrangular há oito anos. Daí em diante, começou a vida de andarilho. “Ele sempre ficava viajando entre Uberaba, Uberlândia e Santa Catarina”, relatou a mulher ao EM.
Não há, entretanto, informação precisa a respeito de qual congregação teria bancado os advogados na defesa de Adelio. Outra versão indica que ele, na verdade, é testemunha de Jeová. Na tarde de ontem, o EM visitou igrejas nas proximidades da pensão em que Adelio morou em Juiz de Fora. Nenhum entrevistado confirmou ter visto o homem em encontros religiosos na região.
SILÊNCIO Se por um lado os advogados se contradizem sobre o financiador da defesa, por outro, conseguiram convencer antigos conhecidos de Adelio a adotar o silêncio durante o processo de investigação. Após seguidas entrevistas, familiares do acusado que vivem em Montes Claros se negaram a conversar com a reportagem com o intuito de “não atrapalhar as investigações”. “Só podemos dizer que não sabemos de nada”, disse uma sobrinha do agressor de Bolsonaro ao Estado de Minas.
Para evitar a insistência de repórteres e eventuais represálias, os familiares partiram para a zona rural do município. Apenas o pedreiro Eraldo Fábio Rodrigues Oliveira, de 47 anos, companheiro de uma sobrinha de Adelio, seguiu no imóvel na zona urbana. Ele se envolveu em uma briga com o acusado em abril de 2013. No boletim de ocorrência, a Polícia Militar relata que os dois se desentenderam por causa do não pagamento da conta de luz do barracão em que viviam. O caso foi tratado como uma ‘desavença familiar’.
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