O americano David Samuels estuda o sistema partidário brasileiro há duas décadas. Professor da Universidade de Minnesota (EUA), o brasilianista afirma que a polarização hoje no Brasil se dá não entre direita e esquerda, mas entre petistas e antipetistas - dois grupos de perfis semelhantes que, somados, representam quase a metade do eleitorado.
Ele também diz que os partidos ficaram em descrédito com os escândalos de corrupção, mas enfatiza que "a democracia precisa de partidos".
Samuels está no País para apresentar o livro que lançou nos EUA em parceria com o cientista político brasileiro Cesar Zucco Júnior, da FGV do Rio, sobre o comportamento do eleitorado e o sistema partidário brasileiro (Partisan, Antipartisans, and Nonpartisans - Voting Behavior in Brazil, ainda sem tradução).
O eleitor brasileiro é indiferente aos partidos ao votar?
Existe uma coerência do sistema partidário no eleitorado. Mais ou menos a metade pensa politicamente em termos de 'eu gosto ou não gosto do PT'. E a outra metade é, na maioria, não politizado, não partidário. Um grupo que não têm afinidade nem é contra partido algum. As qualidades pessoais dos candidatos e a performance do governo são importantes - por isso, dizemos que o candidato governista terá poucas chances nessa eleição.
Os partidos vivem seu pior momento no Brasil, depois dos escândalos de corrupção?
Todos partidos ficaram em situação de descrédito. A democracia precisa de partidos políticos. Esse é o problema da democracia. O eleitor não gosta de partidos, os partidos são de elites. E o eleitor não gosta de elites. Mas qualquer sistema político precisa de elites. Tem um amigo que diz 'olha, uma democracia precisa de partidos da esquerda e da direita'.
O Brasil vive um cenário de polarização excepcional?
Não é somente no Brasil que tem polarização, é no mundo inteiro. Nos últimos 30 anos, a economia brasileira tem mudado muito e isso deu vantagens para muita gente, mas também trouxe desvantagens para uma porção enorme da população. A precariedade de empregos cresceu, afetou a classe média, as pessoas que têm emprego no setor formal. E isso tem a ver com a política, com os padrões de atitudes políticas.
É uma polarização estilo democratas versus republicanos?
Mais ou menos dois terços ou três quartos dos partidários são petistas. Mas tem uma proporção grande do eleitorado brasileiro que é somente antipartidário, não tem partido que goste.
Qual o perfil do petista e do antipetista?
Eles não vêm de classes sociais diferentes. Não é que o antipetista seja da elite e o petista é pobre, da classe média e baixa. Uma pessoa politizada tem de ter um certo grau de educação, um desejo de se engajar na política. E, geralmente, essas pessoas são de classes socioeconômicas mais altas. São 20 milhões de antipetistas. Não podem ser só pessoas das elites.
A aliança do PSDB com o Centrão indica um alinhamento dos tucanos com a direita?
A moderação do PT fez o PSDB migrar mais para a direita. O PT era a esquerda, se moderou, mudou para o centro e ocupou o espaço do PSDB. O PSDB queria ser um partido de centro-esquerda, mesmo no momento de fundação. O PSDB tem dois problemas principais. Um é tentar tirar os eleitores do Bolsonaro e mostrar que é realmente conservador. O outro é como vai fazer campanha sem dizer que é governo hoje.
O PT vai sobreviver sem Lula?
Acho que sim, é uma questão aberta ainda. Bolsonaro tem fãs, mas não tem uma organização que dá apoio. É a fraqueza principal da campanha dele.
Nos EUA seria possível um candidato condenado e preso?
Acho que é coisa inédita no mundo. Acho que não aconteceria.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo..