Jornal Estado de Minas

Lacerda e Executiva Nacional do PSB entram em rota de colisão

O ex-prefeito de Belo Horizonte Marcio Lacerda (PSB) anunciou ontem a decisão de enfrentar a determinação da Executiva Nacional do PSB de retirada de sua candidatura ao governo de Minas.


Lacerda declarou a sua disposição de ir à convenção estadual amanhã por considerá-la soberana, determinado a homologar a indicação de seu nome para a sucessão estadual. Ele classificou de “truculento”, “antidemocrático” e “injusto” o acordo nacional entre PT e PSB – pelo qual o PSB em Minas e o PT em Pernambuco retiraram as candidaturas aos governos estaduais e os socialistas mantêm a neutralidade na disputa presidencial.

A disputa tende a ser judicializada, já que Lacerda anunciou a intenção de lutar “até o fim” por sua candidatura. Em nova investida no início da noite de ontem, o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, comunicou ao Tribunal Regional Eleitoral a destituição da comissão provisória do partido em Minas e a nomeação de outra, presidida por Renê Vilela e ligada ao deputado Júlio Delgado, adversário político do ex-prefeito e contrário à candidatura dele.

Segundo Siqueira, o acordo foi fechado porque Lacerda teria lhe dito, há três meses, que não pretendia concorrer ao governo de Minas e só mudara de ideia há duas semanas, com a aproximação do MDB. “Só quero dizer que a candidatura dele de faz de conta não existirá”, afirmou Siqueira, que ainda disse que o acordo nacional não prevê obrigatoriedade de coligação do PSB com o PT em Minas. “Lacerda decidiu ir para confronto, depois de combinar essa saída diferente”, afirmou ainda Siqueira, acrescentando que foi anunciada a coligação do PSB com o PT em Minas como parte do acordo nacional a pedido de Lacerda, para facilitar a sua desistência.

Sem deixar barato, Lacerda contestou a versão de Siqueira: “Jamais houve  acordo para manter uma candidatura de aparências. Tanto que, após este encontro, mantive a minha agenda de pré-candidato.

Visitei quase 200 cidades, neste período de pré-campanha”, afirmou em nota, acrescentando que, mesmo face ao noticiário nacional de que seria vice na chapa de Ciro Gomes (PDT), manteve a sua pré-candidatura e intensificou as negociações. Lacerda, que tinha a garantia de apoio do Pros e do PDT – e fechara na manhã de anteontem os detalhes da coligação com MDB, PV, Podemos e PRB, dialogava com o pré-candidato do DEM Rodrigo Pacheco e o PP no exato momento em que Siqueira chegou em BH para informá-lo da decisão nacional.

Estava no seu melhor momento de maior desenvoltura da pré-campanha, prestes a fechar a coligação que lhe garantiria o maior tempo de TV entre todos os candidatos, dando robustez à possibilidade de construção de uma terceira via à polarização entre as candidaturas do PT, do governador Fernando Pimentel e do PSDB, do senador Antonio Anastasia. “Nossa candidatura crescia e se fortalecia como terceira via muito viável dentro da tradicional polarização entre PT e PSDB que vem infelicitando Minas já há bastante tempo”, afirmou Lacerda.

Ainda que Lacerda venha a confirmar na Justiça a sua candidatura, ele admitiu que a movimentação do PSB nacional gerou insegurança para as coligações. Apesar disso, afirmou que PDT e Pros mantinham o apoio ao seu nome. Lacerda garantiu que em hipótese alguma apoiará o PT. Mas candidato ou não, disse que se envolverá na campanha, sinalizando, sem nominar, que apoiaria uma “terceira via” se não puder concorrer.

‘PODER DE APROVAR’ Segundo Siqueira a resolução aprovada no 14º Congresso Nacional do PSB, em março, dá à direção nacional poder de aprovar ou não as coligações em cada estado. “São coligações que têm de acontecer no campo da centro-esquerda.

Em todas as eleições, esse procedimento se repete, inclusive, em 9 de julho, enviei carta a todos os diretórios solicitando que encaminhassem as coligações em curso para análise da nacional e aprovação”, disse.

Mas, para o especialista em direito eleitoral João Batista de Oliveira, a convenção partidária é soberana e ninguém pode anulá-la, nem o diretório nacional o que permite a Lacerda manter a candidatura, já que, se desconhece que o congresso do PSB tenha publicado norma com essas informações. “E se não publicou, não tem validade alguma. Haverá a candidatura de Lacerda”, avaliou.

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