São Paulo, 26 - O juiz federal Sérgio Moro admitiu que o resultado das eleições deste ano está inserido no que ele chama de "risco de retrocesso" no combate à corrupção, simbolizado na Operação Lava Jato, destaca o jornal
O Estado de S. Paulo
. Moro disse que o País precisa "do exemplo de lideranças honestas" e "de políticas mais gerais para diminuir os incentivos e oportunidades da corrupção".
O magistrado participou nesta quarta-feira, 25, do Fórum Estadão Mais governança e mais segurança, promovido pelo
Estado
e realizado em São Paulo. Moro foi um dos debatedores do painel O Combate à Corrupção, do qual participaram o advogado criminalista Antonio Cláudio Mariz de Oliveira e o promotor de Justiça Marcelo Mendroni, do Ministério Público paulista.
Após a mesa, em entrevista ao jornal, o juiz disse que discussões como esta precisam ser feitas no período eleitoral, pois "a corrupção espalhada, disseminada e profunda" é um dos principais problemas que a sociedade brasileira precisa resolver.
"Minha ideia principal em relação a isso é, primeiro, a Justiça tem que funcionar. Então, pessoas culpadas têm que ser punidas, segundo o devido processo, mas não só isso é suficiente. Precisamos do exemplo de lideranças honestas e, por outro lado, precisamos de reformas de políticas mais gerais para diminuir os incentivos e oportunidades à corrupção."
Rumo
Moro observou que ainda existem processos pendentes de julgamento na Lava Jato e a expectativa é de que "cheguem a bom termo". "A dúvida é o que vai acontecer daqui para a frente. Vamos retomar aquela tradição de impunidade ou isso representou uma quebra significativa? Nessa perspectiva existe sempre um risco de retrocesso em relação a esses avanços.
Questionado, ele preferiu não comentar as declarações do candidato do PDT à Presidência da República, Ciro Gomes, que afirmou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - preso e condenado na Lava Jato - só terá chance de sair da cadeia se ele, Ciro, for eleito.
O pedetista disse em entrevista a uma emissora de TV do Maranhão, no dia 16, que é preciso "botar juiz para voltar para a caixinha dele, botar o Ministério Público para voltar para a caixinha dele e restaurar a autoridade do poder político".
Provocado sobre uma suposta intenção de se restaurar a autoridade política - expressão usada por Ciro -, Moro afirmou que não enxerga nenhum problema entre juízes e agentes políticos. "O que acontece nesses casos já julgados é que foi constatado que agentes políticos cometeram crimes e eles têm que pagar pelos seus crimes, como qualquer outro cidadão. Então, não existe nenhuma disputa fora desse nível, entre um juiz criminal e um agente político."
Segunda instância
A respeito da possibilidade de o Supremo Tribunal Federal rever o entendimento que autoriza a prisão após condenação em segunda instância, o juiz disse considerar "improvável".
Apesar dos diversos casos de corrupção na seara política e a extensão da Operação Lava Jato nos últimos anos, Moro manifestou otimismo. "Não se pode pensar que a solução para o Brasil é a fronteira ou o aeroporto. Não existe nenhum problema irremediável. Existem na história países que tiveram problemas sérios de corrupção, alguns até mais profundos que o Brasil, e conseguiram melhorar os seus níveis de governanças. Por exemplo, a Geórgia, a ex-República Soviética, os próprios Estados Unidos eram um país extremamente corrupto no início do século passado." As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo.
(Eduardo Kattah e Fausto Macedo).