A menos de três meses do primeiro turno das eleições, com o cenário já se desenhando, os chefes de governos estaduais que buscam se reeleger devem enfrentar dificuldades. Apesar de os índices elevados de sucesso nas últimas cinco disputas eleitorais mostrarem que mais de 60% dos governadores que tentaram continuar no posto conseguiram ser reconduzidos ao cargo, especialistas apontam que o continuísmo não será marca do processo eleitoral deste ano. Entre as principais barreiras dos governantes que postulam retornar ao cargo estão as acusações de corrupção, a rejeição à classe política, o desejo de renovação e a dificuldade fiscal enfrentada por muitos estados.
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STJ restringe foro para governadores e conselheiros de tribunal de contasGovernadores vão ao STF cobrar mais de R$ 100 bilhões da UniãoGovernadores são alvo de ações eleitoraisPara David Fleischer, cientista político e professor emérito da Universidade de Brasília (UnB), a conjuntura dessas eleições, em especial, será desfavorável ao continuísmo. “Tradicionalmente, o governador que tenta a reeleição tem a máquina a seu dispor. Este ano, será diferente, porque há uma ideia generalizada de que todos os políticos são corruptos.
Esquadrão
No Nordeste, as pré-candidaturas dos governadores petistas da Bahia, do Ceará e do Piauí vão contra a maré, e os atuais governadores Rui Costa, Camilo Santana e Wellington Dias se consolidam como favoritos. Os governantes petistas dos respectivos estados esperam não ser atingidos pelo momento delicado vivido pelo partido com a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e miram na desarticulação dos opositores. No estado baiano, o principal oponente do PT seria ACM Neto (DEM-BA), mas o atual prefeito de Salvador não demonstrou interesse em renunciar para compor a disputa.
Para o autônomo Paulo César Farias, 60 anos, eleitor da capital Salvador, Rui Costa conseguiu honrar o seu voto e, por isso, pretende reelegê-lo. “A maneira com que Rui trabalhou, principalmente na área de saúde, foi exemplar. A educação, como todas as gestões, deixou a desejar. Mas ele foi bem superior aos outros governadores, porque não é político. É administrador”, opina.
Seja pelo discurso, pela postura ou até pelo distanciamento da cena política, a tendência é que os candidatos se adaptem para conquistar o eleitor, que busca renovação.
Descrença
A maioria das pesquisas de intenção de voto apresenta números alarmantes que indicam a vontade do eleitor de votar branco ou nulo. Muitos deles também não sabem a quem vão conferir o voto. David Fleischer indica que as pesquisas pré-campanha, mesmo importantes para o direcionamento do contexto eleitoral, não são definitivas. “Devemos esperar a campanha começar, e os opositores serem definidos nas convenções. Muita água ainda vai passar embaixo da ponte”, pondera.
Mas a indefinição dos votos pode, de antemão, entregar a descrença do eleitor para estas eleições.
No Distrito Federal, um governador não é reeleito desde 1998, quando Joaquim Roriz recebeu a missão de assumir novamente o posto. Agora, em 2018, várias barreiras se impõem ao governador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), e os opositores torcem para que o cenário de não reeleição na capital se mantenha. Fleischer explica que Rollemberg assumiu o governo sabendo que enfrentaria dificuldades. “Ele tomou posse com uma bomba-relógio em cima dele. No último dia de mandato, o ex-governador Agnelo aumentou em 37% o funcionalismo público e isso comprometeu fiscalmente o governo”, explica.
De acordo com levantamento da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), em abril de 2017, os estados com pior situação fiscal eram Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Sem recursos para pagar funcionários, as gestões foram prejudicadas, muitas vezes, pelas restrições orçamentárias, que impossibilitaram a prestação de serviços públicos essenciais. Combinando gastos com pessoal e dívidas elevadas, os momentos de queda na receita, que vieram à tona principalmente no ano passado, resultaram em elevados deficits. As expectativas dos cidadãos, como a abertura de concursos públicos, por exemplo, acabaram não se concretizando.
O professor de ciência política da UnB Ricardo Caldas destaca que essa crise fiscal também prejudica as chances de reeleição no Distrito Federal.
Governadores-tampão
Em alguns estados, os atuais governadores não são cotados por serem ainda desconhecidos do eleitor. Os chamados “governadores-tampão” assumiram o cargo em abril devido à renúncia dos titulares que decidiram concorrer às eleições de outubro. É o caso de São Paulo, com Márcio França (PSB); Paraná, com Cida Borghetti (PP); e Rondônia, onde Daniel Pereira (PSB) assumiu o governo. Se optarem pela candidatura, podem ter o bônus de já estarem inseridos na gestão.
Nas eleições de 2014, o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (MDB), candidatou-se nessa condição. Pezão, que era vice, assumiu após renúncia de Sérgio Cabral e cresceu durante a campanha. Para a cientista política Denise Mantovani, o domínio da máquina pública é um facilitador principalmente devido às mudanças da legislação eleitoral, a qual, segundo ela, cria mecanismo que dificultam a entrada de novos postulantes.
* Estagiário sob supervisão de Rozane Oliveira
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