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Estado de Minas

Minoria absolouta no Congresso, atuação de deputados jovens revela perfil conservador

Análise dos 20 jovens eleitos em 2014 mostra que deputados com menos de 30 anos repetem antigos e nada fazem para mudar cenário no Congresso


postado em 17/06/2018 06:00 / atualizado em 17/06/2018 08:37

Nas votações em plenário, os deputados mais jovens, assim como os mais velhos, aprovam pautas conservadoras(foto: Earisto Sá/AFP - 15/4/16)
Nas votações em plenário, os deputados mais jovens, assim como os mais velhos, aprovam pautas conservadoras (foto: Earisto Sá/AFP - 15/4/16)

Brasília – Se a política é feita para definir o futuro dos jovens, não são eles que ocupam as principais cadeiras do país. Além da falta de voz dentro do cenário político, os que se destacam dos demais e conquistam uma vaga nem sempre pleiteiam mudanças no jogo. Apesar da idade, eles são “velhos” políticos, que reafirmam discursos conservadores e validam o status quo dentro do sistema. Dentro do poder, apenas seguem a corrente de pensamentos já existentes e deixam para trás um legado que poderia transformar o país.

As candidaturas de jovens dentro da política representam  parcela mínima do total. Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que, nas eleições de 2014, candidatos com menos de 30 anos não tiveram espaço. Aqueles que tinham entre 18 a 19 anos representavam 0,07%, enquanto apenas 2% tinham entre 20 e 24 anos. Os de 25 a 29 anos alcançaram 4,32%. Em 2016, por serem eleições municipais, o quadro melhorou, mas, ainda assim, o dado não foi otimista. A maior participação foi encontrada em jovens entre 25 a 29 anos, por exemplo, com 6,13%.

Entrar na política com menos de 30 anos não é um ato inédito, mas traz consigo uma série de características repetitivas de outras eleições. Isso porque, por mais que os jovens disputem o jogo eleitoral, são sempre os mais velhos que conduzem o poder, de forma oligárquica. O termo usado para esse tipo de gestão é gerontocracia, como explica o professor de sociologia e política Rodrigo Prando, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. “Temos um poder assentado pelos mais velhos. A estrutura política brasileira tem muita dessa gerontocracia. Os partidos políticos, em maior ou menor grau, não abrem espaço para os mais jovens. A política sempre foi algo a ser realizada pelos homens mais velhos”, afirmou.


PERFIL
Com poucas candidaturas, os dados dos eleitos na política também foram baixos. Em 2014, foram 64 escolhidos com menos de 30 anos. Ao todo, 44 ocuparam as vagas de deputados estaduais em todo o país, e 20 o cargo de deputado federal. Em 2016, na disputa municipal, esse número foi um pouco maior. Para o posto de prefeito, foram 137 eleitos, enquanto 4,3 mil vereadores tinham menos de 30 anos.

A poucos meses do fim da 55ª legislatura, a reportagem selecionou os 20 jovens eleitos em 2014 para o Congresso Nacional, para mapear o perfil deles, como chegaram até ali e se comportaram nas votações de pautas polêmicas nos últimos quatro anos. A característica mais interessante percebida foi que 90% são homens e também têm políticos dentro da família. A maioria também veio de estados do Nordeste (45%), seguido por Sudeste (25%), Norte (15%), Sul (10%) e, por último, Centro-Oeste (5%).

A reportagem também procurou processos judiciais contra eles. São três casos. Em termos de votação, os jovens também mostraram seguir os mesmos padrões dos mais velhos dentro do Congresso Nacional. Ao todo, 80% foram a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, mas, em contrapartida, a maioria votou para arquivar as denúncias contra o presidente Michel Temer. Enquanto 50% foi a favor do arquivamento, 40% votou contra e 10% se ausentaram da votação e ajudaram a livrar Temer. A intervenção federal no Rio teve o aval de 85%, e a reforma trabalhista, por 70%. Apenas 20% deles trocaram de partido mais de duas vezes durante o período.

PENSAMENTOS O poder dentro do país também se caracteriza como patriarcal, segundo Prando. É por causa desse caráter que os filhos de políticos tendem a votar como os pais votariam, e acabam repetindo os velhos pensamentos e no fim das contas, nada muda. “A configuração do poder no Brasil, sobretudo no Legislativo, é patriarcal. Não é apenas o pai, mas também é o homem quem manda. E, além disso, tudo é sempre o mais velho”, avaliou. É por isso, que na análise de Prando, infelizmente, os jovens só têm mais voz e espaço dentro da política quando têm sobrenomes de peso ou quando são apadrinhados por deputados poderosos. “No fundo, é por isso que parece ser ‘mais do mesmo’. Porque são sempre pessoas com políticos na família”, explicou.

Mas há chances para aqueles que querem se eleger sem sobrenome. O desafio é que os jovens não têm tradição de participar ativamente da política. “A descrença é generalizada. O jovem acredita que o espaço é vedado para ele. No fundo, ele pode muitas vezes ter interesse de mudanças e se comportar assim até um determinado momento, mas chega na fronteira e ele não vai, não avança”, completou. Para os que querem arriscar e colocar em prática as ideias de mudanças, o TSE aceita a candidaturas de pessoas com menos de 30 anos para os cargos de vereador, prefeito e deputados estadual e federal.


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