Jornal Estado de Minas

Bretas afaga Lula em depoimento; ex-presidente reclama de 'momento de denuncismo'

Rio - Usando terno e a mesma gravata com as cores do Brasil que vestiu na escolha do Rio para sede da Olimpíada de 2016, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva prestou seu primeiro depoimento após ser preso, na manhã desta terça-feira, 5. O depoimento, que durou cerca de 50 minutos, foi dado por videoconferência ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio.

De Curitiba, Lula falou como testemunha de defesa do ex-governador Sérgio Cabral (MDB), na denúncia do Ministério Público Federal (MPF) que analisa a compra de votos para a escolha do Rio. Lula e Bretas protagonizaram alguns momentos descontraídos durante a oitiva. O petista aproveitou uma das perguntas feitas pela defesa de Cabral para fazer críticas indiretas ao Ministério Público: "Estamos vivendo um momento de denuncismo."

E antes de ser interrompido por Bretas, destacou: "Só lamento que venha uma denúncia de corrupção de compra de membro de delegado oito anos depois. Eu sinceramente não sei quem fez a denúncia, não quero saber, não conheço, e como nós estamos vivendo um momento de denuncismo..."

Lula também negou que tenha ouvido falar a respeito de alguma negociata e transação ilícita envolvendo membros do Comitê da candidatura do Rio. "Alguém que fala que foi uma trapaça é porque não entende nada de nada e não viveu o que nós vivemos", disse.

Os momentos de descontração começaram logo no início do depoimento do ex-presidente, quando a câmera foi ligada e Lula perguntou: "Esse que é o Bretas?", ao que o juiz respondeu: "Cuidado que estou ouvindo, hein?". "Eu sei, estou vendo o microfone aqui na minha frente", disse o ex-presidente.

Ao final do depoimento, Bretas agradeceu a postura de Lula no depoimento e disse que ele era "uma figura importante no País". "Sua história é relevante para todos nós e, para mim inclusive, que aos 18, 17 anos estava aqui no comício na Presidente Vargas, com 1 milhão de pessoas usando boné e camiseta com o seu nome", disse o juiz, ao que Lula retrucou: "Quando eu fizer um comício agora, vou chamar o senhor para participar".
A fala foi seguida de risos de quem acompanhava o depoimento na sala de audiências da 7ª Vara.

O único momento de interação de Cabral e Lula, permitido na audiência por Bretas, foi quando o emedebista prestou condolências pela morte de Marisa Letícia. Lula também negou que tivesse relação íntima com Cabral e que o seu compromisso, no depoimento, "era com a verdade". "Não acredito que hoje um brasileiro esteja mais em busca da verdade do que eu. Estou cansado de mentiras", afirmou o ex-presidente.
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