O pensamento conservador ganha força no Brasil. A onda está se disseminando pelas ruas e ganhou eco em manifestações de apoio à intervenção militar. Embora a defesa de um regime liderado pelas Forças Armadas não encontre respaldo na própria cúpula do poder militar, especialistas avaliam que a tendência é de que o movimento fortaleça frentes parlamentares que atualmente dominam o Congresso Nacional, como a evangélica, a da segurança pública e da agropecuária, também conhecidas como bancadas da bala e ruralista. Atualmente, os integrantes das três respondem por cerca de 70% dos 513 deputados da Câmara.
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17 pré-candidatos: Centro e esquerda atuam por candidaturas únicasJosué Gomes trava acordo de Bolsonaro com o PRGovernadores são alvo de ações eleitorais“Eles (intervencionistas) têm a ideia mágica, pelo que eu já pude conversar com alguns deles, de que a intervenção militar resolve tudo. Eles não têm um projeto, mas consideram que uma base militar seria capaz de amenizar a angústia que sentiram nos últimos dias”, disse Baía.
Embora o professor da UFRJ avalie os pedidos por intervenção militar como uma onda com ideologias mais restritas que o movimento conservador, ele não descarta que os anseios de intervencionistas desaguarão em votos para candidatos conservadores, como o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ), pré-candidato à Presidência da República. O apelo pelo ex-militar também tende a favorecer candidaturas de aliados do parlamentar, em um efeito cascata. “As bancadas da bala, ruralista e evangélica têm um lastro social e certamente vão crescer em outubro, com esses votos e outros”, ponderou.
O crescimento da onda conservadora não é um fenômeno recente, mas ganhou força desde o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e dos escândalos de corrupção desbaratados pela Operação Lava-Jato, avalia o sociólogo e cientista político Alessandro Farage, coordenador da Instituto RioTech. “O brasileiro teve várias experiências traumáticas nos últimos anos. Uma crise econômica que elevou o desemprego e intensificou problemas de segurança pública, com ampliação de violência e crimes. Tudo isso em um cenário em que a esquerda ficou muito queimada pela forma como o PT saiu do poder, mas também pelo descrédito dos demais partidos”, analisou.
Posição privilegiada
A defesa da segurança e o discurso contra a corrupção ganharam o centro das atenções no discurso conservador. Por esse motivo, militares da reserva, policiais militares e trabalhadores ligados a essas categorias ganham posição privilegiada na pauta eleitoral, sobretudo candidatos mais personalistas, que apoiam agendas próprias, e não do partido.
Os evangélicos ganham eco em aspectos semelhantes, principalmente em eleitores que identificam a necessidade de defender assuntos ligados a questões morais e costumes, pondera o especialista.
Para o coordenador da Frente Parlamentar da Segurança Pública, deputado Alberto Fraga (DEM-DF), houve um enfraquecimento da esquerda. “A esquerda mergulhou o país na insegurança pública, na desmoralização e na inversão total dos valores. Tudo isso serve de bandeira para o crescimento de outras bancadas”, avaliou..