Mais uma vez, a realidade das estradas não reflete o acordo com representantes dos caminhoneiros anunciado na noite de domingo pelo presidente Michel Temer (MDB) e reforçado ontem pela equipe de ministros formada para as negociações. A distância entre as decisões dos gabinetes e a reação dos caminhoneiros nas estradas reflete a dificuldade de negociação com um movimento que se mostra pulverizado e sem representação. Caminhoneiros continuam parados e afirmam que o novo acordo assinado em Brasília não atende a categoria, que conversa pelas redes sociais, não concorda com redução do preço do óleo diesel por 60 dias e pressiona pela diminuição definitiva no valor do combustível.
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População está com medo, dizem especialistasMovimento dos caminhoneiros agora abraça pauta políticaGoverno enfrenta barreiras para encerrar greve dos caminhoneirosSenado aprova a reoneração da folha de pagamentoEm entrevista coletiva, o presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes, garantiu que a situação está se normalizando. A entidade havia se recusado a assinar o primeiro acordo, na sexta-feira, mas acatou o segundo. “Apesar de ainda não termos um número exato (sobre o total de caminhoneiros que já se desmobilizaram), dá para dizer que de 70% a 80 % já levantaram acampamento”, disse Lopes. A expectativa é de que a desmobilização seja concretizada até o fim de hoje.
Em Minas Gerais, a realidade é outra.
Segundo o caminhoneiro Alexandre Perreca, que está na mobilização na BR-381, em Betim, são milhares de caminhoneiros no trecho. “A gente achou que ia durar oito dias, já são oito. O povo da beira da rodovia está firme e forte”, conta Perreca, que diz não haver líder no grupo. “Aqui não tem liderança. Todo mundo é autônomo e está conversando pelas redes sociais, pelo WhatsApp”, disse. Segundo ele, as informações também chegam por meio da mídia.
O que se percebe é que, nessa avalanche de informações, elas acabam chegando de forma difusa. Um dos caminhoneiros disse que a greve continua porque a redução no preço do diesel foi insuficiente e o fim do pedágio para caminhões com eixo suspenso (sem carga) também não ocorreu. Temer, entretanto, anunciou na noite de domingo que o fim da cobrança pelo eixo suspenso em pedágios será matéria de medida provisória.
Em Montes Claros, no Norte de Minas, na BR-251, o caminhoneiro Eduardo, de 35 anos, está apoiando colegas parados na rodovia. Como mora na cidade, tem dado suporte a quem está parado na estrada, mas não assume qualquer liderança nem se sente representado por ninguém. “Ninguém me representa. Falo por mim e por minha família”, diz Eduardo, que prefere não revelar o sobrenome, afirma que a greve vai acabar somente quando o governo, de fato, atender às demandas da categoria.
ARTICULAÇÃO PELAS REDES SOCIAIS
A articulação tem ocorrido pela internet e por telefone. “Tenho amigos que estão em São Paulo, na Bahia. Todo mundo conversa”, explica. “Falo por mim. A redução do diesel será por 60 dias e isso não me atende por causa do prazo. Tem que ser definitivo. Se não mudar, vou ter que tirar meus filhos da escola particular, o plano de saúde deles”, afirma Eduardo, que também não concorda com o reajuste mensal do diesel depois da trégua dos dois meses.
Na BR-365 e na BR-251, em Montes Claros, o autônomo Luiz Carlos Caldeira reconhece que a falta de liderança do movimento dificulta o atendimento das demandas.
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