Jornal Estado de Minas

Caminhoneiros buscam apoio popular

Moradores de Ibirité, na Região Metropolitana de BH, fizeram manifestações de apoio aos caminhoneiros perto da Regap - Foto: PAULO FILGUEIRAS/EM/D.A PRESS
Pressionados pela ameaça de multas autorizadas pelo Supremo Tribunal Federal, os caminhoneiros completam uma semana de paralisação hoje com nova estratégia para dar fôlego ao movimento: a busca de apoio da população. A reportagem do Estado de Minas conversou com vários motoristas que apontam para a possibilidade de pelo menos dois caminhos de agora em diante: adesão de pessoas que não são caminhoneiros em manifestações a favor da categoria e manutenção da paralisação mesmo fora das rodovias.

“Acho que depois desse movimento que fizemos, está aberto o caminho para a greve geral. Cidadãos que não fazem parte do transporte já estão se unindo à nossa causa”, diz o caminhoneiro paulista Marcelo Oliveira, de 43 anos. Ontem, cerca de 100 moradores do Bairro Jardim das Rosas, em Ibirité, na Grande BH, se juntaram a motoristas que estavam parados na porta da Refinaria Gabriel Passos (Regap), em Betim, também na região metropolitana, e fizeram protesto a favor dos caminhoneiros. Eles percorreram a via de acesso à Regap e parte da BR-381, com uma faixa “Parabéns caminhoneiros. Guerreiros e patriotas”.

Depois de anunciar um acordo com nove entidades em Brasília, que não surtiu efeito para desmobilizar os caminhoneiros, o governo federal começou a colocar em prática determinação do ministro do STF Alexandre de Moraes, que autorizou o uso da força e aplicação de multa para empresas e caminhoneiros que continuarem mantendo caminhões parados nas rodovias.

Agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) disseram a um grupo de caminhoneiros parado ocupando a faixa da direita da BR-381, antes da Regap, que eles seriam multados se não retirassem dali os caminhões. Passadas duas horas, só restaram dois veículos no local, cujos motoristas não foram encontrados.
Segundo a PRF, as multas aplicadas levam em consideração o desrespeito ao Código de Trânsito Brasileiro (CTB) e não o valor de R$ 10 mil por dia conforme decisão do STF. Os valores das penalidades variam de acordo com o tipo de infração praticada.


“Não teve mudança nenhuma. Enquanto não abaixar o preço do diesel de forma definitiva, e não 30 dias como o governo anunciou que seria no acordo, vai ser assim. Combustível já não tem e agora vai aumentar a falta de outras mercadorias”, diz Lindomar de Oliveira, de 37 anos. “Não queremos briga, não vamos quebrar e não vamos fazer nada. A nossa ação é ficar parado. Não tem problema ser fora da rodovia.
Será que ninguém vai ser favorável a nós? Todo mundo vai morrer de fome? Do jeito que está, ninguém consegue rodar”, afirma Júnior Afonso, de 39 anos. A maioria dos caminhões que saiu da Fernão Dias antes da Regap foi para a via de ligação entre a refinaria e uma empresa particular ao lado da unidade da Petrobras. Motoristas disseram que também há espaços em pátios de empresas e postos de gasolina, que estão tomados às margens da Fernão Dias.

SEM REPRESENTAÇÃO
O caminhoneiro Ronaldo Marçal, de 35, que só roda com produtos em câmara fria, diz que a aplicação das multas não enfraquece a categoria. Pelo contrário, segundo ele, já que moradores de bairros da região da Regap disseram aos caminhoneiros que hoje podem aparecer para engrossar as fileiras de motoristas de veículos pesados. “Dependendo da quantidade de pessoas o movimento pode até ficar mais forte”, afirma. O caminhoneiro gaúcho Lucas Lemos, de 32, acredita que o movimento será mantido justamente pelo fato de nenhuma categoria os representar. Ontem, Lucas recebeu a notícia do nascimento de seu segundo filho. “Nossa parte estamos fazendo.
Aqui não tem líder e todos estamos indignados. Nós rodamos até 18 horas por dia e as pessoas não sabem o que passamos no dia a dia. Meu segundo filho nasceu e não estou em casa”, afirma ele..