São Paulo, 21 - Meses atrás, de longe, a onda parecia gigante e inevitável. Ao mesmo tempo em que a Operação Lava Jato abalava importantes figuras da classe política tradicional, pesquisas de opinião indicavam que a população estava disposta a votar em novos rostos. Identificados com esse sentimento, movimentos de renovação foram surgindo por todo o País - com estimativas positivas quanto à possibilidade de eleger "sangue novo".
Hoje, de perto, essa mesma onda ameaça chegar muito menor na praia eleitoral, correndo o risco de produzir apenas uma inofensiva espuma. "Entre o entusiasmo e a realidade existe um descompasso. O nosso sistema atua como desarticulador da mudança, e ele se blindou. Essa eleição vai trazer o menor índice de renovação da história. Com a reforma eleitoral, o Congresso já 'contratou' a eleição. Ou seja, todos os recursos serão alocados para reeleger os nomes de sempre ou seus apadrinhados", disse o especialista em Direito Eleitoral Luiz Fernando Pereira.
Com a restrição de recursos (o fundo eleitoral terá R$ 1,7 bilhão), um período menor de propaganda gratuita, a impossibilidade de candidaturas independentes e nenhum presidenciável outsider para fomentar a ideia do novo, os partidos devem concentrar a estratégia nos candidatos conhecidos para garantir a eleição.
Os próprios grupos de renovação já calibraram seus discursos. O otimismo do começo deu lugar ao realismo e às "perspectivas de longo prazo". Em setembro de 2017, o movimento RenovaBr, que oferece bolsa de estudos para candidatos ao Legislativo (federal e estadual), imaginava eleger de 70 a 100 nomes. Com o decorrer dos meses, as estimativas deixaram de ser públicas - e hoje giram em torno de 20% em um universo de 131 bolsistas elegíveis. Outro movimento de formação de líderes, a Raps, também falava em 60 a 80 deputados eleitos, mas, atualmente, já não tem divulgado projeções que possam, eventualmente, criar falsas expectativas.
Desistências
Alguns nomes que pareciam ter potencial eleitoral nem sequer estão dispostos a arriscar. Um dos casos mais marcantes é o de Rafael Parente, de 40 anos, filho do presidente da Petrobrás, Pedro Parente.
Pós-graduado em educação pela New York University (NYU), fundador de uma startup de educação, cofundador de um grupo de renovação (o Agora!) e com um relativo sucesso nas redes sociais (mais de 130 mil seguidores), ele parecia pronto para encarar o desafio de uma candidatura. Mas, desistiu.
O medo
Para a pesquisadora Beatriz Pedreira, do Instituto Update, essa ainda não será a eleição da renovação, "No começo, os grupos se empolgaram muito. Tinha aquela empolgação inicial do 'vamos salvar o Brasil'. Mas não será nesta eleição que a gente vai fazer a renovação que se imaginou no início do processo.
O Estado de S. Paulo.
(Gilberto Amendola).