Jornal Estado de Minas

Entrevista

'Vou fazer diferente do PT e do PSDB', diz Rodrigo Pacheco

 

De olho no desgaste político de tucanos e de petistas junto a segmentos do eleitorado no estado, o deputado federal Rodrigo Pacheco (DEM) também aposta na terceira via. E se até dezembro do ano passado ele era o nome da preferência do senador Antonio Anastasia (PSDB), agora Rodrigo Pacheco não abre mão de concorrer e, inclusive, enfrentar o tucano nas urnas.

Pacheco é um “novo” democrata: ele se desfiliou do MDB em março, porque à época a legenda pretendia reeditar a coligação com Fernando Pimentel (PT) e não lhe garantia a cabeça da chapa. Nas voltas que a política dá, o MDB rompido com o governo do estado, ensaia candidatura própria, assim como considera novas alianças, entre as quais, com o próprio DEM.

Advogado especialista em direito penal, aos 41 anos, Rodrigo Pacheco é  segundo pré-candidato entrevistado pelo Estado de Minas que vai ouvir os principais concorrentes ao governo. A primeira entrevista foi com o senador Antonio Anastasia (PSDB). Em primeiro mandato, Pacheco, que presidiu a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, responsabiliza petistas e tucanos pelo ambiente de hostilidade no país.


E reserva críticas aos governos de Pimentel e aos 12 anos da gestão tucana de Aécio Neves e de Anastasia.

“O inchaço da máquina pública, ou seja a quantidade de apadrinhados políticos, a quantidade de estrutura de estado, que acaba deixando o estado um elefante branco sem efetividade dos serviços públicos. Essa é uma crítica que faço a ambos governos. Vou fazer diferente do PT e diferente do PSDB. E nenhum dos dois corrigiu o déficit público”, afirma.

 

Quais são, em sua avaliação, os três principais problemas de Minas?
Para alcançarmos o desenvolvimento social, desenvolvimento humano e investir na educação, saúde e segurança, tripé que deve ser a prioridade de todo o governo, precisamos trabalhar pelo desenvolvimento econômico. É preciso tirar Minas do atraso, atraso sucessivo de décadas, para que o estado dê passo à frente e seja força motriz do Brasil. Temos condição pra isso na indústria, no agronegócio, nos serviços, no conhecimento que temos nas muitas faculdades e institutos técnicos. Precisamos realmente tornar Minas um celeiro de desenvolvimento econômico.

Para isso, o principal problema de Minas hoje é a falta de lideranças de expressão nacional para trazer recursos de investimentos da União e do setor privado. Um segundo problema, é a falta de planejamento de ações. É preciso sair do campo de discurso e realizar ações efetivas para se chegar ao equilíbrio fiscal, que é pressuposto do bem-estar de Minas e dos mineiros. Estamos com deficit público médio de R$ 7 bilhões, com projeção que supera os R$ 10 bilhões para 2019. Isso precisa ser corrigido, com planejamento, com crescimento econômico e arrecadação responsável e com a contenção de despesas supérfluas, não dos serviços públicos essenciais.

A tentativa de diversificação da economia mineira não é nova. Sucessivos governos vêm trabalhando para isso. O que fará diferente?
Ao liderar o processo de protagonismo de Minas Gerais, nosso estado deve ser uma voz determinante para que seja aprovada a Reforma Tributária em nível nacional. Em consonância com isso, queremos estabelecer um regime tributário em Minas, que mude o nosso atual status de segundo estado com maior carga tributária no Brasil.
Além disso vamos dar segurança jurídica para quem quer empreender nas relações com o governo. E queremos apresentar um ambiente de desburocratização, especialmente com aplicativos e a tecnologia para facilitar a vida do cidadão que quer gerar renda e emprego. Queremos atrair principalmente indústrias limpas, inovadoras, de conhecimento, de tecnologia, microeletrônico, diagnósticos de imagem, uma série de segmentos que vêm crescendo no mundo inteiro, sem contudo, abrir mão de nossa vocação. A mineração integra um rol de segmentos de indústrias que correspondem a 30% do PIB mineiro. Mas a mineração vive hoje um desprestígio político, porque nem na Agência de Mineração que foi criada temos um representante. Há inúmeros projetos de mineração que estão parados ou atrasados na Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Poderíamos estar gerando bilhões em receitas, obviamente respeitando o meio ambiente, respeitando as pessoas. Por outro lado, no agronegócio, somos carro-chefe no café, leite e cana-de-açúcar. E criando ambiente propício para quem queria produzir, a partir da integração entre a Secretaria de Agricultura e de Meio Ambiente, para facilitar a vida do produtor rural. E algo que é importante, é dar a ele segurança pública na zona rural, por conta dos constantes crimes praticados, o que acaba por inibir a vontade da pessoa de querer permanecer na zona rural.

O senador Antonio Anastasia (PSDB), pré-candidato ao governo de Minas, em princípio incentivou a sua candidatura.
Inclusive o sr. chegou a se desfiliar do MDB e ingressou no DEM porque não teve garantia no antigo partido de que seria indicado candidato. Como está a sua relação com Anastasia, agora que será seu adversário? Há possibilidade de uma composição com o PSDB?

De fato, até há pouco tempo eu tinha o apoio pessoal dele. Sei que não era a maioria do PSDB, mas era a posição dele em relação à nossa pré-candidatura. Mas pelas circunstâncias, ele decidiu também ser candidato a governador. O que fica é o respeito mútuo, mas a firmeza da minha pré-candidatura. Seremos adversários.

Por que ele mudou de ideia, ficou mágoa?
Não ficou mágoa alguma. Vamos fazer disputa sadia, no campo das ideias, e cada um mostrando o projeto que tem para Minas, pois o meu é um projeto de futuro.

Pelo momento, as pesquisas sugerem uma possível polarização entre o governador Fernando Pimentel (PT) e o senador Antonio Anastasia (PSDB). Mas como ambos também sofrem um desgaste político em Minas, é possível que se abra espaço para uma candidatura de terceira via. Na tentativa de assumir essa posição, há também o ex-prefeito Marcio Lacerda (PSB).

Em sua opinião, haverá espaço para o crescimento de duas candidaturas fora do eixo PT-PSDB?
Acho que seria muito ruim para Minas uma polarização entre PT e PSDB, sem uma alternativa de terceira via. Se mais de um candidato representa essa terceira via, que bom. Vamos então para a disputa, para o campo das ideias. Deixa iniciar a campanha, fazer os debates, as entrevistas, percorrer o estado, e o eleitor terá opção entre 4, 5, 6 candidaturas em que votar. Esses arranjos pragmáticos no campo eleitoral para diminuir o número de candidaturas, para minar outras candidaturas, são antidemocráticos e desatendem aos interesses de mineiros, que precisam ter opção na hora do voto.

Que avaliação faz do governo de Marcio Lacerda à frente da Prefeitura de Belo Horizonte?
Houve pontos positivos e pontos negativos. Agora uma coisa é administrar a prefeitura da capital, da qual normalmente os prefeitos saem muito bem avaliados. Outra coisa é administrar o segundo estado da federação, que é um estado endividado, com uma crise enorme, e que precisa ter realmente um planejamento muito eficaz e força política para resolver.

E o sr. dará conta dessa tarefa?
Tenho absoluta convicção disso, senão não seria candidato.

Que avaliação faz do governo Fernando Pimentel?
Faço avaliação ruim. Há uma sucessão de erros. Falta de planejamento, falta de liderança, falta de comprometimento com questões básicas do estado, atraso de salários dos servidores, não repasse de recursos que pertencem aos municípios, confisco de depósitos judiciais. Uma sucessão de malfeitos, que acabam por deixar o governo sem uma marca, sem uma bandeira, sem uma realização para Minas Gerais.

E que avaliação o sr. faz do governo Aécio-Anastasia no período tucano em Minas?
Estou há três anos e meio na política, exatamente o tempo do Pimentel no governo do estado. A avaliação que faço desse período tucano é como cidadão, não como político. Acho que foram governos melhores do que o atual, em termos de planejamento e de gestão. Mas foram governos que olharam mais números do que pessoas. Em que o PSDB se parece muito com o PT? O inchaço da máquina pública, ou seja a quantidade de apadrinhados políticos, a quantidade de estrutura de estado, que acaba deixando o estado um elefante branco sem efetividade dos serviços públicos. E nenhum dos dois governo corrigiu o déficit público. Essa é uma crítica que faço a ambos governos. Vou fazer diferente do PT e diferente do PSDB.

Qual é o possível campo de alianças com que trabalha? Já tem vice para a chapa?
Neste momento temos conversas adiantadas com PP, o Avante, o PTC, o PEN e o PMB, além da coesão do nosso partido, o DEM, em torno da candidatura própria. Mas ultimamente temos mantido relação mais próxima com o meu antigo partido, o MDB e o Solidariedade do ex-presidente da Assembleia Dinis Pinheiro. Esses partidos podem eventualmente compor sim, a chapa majoritária. Mas a indicação do vice, vagas do Senado vai depender da concretização da coligação.

Antes no MDB e agora no DEM, o sr. é base política do governo Michel Temer na Câmara dos Deputados?
Não me considero base do Temer. Sempre fui um deputado independente. Até porque fui eleito com o apoio dos 93 mil votos sem ajuda de governo nem ajuda de partido. Sempre votei segundo a minha consciência, o que ela me impunha para o país.

O sr. votou favoravelmente ao processo de impeachment, apontado por acadêmicos e diversos setores da sociedade como um golpe também parlamentar. Qual foi a sua motivação para apoiar o afastamento de Dilma?
Foi um processo jurídico e político e a minha convicção foi formada levando em conta entendimento da OAB e a orientação do meu partido político. Eu ainda considero que havia necessidade do impeachment pela falta de condições pessoais da presidente Dilma de continuar. Votei como votaria hoje. Mas de fato devo reconhecer, que houve sim certa má vontade da Câmara para com a presidente Dilma. Houve mesmo. Talvez um outro presidente, com maior capacidade de articulação, poderia ter evitado…

Da mesma forma como Michel Temer evitou na Câmara dos Deputados as denúncias apresentadas contra ele pelo Ministério Público Federal?
São situações diferentes. Uma era o impeachment, que cassava. E a outra era a admissibilidade de duas denúncias, de natureza criminal, que voltarão a correr em 1º de janeiro de 2019. Foram situações diferentes, mas são situações que demonstram que a força política de Temer no Congresso era maior do que a de Dilma.

Em sua avaliação, ficará mais difícil governar o Brasil e governar os estados, no sentido de que o futuro presidente e governadores estarão mais reféns dos Legislativos? Os demais Poderes também andam se atropelando...
Sim. Acho que há um descumprimento dos papéis individuais dos Poderes. O STF interfere muito no papel dos outros poderes. Há uma interferência desmedida e descabia do Judiciário na política. É justamente a judicialização da política, como existe também a politização do Judiciário, que são fenômenos que precisam ser combatidos, a partir de mecanismos de controle e de cumprimento da Constituição. Também o Executivo respeita pouco o Legislativo, que por sua vez não tem a sustentação de base que é da opinião pública e da sociedade, que não o legitima. Se não houver conscientização e amadurecimento das instituições para cada um cumprir o seu papel com serenidade vamos ter mais dificuldades no Brasil. Atribuo grande responsabilidade ao que está acontecendo hoje ao PT e ao PSDB, que criaram esse ambiente de hostilidade no Brasil. Do “nós contra eles”, que é algo que tem feito atrasar muito o desenvolvimento do país.

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