São Paulo, 02 - A renúncia do governador Geraldo Alckmin no dia 6 de abril para disputar a Presidência da República será acompanhada pela saída de tucanos históricos que se alinharam com seu sucessor no governo, Márcio França (PSB).
A cúpula do partido teme também uma debandada na base e ameaça expulsar prefeitos e lideranças locais que apoiarem o atual vice em vez de subir no palanque do prefeito João Doria, pré-candidato tucano.
"Os prefeitos que apoiarem candidatos de outros partidos enfrentarão um processo de expulsão", disse ao Estado o presidente do PSDB-SP, deputado estadual Pedro Tobias.
O caso que causou mais surpresa na cúpula partidária foi a saída do líder do governo na Assembleia, Barros Munhoz, que migrou do PSDB para o PSB. "A candidatura do França é mais consistente que a do Doria. O prefeito não cumpriu o compromisso que tinha com o povo de São Paulo", afirmou o deputado.
Barros Munhoz deixa o PSDB após 15 anos, período no qual foi duas vezes presidente da Assembleia Legislativa e líder dos governos José Serra e Geraldo Alckmin. "A maioria dos prefeitos do interior tem muito mais identidade com Márcio França do que com o João Doria", disse líder do governo.
Munhoz também acredita que a "grande maioria" dos líderes do PSDB na base vão apoiar o pessebista. Um dos prefeitos que está radar do PSDB é Ortiz Jr., de Taubaté, que declarou apoio a Márcio França.
Inédito
Nos mais de 20 anos de administração tucana em São Paulo, essa será a primeira vez que um governador de outro partido disputa a reeleição no cargo.
Nos últimos meses, o vice-governador se aproximou de prefeitos e deputados do PSDB que rejeitam a opção de lançar o prefeito João Doria na disputa.
O presidente do PSDB-SP disse que até o momento dois deputados estaduais já o comunicaram que vão deixar o partido. Além de Barros Munhoz, à caminho do PSB de Márcio França, o Coronel Telhada vai para o PP. A expectativa no próprio PSDB, porém, é que pelo menos cinco dos 19 deputados da bancada mudem de legenda.
"Quem sair vai pagar na eleição. Os votos deles são tucanos", afirmou Tobias.
Outro tucano histórico que deixou o PSDB e se alinhou com França foi o vereador da capital Mário Covas Neto. Filho do ex-governador Mário Covas e tio do futuro prefeito, Bruno Covas, ele vai disputar o Senado pelo Podemos e fazer campanha para França.
O anúncio será feito em um evento no próximo dia 3 que contará com a presença do senador Álvaro Dias, pré-candidato à Presidência da República pelo Podemos. "Estou vivendo outro momento da minha vida. Minha candidatura não será contra os tucanos, mas à favor do Álvaro Dias e do Márcio França", disse Covas Neto.
A campanha de Doria também não deve contar com o apoio de líderes históricos do PSDB que se tornaram desafetos do prefeito.
Esse é o caso do ex-senador José Aníbal e do ex-governador Alberto Goldman.
Segundo aliados, o senador José Serra também não demonstra entusiasmo com o candidatura de João Doria.
O principal "trunfo" de Doria na velha guarda do partido hoje é o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes. O chanceler assinou a lista de apoio ao prefeito nas prévias e deve apoiá-lo na campanha.
Tucanos próximos a Doria minimizam a saída de deputados e consideram um exagero falar em "debandada". Há no entorno de Doria ceticismo em relação à participação de Alckmin na campanha.
Eles esperam, porém, que o governador, na posição de presidente do PSDB, repasses recursos para a campanha do prefeito ao Palácio dos Bandeirantes.
A uma semana de deixar o cargo, Alckmin fez no sábado passado afagos a França na inauguração da linha do trem que liga São Paulo a Guarulhos.
O evento teve clima de comício com a participação de França. No palco, prefeitos fizeram discursos que exaltaram a parceria entre eles. A transferência do cargo será feita em um evento na sexta-feira no Palácio dos Bandeirantes.
A coligação de França para a disputar as eleições já contaria com 13 partidos, segundo o vice-governador: PSB, PV, PPS, PR, PHS, PSC, PROS, Avante, Solidariedade, Podemos, PPL, PRP e PMB. As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo.
(Pedro Venceslau e Adriana Ferraz).