Laranjeiras do Sul, PR, 01 - Trafegar pela Rodovia PR-473 exige atenção redobrada. A pista simples ladeada em sua maior parte por mato alto e árvores está por vezes ocupada por indígenas da Aldeia Rio das Cobras. Muitos são os jovens da etnia Guarani e Kaingang que usam as margens e o asfalto para brincadeiras e como ponto de encontro para bate-papos; alguns pedem esmola, outros vendem artesanato. Na terça-feira, no entanto, a chuva, que desde o fim de semana era ininterrupta, fizera a maioria deles se abrigar na aldeia. Ninguém viu, no fim da tarde, a longa caravana passar por ali em uma velocidade maior do que a costumeira. Estava atrasada.
Cerca de 70 quilômetros, com duas cidades no meio, separam Quedas do Iguaçu de Laranjeiras do Sul. E foi nesse trajeto - mesmo que a polícia nem ninguém saiba exatamente em que altura -, que teriam sido disparados ao menos três tiros contra a caravana de Lula. É também a ausência da informação sobre o ponto específico em que os disparos teriam acontecido, além da falta de testemunhas, que dificultam a investigação policial.
Na quinta-feira, 29/03, equipes da Delegacia de Laranjeiras, onde foi instaurado o inquérito para apurar o caso, estiveram na PR-473. Na altura da ponte sobre o Rio Despedida, tentaram encontrar algum rastro do crime, mas saíram de mãos vazias. As buscas se concentraram onde os passageiros de um dos ônibus estimaram que o ataque teria acontecido: cerca de dez minutos depois que o comboio deixou Quedas do Iguaçu. O estampido baixo se assemelharia ao choque de uma pedra contra a lataria, coisa que a caravana já havia enfrentado pelo trajeto. A polícia pediu ainda as imagens do pedágio situado na BR-277, onde também trafegou a caravana. E ainda espera o resultado da perícia, prevista para sair nesta semana.
Tanto moradores de Quedas como de Laranjeiras definem as cidades em que vivem como pacíficas. A polícia confirma: os chamados para a 2.ª Companhia, do 16.º Batalhão da PM, em Laranjeiras são mais comuns para briga entre vizinhos por causa de som alto e para casos da Lei Maria da Penha.
Apoio
Na sexta-feira, Pedro Campos, de 61 anos, passeava com um amigo na praça da cidade. Para ele, o ataque que teria ocorrido à caravana não representa o sentimento predominante na população local. "Lamento o que aconteceu porque aqui há muita gente que gosta dele", disse, para ser complementado pelo amigo, o aposentado Jorge Freitas, de 75: "Foi o melhor presidente. Deus ajude para que eu possa votar nele de novo, e vou votar de consciência tranquila".
A região abriga grandes assentamentos de sem-terra, como o Celso Furtado, onde 1.098 famílias ganharam o título de propriedade em 2004. Quem está à frente dele é o vereador pelo PT Claudelei Lima, de 39 anos. Mais do que ser o vereador mais votado da história de Quedas do Iguaçu, Lima se tornou conhecido ao ser empossado no interior da Penitenciária Industrial de Cascavel.
Ele é investigado pela Operação Castra, da Polícia Civil, sob acusação de furto, roubo, invasão de propriedade, cárcere privado e porte ilegal de arma na invasão de uma fazenda.
Lima foi solto em maio passado e responde agora ao processo em liberdade. Na varanda de sua casa, logo na entrada do assentamento, ele tem um panfleto de campanha onde se lê: "Tô com Lula".
O Estado de S. Paulo.
(Marco Antonio Carvalho, especial para O Estado).