Jornal Estado de Minas

Nova direita quer expandir rumo ao Congresso


Da internet e dos institutos para os gabinetes da política formal. É essa a escalada que os movimentos da nova direita pretendem trilhar em 2018, ano em que brasileiros elegerão deputados, senadores, governadores e presidente. “Não estamos aqui só para falar ideias. É fundamental que o Congresso tenha liberais e acredito que, em 2018, conseguiremos colocar mais de 20 e, espero, que 30 deputados ligados a nossa causa. É uma coisa fenomenal, inacreditável”, afirma o empresário Hélio Beltrão, do Instituto Mises Brasil.

Para alcançar esse patamar, os adeptos à corrente de direita flertam, principalmente, com o Partido Novo, registrado em 2015 e considerado pela maioria o único “partido liberal” por essência. Com 17 mil filiados, o Novo foi fundado por pessoas sem carreira política. O advogado e professor Mateus Simões conseguiu cruzar essa fronteira e foi um dos quatro políticos eleitos pela legenda no último pleito, em 2016. Vereador em Belo Horizonte, ele se considera o primeiro a ser abertamente liberal no cargo.

Simões coordena grupos de estudo e é palestrante em vários eventos de institutos liberais.
“Quase todos os liberais que entram na política, hoje, passam por algum dos institutos. Tenho relação com quase todos eles”, afirma. Para o vereador, é importante que liberais ocupem cargos políticos. “A não ser que os liberais estejam satisfeitos em serem apenas acadêmicos, é preciso que entremos na política. As transformações sociais passam sempre pela política e estou convicto de que em 2018 teremos uma bancada liberal no Congresso”, diz.

Mas há também nomes ligados à direita que estão tentando entrar na política em partidos já antigos, casos como o de Fernando Holiday no DEM ou Paulo Eduardo Martins, no PSDB. “Vários grupos procuram partidos políticos para servirem de veículos de candidatura, apenas. Em resumo, os movimentos percebem que a chance de produzir impacto é entrando na política.
E, para isso, fazem uso de um ‘puxadinho eleitoral’ para concorrerem. É menos importante que alguém seja do DEM do que ele seja do MBL, por exemplo”, argumenta o coordenador do Centro de Pesquisa em Justiça e Sociedade da Fundação Getulio Vargas, professor Michael Mohallem.

Para ele, há vantagens e desvantagens na prática.“Isso força os partidos a criarem esse espaço para abrigar essas figuras. Força uma discussão interna. Nenhum partido sobrevive a longo prazo sem renovação de suas lideranças. O lado negativo é que esses movimentos se tornam mais fortes que o partido, enfraquecendo-os ainda mais. Creio que está por vir, também, uma ultraespecialização partidária e o advento de micropartidos. Cerca de 70 partidos estão aguardando o processo para registro, por exemplo”, explica.

Ser liberal é nova moda

Segundo o professor, “a bola da vez é o discurso liberal”. “Ser progressista foi moda nos últimos 15 anos na política.
Mesmo um partido conservador, como o PP, adotava essa pauta, esse discurso. Agora, a moda é o liberal”, diz Mohallem. A tendência ganha adesão especialmente entre os jovens, historicamente associados à esquerda. Estudo divulgado pela consultoria de pesquisa Consumoteca entrevistou 3 mil brasileiros, entre 17 e 21 anos, e apontou que 8% se declaram de esquerda, contra 12% de direita.

Para Mohallem, o engajamento da juventude é um fenômeno global, consequência no desgaste de movimentos de esquerda. “Pensando na situação brasileira, a maior parte dessa geração está na universidade, abaixo dos 30 anos e, quando começou a ganhar consciência política, já convivia com um governo do PT, de esquerda. Um governo que teve êxitos, críticas e que foi marcado pela discussão da corrupção. A resposta dessa juventude, que, como qualquer outra, tende a ser ‘anti status quo’, é ser contra. É normal que surjam novos espaços de pensamento fora da centro-esquerda”, comenta.

*Estagiário sob supervisão do editor Renato Scapolatempore

 

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