Brasília, 04 - O protagonismo exercido por militares no governo de Michel Temer tem gerado incômodo nos corredores do Palácio do Planalto. A proximidade do presidente com a caserna ganhou papel de destaque após a intervenção no Rio, em que deu a um general a tarefa de tentar controlar a violência no Estado, e ao nomear outro para comandar interinamente o Ministério da Defesa.
A reação, ainda velada, vem de auxiliares e aliados, que argumentam não ser bom para o presidente ter a sua imagem atrelada a dos militares. Contudo, o que tem mais pesado é o temor de perderem espaço político ao lado de Temer com a ascensão de generais a postos estratégicos. Atualmente, um dos principais consultores do presidente é o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Sérgio Etchegoyen.
Temer, porém, tem afirmado em resposta às desconfianças que é preciso acabar com o "preconceito" em relação às Forças Armadas. Argumenta que eles deveriam "estar mais presentes na administração do País".
Ao menos no caso do Ministério da Defesa, Temer tem sido pressionado a rever a indicação do general Joaquim Silva e Luna, primeiro militar a chefiar a pasta. A intenção do presidente era mantê-lo no cargo, mesmo como interino, até o fim do mandato, mas nos últimos dias já admite substituí-lo por um civil.
O afago de Temer aos militares não se restringe a mais espaço na administração. Em 2017, o valor repassado para a Defesa a título de custeio e investimento voltou a crescer após dois anos de queda. Foram R$ 20,5 bilhões, ante R$ 18,9 bilhões em 2016 e R$ 19,6 bilhões em 2015.
A boa relação é ainda anterior, antes mesmo de o emedebista assumir a Presidência.
'Convocação'. Unânimes em rechaçar a intenção de busca de protagonismo, chefes militares consultados pelo Estado admitem que a maior participação no governo coloca as Forças Armadas em evidência.
Em entrevista ao Estado, Silva e Luna afirmou que "os militares não querem protagonismo" e verbalizou a preocupação com o uso das tropas federais em ações de segurança pública. O ministro fez questão de lembrar ainda que os militares não pediram para assumir protagonismo, mas foram "convocados".
Outro general em evidência, o Secretário Nacional de Segurança Pública, Carlos Alberto dos Santos Cruz, avalia que a busca por militares na administração se dá porque "as características da profissão (militar) estão em alta no mercado, que são honestidade e eficiência". Para ele, as pressões pela troca de Silva e Luna atendem a "um posicionamento mais filosófico e ideológico do que prático" e afirmou que isso "é puramente discriminatório".
Intervenção.
"Temos plena consciência dos riscos e que isso pode afetar a imagem e a nossa credibilidade. Mas confiamos na nossa experiência e no apoio, inclusive dos outros poderes, para, embora o espaço de tempo seja curto, colocar o Rio em uma situação aceitável em termos de segurança pública", disse o general de Exército da reserva, Augusto Heleno, considerado uma referência entre os militares.
Oficiais afirmam que, mesmo que a intenção do presidente seja utilizar o prestígio dos militares para melhorar a sua imagem tendo em vista o processo eleitoral, dependerá dos resultados obtidos. E alertam que, em caso de fracasso, a influência pode ser negativa. As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo.
(Tânia Monteiro).