O desencanto esquentou os tamborins, virou samba e, sob o tom de uma crítica bem-humorada, invadiu a pauta da final do 7º Concurso de Marchinhas Mestre Jonas, que será hoje, a partir das 19h, durante baile no Mercado Distrital do Cruzeiro. Sem papas na língua, oito dos dez finalistas fazem troça com membros do Poder Judiciário e ocupantes do Palácio da Alvorada. Não pouparam ironias às classes média alta, empresarial e movimentos financiados por partidos políticos que fazem vistas grossas aos escândalos de corrupção envolvendo os atuais governantes. E fecharam a folia escancarando a mágoa belo-horizontina com as promessas de um metrô que se alongam por 30 anos.
“Abram alas pra esse cortejo tão funesto, diabos vestem togas e terno, é a marcha do assombração”, desafia na “Marchinha da Assombração”, o carnavalesco Gustavo da Macedônia. “O vampiro, o covarde mestre salas, se esconde na Alvorada, sangue de pobre que é bom”, continua ele. “Sorria, vais trabalhar noite e dia, a sua aposentadoria, vai ser na outra encarnação”, debocha.
Se as críticas dirigidas ao presidente da República não nominaram Michel Temer, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes é a vedete de outras marchinhas. Se nas redes circula com força a marchinha “Alô, alô Gilmar, vem me soltar”, para a final do concurso foi selecionada a “Dancinha da Tornozeleira”, inspirada nos habeas corpus concedidos pelo ministro ao ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho; ao ex-ministro dos Transportes Antonio Carlos Rodrigues, presidente do PR; e ao empresário Jacob Barata Filho, o ‘rei do ônibus’. É da Orquestra Royal a composição: “Começou o carnaval do Gilmar, liberou a brincadeira, quero ver quem vai dançar, a dancinha da tornozeleira (…) Cuida da Rosinha, adula o angorá, libera o Barata, faz acordo com Jucá”.
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O “mito” Bolsonaro, assim chamado por seu eleitorado cativo, terá motivos para gritar.
O metrô de Belo Horizonte, uma promessa recorrente em anos eleitorais, também ganhou samba no pé, na composição “Esperando o metrô”. A finalista dá o seu recado: “Há tempos tô esperando, esperando o metrô, eu era criancinha, hoje eu sou avô, eu era criancinha de colo, quando o governo anunciou, que o metrô ia chegar ao Barreiro, tem mais de 30 anos e ainda não chegou”. E prossegue: “Será que vem? Acho que não! Dizem que é culpa da inflação, cadê a verba? Desapareceu! Será que está em Brasília ou o gato comeu?”.
Para embalar
Veja trechos de algumas das finalistas do concurso e de outras marchinhas “politicas”
A dancinha da tornozeleira
Começou o Carnaval do Gilmar
Liberou a brincadeira
Quero ver quem vai dançar
A dancinha da tornozeleira
Relaxa o Garotinho
E solta o bicudo
Abraça o mineirinho
com o Supremo com tudo
Bolsomico
Tem que ter QI de mico
Pra ficar lambendo bota de milico
Cérebro de periquito
Pra chamar esse boçal de mito
É melhor Jair, Jair embora
Sair correndo para a aula de história
É melhor Jair, Jair embora
E leve o prefeito Dória
Alô, Alô, Gilmar
Alô, alô, Gilmar
Eu tô em cana
Vem me soltar
Marchinha da Assombração
Abram alas
pra esse cortejo tão funesto
diabos vestem togas e terno
é a marcha do assombração
O vampiro
o covarde mestre salas
Se esconde na Alvorada
Sangue de pobre que é bom
“Não fale em crise, trabalhe!”
Esperando o Metrô
Há tempos estou esperando, esperando o metrô
Eu era criancinha, hoje sou avô
Há tempos estou esperando, esperando o metrô
Eu era criancinha, hoje sou avô
Será que vem, será?
Dizem que é culpa da inflação
Cadê a verba? Desapareceu
Será que está em Brasília ou o gato que comeu?
Ouça as dez finalistas:
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