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Estado de Minas

A crise e os extremistas


postado em 24/01/2018 11:05 / atualizado em 24/01/2018 11:10

(foto: Arte/Soraia Piva)
(foto: Arte/Soraia Piva)

O extremismo e o fanatismo tomaram conta da cena política brasileira. É muito difícil encontrar outra conjuntura tão polarizada como a que vivemos. Também – outra triste constatação – é raro um momento tão pobre no campo ideológico. O acirramento dos ânimos é produto do fígado e não do cérebro. A racionalidade é cada vez mais escassa. O que vale é a indignação – vazia e sem perspectiva, que se encerra em cima mesma.

Parte deste processo é consequência do longo domínio petista. O projeto criminoso de poder – célebre definição do ministro Celso de Mello em um dos votos na Ação Penal 470, o processo do mensalão – destruiu não só o aparelho de Estado, como também a política. Ao organizar o maior desvio de recursos públicos da história, o PT – tendo à frente Luiz Inácio Lula da Silva – juntamente com partidos aliados, seus comparsas, desmoralizou a política como espaço indispensável para viver em sociedade e, mais, como instrumento essencial da democracia. É óbvio constatar que sem política não há democracia.

Em meio aos escombros do petismo, a sociedade civil reagiu e enfrentou os marginais do poder – outra feliz expressão cunhada pelo decano do STF durante o julgamento do mensalão. O impeachment foi uma vitória popular, uma das maiores – se não for a maior – do Brasil republicano. Ocorreu apesar do desinteresse manifestado pelos partidos políticos. Somente quando as ruas impuseram o impeachment como principal móvel de luta foi que o Congresso Nacional assumiu a bandeira até aprová-la.

Supunha-se, pelas primeiras declarações de Michel Temer, que o novo governo seria composto por notáveis, escolhidos entre os melhores de cada área. Que cortaria o número de ministérios e despetizaria a estrutura de Estado. Nada disso ocorreu. A ampla maioria dos petistas continuam nos seus cargos, o número de ministérios permaneceu o mesmo e, ao invés de notáveis, o país teve de engolir Geddel Vieira Lima, Leonardo Picciani, Henrique Alves, Moreira Franco, entre outros exemplos do que há de pior na vida pública brasileira.

Lideranças expressivas da oposição acabaram atingidas pela Operação Lava-Jato. Sinalizou para a sociedade que todos eram iguais: os petistas, os que ascenderam ao governo Temer e figuras importantes que, no Congresso (e alguns, fora dele), assumiram a defesa do impeachment de Dilma Rousseff. Deixou no eleitorado um gosto amargo: como explicar que os dois finalistas do processo eleitoral presidencial de 2014 trataram a coisa pública da mesma forma? Foram destinados a eles mais de 100 milhões de votos! Para que? Para nada?

Neste contexto é inevitável o surgimento do salvador da Pátria. E em um país sem tradição de organização político-partidária, tudo fica mais fácil. Ao demonizar a política o caminho fica aberto também para as soluções extremistas. Aos grandes problemas nacionais são apontadas soluções simples e radicais. Não há elaboração de propostas. Não. Tudo se resume a vontade do dirigente. Basta querer, que tudo se resolverá. Ao líder são imputas qualidades quase que divinas. Ele tudo sabe. Os que o atacam não devem ser ouvidos – e, se possível, eliminados. Não se convive com a pluralidade. Pelo contrário, luta-se pela vontade única – a imposta pelo líder. O cidadão deixa de ser cidadão. Transfere ao líder a responsabilidade de enfrentar os dilemas nacionais. A ação política individual, fruto da reflexão, deixa de existir. Não há reflexão. Não é preciso. O líder tudo sabe e tudo faz.

Os extremismos à direita e à esquerda têm hoje a preferência do eleitorado. Ao menos é o que indicam as pesquisas. È compreensível frente a maior, a mais extensa e a mais profunda crise política do Brasil republicano. A desmoralização das instituições é um elemento aglutinador para os radicais. A cada decisão que viola o interesse público, o extremista comemora. A sua razão de ser é exatamente esta. Se tivéssemos o pleno funcionamento do Estado democrático de Direito e uma elite político-administrativa comprometida com os valores nacionais, o extremismo seria carta fora do baralho eleitoral, mero exotismo.

O perigo do extremismo é transformar a disputa eleitoral em uma guerra. Ao invés de adversários – como é comum numa democracia - construir inimigos – e com inimigos não se convive. O ódio passa a ser o elemento motor. A exclusão do outro precede o ato de simplesmente ouvir. A desqualificação antecede o argumento. A divergência é substituída pela raiva. O conhecimento é substituído pela ode à ignorância. E o líder personifica este desejo do seu eleitorado. Isto acaba levando o discurso político para uma linguagem de sarjeta e os estereótipos se transformam verdades objetivas.

Enfrentar os extremismos é o grande desafio, não só do processo eleitoral, mas de viver numa democracia. É possível vencê-los?

 


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