Temer vai processar Joesley após entrevista

Presidente da República diz que empresário é o mais notório bandido da história do país e rebate acusações

Flávia Ayer
Presidente Temer manteve a agenda e viaja hoje para a Rússia e a Noruega - Foto:

Em reação às declarações do empresário Joesley Batista à revista Época, o presidente Michel Temer informou que vai processar o delator, a quem chama de “bandido notório de maior sucesso na história brasileira”. Batista acusa Temer de ser “o chefe da organização criminosa mais perigosa do Brasil”. O presidente cogitou o cancelamento de viagem oficial à Rússia e à Noruega por causa da repercussão da entrevista, mas decidiu manter a agenda e embarca para a Europa amanhã deixando o país em chamas. Em nota divulgada pelo Palácio do Planato, Temer acusa Joesley de proteger “os reais parceiros de sua trajetória de pilhagens" e os "grandes tentáculos da organização criminosa" que ele ajudou a forjar, numa referência ao PT. Segundo o empresário na entrevista, o partido foi responsável por institucionalizar a corrupção no país.

O texto da Presidência afirma que Joesley, um dos donos do grupo J&F, controlador da JBS, é o "bandido notório de maior sucesso na história brasileira" e que ele "desfia mentiras em série" na entrevista. Amanhã, a Presidência da República vai protocolar ações civil e penal contra Joesley Batista. “Suas mentiras serão comprovadas e será buscada a devida reparação financeira pelos danos que causou, não somente à instituição Presidência da República, mas ao Brasil", informa a nota.

Na entrevista de 12 páginas, Joesley afirma que o presidente “não era um cara cerimonioso com dinheiro” e conta que o ex-deputado Eduardo Cunha cobrava propina em nome de Temer. Segundo ele, o presidente era o “superior hierárquico” de Cunha e o líder da Orcrim, sigla de organização criminosa da Câmara.

“O Temer é chefe da Orcrim. Temer, Eduardo, Geddel (Vieira Lima), Henrique (Alves), Eliseu (Padilha) e Moreira (Franco). É o grupo deles. Quem não está preso hoje está no Planalto. Essa turma é muito perigosa. Não pode brigar com eles. Nunca tive coragem de brigar com eles”, afirma Joesley.

A nota do Planalto retruca a parte da entrevista em que Joesley diz que Temer sempre pedia algo a ele nas conversas que tiveram. "Não é do feitio do presidente tal comportamento mendicante. Quando se encontraram, não se ouve ou se registra nenhum pedido do presidente a ele. E, sim, o contrário", completa. Segundo o texto, era Joesley quem queria resolver seus problemas e que, ao ir ao Palácio do Jaburu, reclamou de diversos órgãos do governo.

O Planalto afirma que, na gravação, ao delatar o presidente, o empresário "confessa alguns de seus pequenos delitos" e alcançou, com isso "o perdão por todos os seus crimes". O texto destaca que o grupo JBS obteve seu primeiro financiamento no BNDES em 2005, ou seja, na gestão petista. Dois anos depois, teve faturamento de R$ 4 bilhões, valor que saltou para R$ 183 bilhões em 2016, o que o Planalto atribui a uma relação construída com governos do passado, antes da chegada de Temer, ainda nas gestões do PT.

O texto acusa ainda o empresário de ter vazado o conteúdo da delação para obter "ganhos milionários com suas especulações" e causou prejuízo de quase R$ 300 bilhões.

"Os fatos elencados demonstram que o senhor Joesley Batista é o bandido notório de maior sucesso na história brasileira. Conseguiu enriquecer com práticas pelas quais não responderá e mantém hoje seu patrimônio no exterior com o aval da Justiça. Imputa a outros os seus próprios crimes e preserva seus reais sócios", completa.

A nota lembra ainda que Joesley obteve perdão por seus delitos e ganhou prazo de 300 meses para devolver o dinheiro da corrupção. "Pagará, anualmente, menos de um dia do faturamento de seu grupo para se livrar da cadeia. O cidadão que renegociar os impostos com a Receita Federal, em situação legítima e legal, não conseguirá metade desse prazo e pagará juros muito maiores", completa. O presidente embarca amanhã para agenda bilateral Rússia e Noruega, onde fica até dia 23, sexta. (Com agência)

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