Pela primeira vez, Moro e Lula se encontram pessoalmente

Petistas querem transformar evento em comício. Movimentos contrários querem tranquilidade para o juiz

Paulo de Tarso Lyra Guilherme Mendes - especial para o EM
- Foto: AFP / ANDRESSA ANHOLETE / Alex Silva

Brasília – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá de mostrar, na quarta-feira, em Curitiba, se ainda tem lenha suficiente para queimar na tentativa de voltar ao Palácio do Planalto em 2019. Pela primeira vez desde que se tornou alvo das investigações da força-tarefa da Lava-Jato, Lula estará diante daquele que elegeu seu principal algoz: o juiz Sérgio Moro. A militância petista se prepara há duas semanas para acompanhar o ídolo. Vaquinhas estão sendo feitas nos sindicatos e movimentos sociais. “Do ponto de vista jurídico, esse depoimento deve mudar pouca coisa. O peso desse encontro é, acima de tudo, político”, definiu o professor de ciência política da Fundação Getulio Vargas Sérgio Praça.


Por isso, a ênfase de Lula em tentar transformar o evento em um espetáculo. Os advogados de defesa entraram com um pedido para que o depoimento seja transmitido ao vivo. Pediram também que haja uma câmera voltada para o juiz Moro, em vez do formato tradicional, no qual só se ouve a voz do magistrado e a imagem que aparece na tela e a do depoente e de parte dos advogados.

“Nos moldes em que atualmente é captada a imagem, focando a câmera exclusivamente os acusados, não há registro fidedigno de todo o ato processual, na sua inteireza e, assim, viola-se a garantia constitucional da presunção de inocência”, alegam os advogados.

“A intenção, com a filmagem dessa forma, é registrar o ato de maneira mais fidedigna do que a anteriormente adotada, quando o depoimento era redigido, bem como para permitir que se observe as expressões faciais e corporais daquele que traz a sua versão dos fatos ao juízo”, rebateram os procuradores. “Queremos uma transmissão ao vivo por causa do histórico de vazamentos seletivos. Nossa garantia é que, aquilo que ele falar, não seja manipulado e que as pessoas possam ouvi-lo na íntegra”, explica o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), que estará em Curitiba para acompanhar o depoimento. Até o fechamento desta edição não havia resposta quanto ao pedido.

O ângulo da filmagem é apenas um dos muitos embates que ocorrerão até quarta e durante o depoimento. Aliados do ex-presidente Lula afirmam que a tendência é de que ele aumente o tom do confronto, como se tivesse, de fato, em um comício ou debate eleitoral. Buscará, de todas as formas, vitimizar-se e dar um arcabouço político ao processo jurídico que enfrenta”, completou um estrategista petista.

DELAÇÕES Na última sexta-feira, mais um prego foi enterrado na cruz lulista. O ex-diretor da Petrobras Renato Duque falou claramente, em depoimento, que Lula sabia do esquema de corrupção na Petrobras, que comandava tudo e ainda o alertou para não manter contas no exterior para o recebimento de propinas. Some-se a isso a delação de Marcelo Odebrecht, que afirmou ter pago R$ 150 milhões em caixa 2 para campanhas petistas, e do ex-presidente da OAS Leo Pinheiro, que afirmou que o triplex do Guarujá e o sítio de Atibaia pertencem ao ex-presidente.

“O Lula está muito tranquilo, tem plena consciência de que não fez nada de errado. O próprio Maluf desqualificou o triplex do Guarujá, afirmando que eram três casas do Minha casa, minha vida, uma em cima da outra”, brincou o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP). Mas há quem prefira manter a cautela. Analistas ligados ao PT afirmaram, confidencialmente, que Moro é um juiz experiente, à frente da Lava-Jato há três anos, e dificilmente cairá nas armadilhas que serão preparadas pelo ex-presidente.

IDIDCIDADE DIVA A Secretaria de Estado da Segurança Pública do Paraná (Sesp-PR) se preparou para o depoimento de quarta-feira com a mesma estratégia adotada em grandes eventos esportivos. Os grupos de apoio ao ex-presidente Lula ficarão na Região Central da cidade e o antagônico, no Centro-Cívico. O expediente será suspenso em toda a Justiça Federal no dia da oitiva e só entrarão no prédio pessoas envolvidas diretamente no depoimento.
A segurança interna será feita pela Polícia Federal e a Polícia Militar vai isolar um perímetro de 150 metros ao redor para evitar a aproximação de manifestantes. Só entrarão na área isolada moradores e profissionais da imprensa previamente cadastrados. Homens do Exército já estão na cidade para ajudar.

A expectativa de movimentos pró-Lula é reunir 30 mil pessoas na terça e na quarta, com atos políticos, conferências, plenárias, vigílias e atividades culturais. Do outro lado, movimentos contrários ao ex-presidente Lula esperam mobilizar cerca de 10 mil. A ideia é confrontar os petistas, mas sem criar tumulto, pois não querem desviar a atenção de Moro em um momento considerado, por eles, um dos mais importantes da história da operação. (Colaborou Matheus Teixeira)

 

 

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