Tribunal de Contas de Minas paga diárias para curso no exterior em janeiro

In­ves­ti­ga­do por sus­pei­ta de ir­re­gu­la­ri­da­des em be­ne­fí­cio, TCE pa­ga R$ 10 mil pa­ra pro­cu­ra­dor es­tu­dar em Por­tu­gal

Alessandra Mello

Prédio do Tribunal de Contas: inquérito do Ministério Público apura possíveis desvios na concessão de recursos para viagens de conselhieiros - Foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press


Não são ape­nas os con­se­lhei­ros do Tri­bu­nal de Con­tas de Mi­nas Ge­rais (TCE-MG) que re­ce­bem diá­rias pa­ra es­tu­dar no ex­te­rior. Os pro­cu­ra­do­res do Mi­nis­té­rio Pú­bli­co de Con­tas de Mi­nas Ge­rais, ór­gão au­xi­liar do TCE-MG, tam­bém têm di­rei­to à re­ga­lia, ins­ti­tuí­da por meio de uma re­so­lu­ção edi­ta­da pe­lo TCE-MG em se­tem­bro de 2014.

Um dos be­ne­fi­cia­dos é o pro­cu­ra­dor Mar­cí­lio Ba­ren­co Cor­rêa de Me­llo, que, no pe­río­do de 1º de ja­nei­ro a 2 de fe­ve­rei­ro des­te ano re­ce­beu R$ 10.787,84 pa­ra fa­zer um cur­so de “dou­to­ra­men­to em ciên­cias ju­rí­di­cas” em Por­tu­gal.

Além des­sa aju­da, cal­cu­la­da em dó­lar e sem ne­ces­si­da­de de apre­sen­ta­ção de no­tas fis­cais de des­pe­sas, o pro­cu­ra­dor tam­bém re­ce­beu R$ 30,4 mil de sa­lá­rio, des­con­ta­das to­das as con­tri­bui­ções e im­pos­tos.

As diá­rias de via­gem são mo­ti­vo de po­lê­mi­ca no Tri­bu­nal de Con­tas des­de o co­me­ço de 2017. Na pri­mei­ra ses­são do tri­bu­nal, em fe­ve­rei­ro, o con­se­lhei­ro Li­cur­go Mou­rão in­si­nuou a exis­tên­cia de ile­ga­li­da­des na con­ces­são des­se au­xí­lio pa­ra cur­sos no ex­te­rior pa­gos pe­lo tri­bu­nal.

A par­tir dis­so, es­ses pa­ga­men­tos pas­sa­ram a ser al­vo de um in­qué­ri­to aber­to pe­lo Mi­nis­té­rio Pú­bli­co Es­ta­dual (MPE) pa­ra apu­rar pos­sí­veis ir­re­gu­la­ri­da­des na con­ces­são des­ses re­cur­sos den­tro do tri­bu­nal. Mas de acordo com o TCE-MG, esse inquérito, que estava sob a responsabilidade da pro­mo­to­ra do Pa­tri­mô­nio Pú­bli­co Eli­sa­be­th Cris­ti­na dos Reis Vi­le­la, já foi arquivado, pois não foram encontrados indícios de irregularidades e nem de danos ao erário. Elas tam­bém são in­ves­ti­ga­das pe­la Cor­re­ge­do­ria do TCE-MG, a par­tir de um re­que­ri­men­to fei­to pe­lo pró­prio Li­cur­go Mou­rão.

O pa­ga­men­to des­sas diá­rias ao pro­cu­ra­dor foi pu­bli­ca­do sex­ta-fei­ra pas­sa­da no Diá­rio de Con­tas, ór­gão ofi­cial do tri­bu­nal sob o tí­tu­lo de “de­mons­tra­ti­vo com­ple­men­tar de con­ces­são e pa­ga­men­to de diá­rias do TCE­MG, re­la­ti­vo ao mês de ja­nei­ro de 2017”.

O qua­dro ori­gi­nal com as des­pe­sas de ja­nei­ro, sem os gas­tos de Ba­ren­co, foi pu­bli­ca­do em 24 de fe­ve­rei­ro por de­ter­mi­na­ção do no­vo pre­si­den­te do TCE-MG, Cláu­dio Cou­to Ter­rão que, en­tre 2014 e 2015, re­ce­beu, além dos ven­ci­men­tos, cer­ca de R$ 101 mil em diá­rias pa­ra tam­bém fa­zer um cur­so em Por­tu­gal.

De­sem­bol­so al­to


De acor­do com a as­ses­so­ria do tri­bu­nal, o pe­río­do de du­ra­ção do cur­so que o pro­cu­ra­dor faz na Eu­ro­pa vai de ou­tu­bro de 2015 a ou­tu­bro do ano que vem, mas ele só tem di­rei­to a 90 diá­rias de via­gem.

O tri­bu­nal não in­for­mou quan­to ele já re­ce­beu até ago­ra pa­ra fa­zer es­se cur­so, mas, le­van­do em con­ta o va­lor atual do dó­lar e o que diz a re­so­lu­ção, ele po­de re­ce­ber até R$ 122 mil em diá­rias pa­ra fa­zer cur­sos de aper­fei­çoa­men­to fo­ra do Bra­sil, além do sa­lá­rio men­sal de cer­ca de R$ 31 mil.

Em de­zem­bro, no Por­tal da Trans­pa­rên­cia, foi re­gis­tra­do um pa­ga­men­to do mes­mo va­lor do re­ce­bi­do por ele em diá­rias.

Ao to­do, Ba­ren­co re­ce­beu ano pas­sa­do um to­tal de R$ 49.180,16 em diá­rias. A maior par­te des­ses va­lo­res é pa­ra par­ti­ci­pa­ção em cur­sos, mas o por­tal não re­ve­la se fo­ram fei­tos no Bra­sil ou no ex­te­rior.

Ano pas­sa­do, o TCE-MG gas­tou 
R$ 1.222.088,02 pa­ra pa­ga­men­to de diá­rias de 219 ser­vi­do­res, in­cluin­do con­se­lhei­ros e in­te­gran­tes do MP de Con­tas. Em 2015, a des­pe­sa com a ru­bri­ca foi de R$ 1.275.317,84.

Es­te ano
, o tri­bu­nal já gas­tou R$ 71.911.214,73. O pro­cu­ra­dor, que en­trou no MP de Con­tas em 2011, não foi lo­ca­li­za­do pe­la re­por­ta­gem pa­ra co­men­tar as des­pe­sas..