Jornal Estado de Minas

Haddad tem pior votação do PT em São Paulo

São Paulo, 03 - O prefeito Fernando Haddad obteve no domingo, 2, a pior votação de um candidato do PT em São Paulo. Atribuída ao voto antipetista, a derrota agrava o racha interno no partido, que pode levar a nova debandada de seus quadros, e escancara uma crise sem precedentes na legenda.

Haddad chegou a dizer a amigos que, se perdesse a eleição, deixaria a vida pública e voltaria a ser professor universitário. A frase foi entendida como um recado de que o prefeito também pode sair do PT, partido com o qual teve ruidosos atritos ao longo de sua gestão. "Não tem nada disso", afirmou ele. "Fico onde estou."

A queda do PT da Prefeitura foi comparada pela cúpula da sigla a um desastre tão grande quanto o impeachment da presidente Dilma Rousseff, há pouco mais de um mês. Sem a "joia da coroa", como o governo da capital é conhecido, o PT fica ainda mais fragilizado para a disputa do Palácio do Planalto, em 2018. Pior: não tem plano B para substituir o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que é réu na Operação Lava Jato e pode virar "ficha-suja", se for condenado em segunda instância.

Na prática, o PT foi massacrado nesta eleição. Perdeu até mesmo a prefeitura de São Bernardo do Campo, cidade que é o berço político do partido.

A derrota em São Paulo, porém, foi a mais sentida de todas. Desde 1992, o PT nunca ficou fora do segundo turno. Ao receber 16,7% dos votos válidos, Haddad ficou atrás até mesmo de Eduardo Suplicy, que, ao enfrentar Jânio Quadros na disputa pela Prefeitura, em 1985, chegou à marca de 19,75%. Na eleição de domingo, 2, porém, Suplicy foi o vereador mais votado no País, com 301.446 votos.

Questionado se os escândalos de corrupção do PT e o impeachment de Dilma influenciaram na derrota de Haddad, Suplicy foi taxativo: "Certamente houve um efeito."

De qualquer forma, embora o resultado da disputa para prefeito exponha as dificuldades que o PT terá para retomar o protagonismo no cenário nacional, o desfecho não representa uma surpresa, tendo em vista a baixa taxa aprovação de Haddad ao longo de toda a gestão.

"O governo não teve a fervura que deveria ter para responder à conjuntura e dialogar com a cidade", disse o deputado Vicente Cândido (PT-SP), coordenador do programa de governo de Haddad.

Para os críticos de dentro e de fora do PT, as urnas apenas escancararam a "preferência" do prefeito pelo chamado centro expandido, região que concentra os bairros mais valorizados. "Faltou uma marca forte na periferia para mostrar agora, como faltou a presença pessoal mais intensa dele no nosso cinturão vermelho nesses quatro anos", afirmou um dirigente do PT, numa referência aos extremos da cidade que historicamente votavam 13.

Fatores

Na avaliação de aliados, o estilo de governar de Haddad foi o que mais pesou para o seu fracasso. "A gente cansou de falar, mas ele nunca ouviu. Achou que poderia reverter essa rejeição durante a campanha.
Falava para a gente que o tempo de TV lhe daria a oportunidade de explicar tudo o que havia feito na cidade. Não deu", resumiu um vereador.

A relação com o PT sempre foi um problema. Desde o início do ano, candidato e partido entraram em conflito. Haddad queria Luiz González, que se notabilizou pelo trabalho com candidatos tucanos, no comando do marketing da campanha. O PT barrou, sob o argumento de que o marqueteiro cobrava muito caro. A saída foi contratar Angela Chaves, diretora da Link Propaganda.

Angela foi bombardeada desde as primeira reuniões por esconder a estrela do PT na propaganda de Haddad e pelo slogan "diferente". Em conversas reservadas, petistas reclamavam do mau humor do candidato em eventos públicos e da pouca preparação para os debates. No da TV Globo, considerado decisivo, Haddad se preparou apenas com Angela e com o vice, Gabriel Chalita.
Para dirigentes petistas, as falhas ficaram claras no ar. Outra crítica, tornada pública por Lula, foi o fato de Haddad se recusar a se licenciar do cargo para se dedicar exclusivamente à disputa.

Para a oposição, o prefeito ficou fora porque não soube reagir aos percalços de seu primeiro ano de gestão. Com apenas cinco meses de experiência no cargo, Haddad precisou enfrentar ruas tomadas por uma multidão que exigia um recuo em relação ao aumento da tarifa de ônibus de R$ 3 para R$ 3,20.

Liderados pelo Movimento Passe Livre (MPL), os protestos ganharam força, se alastraram pelo País e fizeram Haddad se aliar ao governador Geraldo Alckmin (PSDB) para fazer o que assegurava que não faria: revogar o reajuste.

Cinco meses depois, Haddad aprovou uma alta de até 35% no valor do Imposto Predial de Territorial Urbano (IPTU). E, de novo, teve de voltar atrás, dessa vez por determinação judicial.

Polêmicas

A resposta de Haddad começou a ser vista nas ruas. Não pela sua presença em agendas externas - a escolha de permanecer mais tempo no gabinete perdurou durante todo o mandato -, mas por suas medidas polêmicas.

Com pouco apoio da população, o prefeito resolveu colocar seu plano em prática: tirou espaço dos carros para dar aos ônibus com a instalação de 423 km de faixas exclusivas, pintou 354 km de pistas em vermelho para atrair ciclistas e reduziu a velocidade nas marginais ao mesmo tempo em que quase dobrou o número de radares. As informações são do jornal

O Estado de S. Paulo..