Brasília, 26 - Desde o último dia 9, quando começou a fase da pronúncia do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff no Senado, o ministro Ricardo Lewandowski, quatro assessores e três juízes auxiliares se acostumaram a deixar o Supremo Tribunal Federal após as 22 horas. Lewandowski acumula as presidências do STF e do processo de afastamento de Dilma.
Até o início da semana, era depois das sessões da Corte, que vão até as 18 horas, que os trabalhos na presidência do impeachment começavam. Na reta final, chegou a se distrair em um debate constitucional com os outros ministros: "Desculpem, estou com uma questão importante do impeachment", justificou-se. Desde quinta-feira, 25, Lewandowski dedica o dia todo às sessões no Senado.
A nomeação ao Supremo pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006, e sua atuação no processo do mensalão - do qual foi revisor e fez contraponto ao relator Joaquim Barbosa - renderam a Lewandowski, 68 anos, uma imagem de magistrado ligado ao PT. O ministro virou até boneco inflável levado nas manifestações contrárias ao governo Dilma. O "Petrolowski" é um boneco com a imagem do ministro segurando uma balança - o prato que carrega a estrela do PT pesa mais do que o que leva a bandeira do Brasil.
Processo histórico
No dia seguinte à fase da pronúncia, o gabinete de Lewandowski recebeu ligações de parlamentares pró-impeachment, que o elogiaram. "Parece até que ele está do nosso lado", cochichou um tucano graúdo "Para ele, é mais um processo", disse um assessor no tribunal sobre a metodologia de trabalho. Outra fonte de sua confiança refez a frase: "Para ele, é 'o' processo".
A assessores próximos, Lewandowski confidenciou: o impeachment é um processo histórico e qualquer desvio da linha da isenção e da legalidade ficará registrado no futuro.
Consciente do tamanho do impeachment na história - e em sua biografia - Lewandowski externou ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o desejo de que o processo se encerrasse antes de sua saída da presidência do STF, no próximo dia 12.
Se de um lado Lewandowski cuida para não pender aos apelos de aliados de Dilma, de outro, preocupa-se em não dar margem à tese de que há um golpe no afastamento da petista.
Diálogo
Ao Congresso, Lewandowski costuma apelar por um "acordo de damas e cavalheiros". Descendente de suíços e com educação rigorosa, o ministro relatou a assessores que um dos momentos de maior desconforto é cortar o microfone de parlamentares que se excedem, como fez com Gleisi Hoffmann (PT). Quinta-feira, 26, chegou a suspender a sessão por 5 minutos após bate-boca entre senadores. Também se irritou com o fato de senadores terem aproveitado o momento de questionar testemunhas para defender posições políticas.
"Nós temos que evitar isso. Eu tenho procurado não ser o censor dos eminentes integrantes desta elevada Casa, mas vejo que, se assim continuarmos, vamos ingressar madrugada adentro, vamos ocupar todo o final de semana", disse após fala do tucano Cássio Cunha Lima.
Ao Senado, Lewandowski fez um único pedido: um local para usar no curso do processo. A sala de Jorge Viana (PT), vice-presidente da Casa, foi cedida. Lá conversa com assessores, come e se abriga das selfies do senador Magno Malta (PR).
Há especulação sobre um acordo com o Planalto para a aposentadoria precoce. Em troca, estaria a indicação a um órgão internacional. Assessores dizem que ele continua no STF - e com currículo atualizado, no qual deixa para trás os votos de absolvição de petistas no mensalão e conclui o impeachment de Dilma. As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo..