Novas empresas e personagens aparecem na Operação Mar de Lama, a força-tarefa que prendeu 16 pessoas, entre políticos e executivos, acusados de corrupção e desvio de dinheiro público em Governador Valadares, no Vale do Rio Doce. Omir Quintino, apontado como um dos cabeças da organização criminosa, agora é suspeito de receber propina em torno de meio milhão de reais da Velp, empresa que atua no ramo de tecnologia e que não figura no inquérito da Polícia Federal nem na denúncia do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG).
O delator disse que teve conhecimento de que Omir, que ocupou o cargo de diretor-geral do Saae até maio último, quando foi preso, recebeu a propina em duas ocasiões. A primeira, no valor de R$ 100 mil, teria sido embolsada há cerca de cinco anos, quando o contrato entre Saae e a Velp foi assinado. Já no primeiro trimestre de 2016, época em que o serviço foi renovado, a quantia teria sido de R$ 300 mil.
A transcrição da delação diz que “o colaborador tem conhecimento de que Omir recebeu, inicialmente para fechar o contrato, o valor de R$ 100 mil, a título de propina”. A licitação, ainda segundo Jefferson, teria sido direcionada: “(...) Outra empresa apresentou proposta, mas fazia parte do esquema e serviu apenas para legitimar o processo”.
Já no primeiro semestre deste ano, quando o contrato foi renovado entre o Saae e a prestadora de serviço, Jefferson afirmou que ouviu de um amigo em comum com o ex-diretor-geral que um representante da “Velp trouxe para Omir o valor aproximado de R$ 300 mil, a título de propina, quando houve o reajuste do contrato, há cerca de dois meses”.
Os valores são elevados para os padrões da maioria das empresas brasileiras, mas, segundo o delator, a firma com escritório em Betim “recebe (do município) cerca de R$ 300 mil por mês, se considerar tão somente a leitura, sem contar os demais serviços, cobrados anualmente”.
A segunda propina, informou o delator, teria sido entregue por um rapaz chamado Marcão. Trata-se de um representante da Velp, que refuta veementemente qualquer pagamento irregular. “Vi o Jefferson uma ou duas vezes apenas. Essa história dele não tem pé nem cabeça”.
CAMPANHA Apenas a título de curiosidade, a empresa aparece na prestação de contas da prefeita Elisa Costa (PT), que este ano não poderá disputar a eleição por estar no segundo mandato. Em 2012, a Velp fez duas contribuições a então candidata à reeleição. A primeira foi uma transferência eletrônica, no valor de R$ 13.627. A outra, um cheque de R$ 30 mil.
As informações são do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Não há irregularidades nos dois financiamentos. A reportagem não conseguiu retorno da prefeitura, mas a assessoria de imprensa da administração já informou que o município já instaurou sindicância para apurar contratos suspeitos.