Uma saída pela porta dos fundos
O Brasil sempre foi chamado de país do faz de conta. Quem dera, deve pensar o vice-presidente Michel Temer (PMDB), que deve assumir a Presidência da República em breve. E será obrigado a fazer contas. Ele próprio e sua futura equipe econômica. Aliás, já está fazendo, diante da gravidade da situação. Tanto que chamou o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, provavelmente o futuro ministro da Fazenda, para uma reunião de emergência.
Tudo isso porque a presidente Dilma Rousseff (PT) faz graça com o dinheiro público que deixará de administrar em vingança contra o seu vice-presidente. E é feito a conselho, no mínimo com as bênçãos, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preocupado com os riscos de seu sonho de voltar a comandar o país. Daí o aumento do Bolsa-Família, que Temer vai manter – não dá para vetar. Seria medida muito impopular para quem está apenas sentado na cadeira de presidente.
E tem mais. A presidente Dilma não vai sair nem pela porta dos fundos do Palácio do Planalto. Já avisou que não comparecerá à posse de Michel Temer. Deveria ter a dignidade de transmitir o cargo, mostrar espírito público e descer a rampa do Palácio de cabeça erguida, até para tentar mostrar que de nada tem culpa. Faltou um mínimo de bom senso.
E o PT repetiu o erro, mesmo depois de vencer quatro eleições presidenciais. Será que não aprendeu? Não é o que se viu nas ruas nos últimos dias. Ao contrário, parecia o PT de antigamente, do radicalismo, da falta de espírito público, do quanto pior, melhor.
Um retrocesso que até deputados do partido reconhecem. Alguns petistas, dizem nos bastidores, que podem votar em favor do impeachment. Deve ser da boca para fora, mas eles podem optar por se abster, deixar de tomar uma posição, o que é a mesma coisa.
A questão é: os rebeldes serão expulsos do PT? Mais uma: o radicalismo vai voltar a ser como antigamente? Voltar no tempo é mostrar que nada aprendeu sobre o exercício da boa política.
Sem panelaço
A presidente Dilma Rousseff (PT) optou por não fazer pronunciamento em rede de rádio e televisão no Dia do Trabalho, ou do Trabalhador, como os petistas preferem. O motivo deve ter sido de saúde. Dilma está rouca de tanto reclamar de perseguição, diante da iminência de seu impeachment e de tentar defender o indefensável. Preferiu falar para a sua plateia de fé, na manifestação onde praticamente só tinha militantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT), que tem cordão umbilical com o PT.
Homem de sorte
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é um homem de sorte. E deveria oferecer um jantar de agradecimento em restaurante bem chique e caro de Brasília ao ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Foi ele que deu a liminar suspendendo a sua nomeação como ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República. Por que agradecer? Porque seria praticamente certo que ele seria demitido cargo por Michel Temer (PMDB) quando o vice assumir. Já imaginou tamanho constrangimento para um ex-presidente da República?
‘Último gesto’
O senador Jorge Viana (PT-AC) defendeu ontem que a presidente Dilma Rousseff assuma a frente política do movimento pela antecipação da eleição presidencial. Viana disse que este seria um último gesto de Dilma antes de ser afastada. Isso porque, ele afirma, a comissão especial do Senado é um “faz de conta”, onde o afastamento deve ser aprovado, tendo como base os votos antecipados à imprensa. O senador ainda reagiu às críticas feitas às ações da presidente que aumentam os gastos do governo, como o anúncio do reajuste do Bolsa-Família. “O ideal é que a presidente Dilma propusesse isso, a antecipação da eleição presidencial, e que houvesse um entendimento com o Congresso. O impeachment não é a solução para a crise. Nova eleição é a solução para pacificar o país”, disse Viana.
Fim de festa
É, parece mesmo um fim de festa. Sem saber se continua no governo depois que a presidente Dilma Rousseff (PT) deixar o Planalto, o ministro Armando Monteiro fará um balanço dos resultados no primeiro quadrimestre de 2016 de suas ações no Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior. Antes de voltar ao Senado, se é que vai, o parlamentar se vangloriou, mas o motivo do recorde na balança comercial não foram as exportações, foi a brutal queda das importações. Mas o que vale é fazer o comercial.
À disposição
O ministro Armando Monteiro disse que, embora ainda tenha tarefas para concluir na pasta, se colocou à disposição da presidente Dilma Rousseff para voltar ao Senado e participar a favor do governo na votação de admissibilidade do processo de impeachment na Casa. “Tenho ainda algumas tarefas que devem ser concluídas e medidas a serem lançadas até sexta feira, mas a presidente Dilma é que definirá (sobre ida ao Senado). Se ela me liberar, terei disposição para votar no Senado no dia 11. Me sinto com disposição para afirmar minha posição de solidariedade ao governo de Dilma”, completou.
PINGAFOGO
Depois de antecipar sua despedida, a presidente Dilma Rousseff, pelo menos em sua agenda oficial, teve apenas um compromisso. Audiência com o ministro-chefe de seu gabinete, Jaques Wagner.
É, pelo jeito, a presidente Dilma já nada mais tem a declarar depois do que já fez, que nem é preciso comentar. A menos, é claro, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dê algum pitaco.
Especialistas indicados pela oposição defenderam o impeachment de Dilma Rousseff ontem, na comissão especial no Senado. De acordo com eles, houve crime de responsabilidade nas pedaladas fiscais, entre outras irregularidades. Uai, poderia ser diferente?
Mais de 1,3 milhão de brasileiros deixaram de ter planos de saúde entre março de 2015 e março deste ano, segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), sendo 617 mil somente no primeiro trimestre deste ano. Esse é só mais um triste reflexo da crise econômica.