Língua afiada de Lula vira arma na mãos da oposição; confira aqui os diálogos

Frases e diálogos do ex-presidente ganham destaque, mas se voltam contra ele e viram arma da oposição. Escutas revelam tentativa de lobby e ataque à Justiça e ao Legislativo

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As frases de Luiz Inácio Lula da Silva sempre ganharam destaque na mídia. Algumas, ironicamente, parecem ter se voltado contra o ex-presidente. Em 1993, ao se referir ao escândalo dos anões do orçamento, ele disse que há no Congresso uma “uma maioria de uns trezentos picaretas que defendem apenas seus próprios interesses”. Em 2005, no segundo turno da eleição para presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE) derrotou o candidato do ex-metalúrgico, Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), tendo recebido 300 votos dos 498 parlamentares presentes.

Onze anos depois, o grampo telefônico que capturou conversas de Lula com Dilma, ministros, parlamentares e outras personalidades mostrou que o fundador do Partido dos Trabalhadores continua com a língua afiada. As palavras serviram de munição para adversários políticos e brasileiros contrários à nomeação do ex-presidente para o Ministério da Casa Civil.


Em 4 de março, quando foi levado coercitivamente pela Polícia Federal para prestar depoimento, Lula tentou lobby junto ao Supremo Tribunal Federal (STF). O ex-metalúrgico pediu a Jaques Wagner, então ministro da Casa Civil, que ele conversasse com Dilma para ela interceder em seu favor junto à ministra Rosa Weber, que estava para decidir sobre o curso da investigação da Lava-Jato.


Os grampos mostram que o petista não poupou críticas ao Judiciário e ao Legislativo. E, tal qual em 1993, voltou a criticar os parlamentares: “Nós temos uma Suprema Corte totalmente acovardada, nós temos um Superior Tribunal de Justiça totalmente acovardado, um Parlamento totalmente acovardado (...)”.


Os diálogos – alguns recheados de palavrões e metáforas – levaram os investigadores a interpretarem a tese de que Lula aplaudiu a troca do ministro da Justiça. José Eduardo Cardozo, que migrou da pasta para a Advocacia-Geral da União (AGU), foi substituído pelo procurador Eugênio Aragão.

Aliados do ex-presidente reclamavam que o ex-ministro não tinha o controle da Polícia Federal.

Numa conversa com Paulo Vannuchi, diretor do Instituto Lula, o ex-presidente deu a entender que espera “pulso firme” do novo ministro: “Eu, às vezes, fico pensando até que o Aragão deveria cumprir um papel de homem naquela p..., porque o Aragão parece nosso amigo, parece, parece, mas tá sempre dizendo: 'Olha'..., sabe?!”.


Delegados federais já deixaram claro que não vão se submeter a pressões para frear as investigações na Lava-Jato. Mas o maior receio do ex-presidente é com o juiz que preside o processo da operação, Sérgio Moro: “Eu, sinceramente, tô assustado com a República de Curitiba. Porque a partir de um juiz de primeira instância (Sérgio Moro), tudo pode acontecer nesse país”.

Em família

O grampo capturou diálogos em família. Numa conversa com o irmão Vavá, nome de Genival Inácio da Silva, o ex-metalúrgico disse que não poderia visitá-lo no último domingo, quando uma multidão foi às ruas protestar contra o governo de Dilma e o próprio Lula, porque poderia ocorrer uma briga entre militantes do partido e “coxinhas”, como os simpatizantes da legenda se referem aos apoiadores do PSDB.


A conversa ocorreu na sexta-feira passada: “Domingo eu vou ficar um pouco escondido, porque vai ter um monte de peão na porta de casa pra bater nos coxinhas. Se os coxinhas aparecer, vão levar tanta porrada que eles nem sabem o que vai acontecer”.

 

GRAVAÇÕES DE CONVERSAS DO PETISTA

LOBBY
“Mas viu, querido (Jaques Wagner), a gente tava falando dessa reunião. Eu queria que você visse agora de falar com ela (Dilma), já que ela tá aí. Falar o negócio da Rosa Weber. (…) Que tá na mão dela pra decidir. Se homem não tem saco, quem sabe uma mulher corajosa possa fazer o que os homens não fizeram. Tá bom?”

Lula pede a Jaques Wagner que converse com Dilma para que a presidente interceda em seu favor no Supremo Tribunal Federal. À época, a ministra Rosa Weber estava para decidir sobre o curso das investigações contra o petista.

 

PULSO FIRME
“O problema é o seguinte, Paulinho, nós temos que comprar essa briga. Eu sei que é difícil, sabe?! Eu, às vezes, fico pensando até que o Aragão deveria cumprir um papel de homem naquela p..., porque o Aragão parece nosso amigo, parece, parece, mas tá sempre dizendo olha..., sabe?!”

Em conversa com Paulo Vannuchi, diretor do Instituto Lula, o fundador do PT cobra uma postura do novo ministro da Justiça, Eugênio Aragão, oposta à do antecessor, José Eduardo Cardozo, criticado por não ter controle sobre a Polícia Federal.

VIOLÊNCIA
“Vamos pegar esse de Rondônia, agora, (e) colocar Fátima Bezerra e Maria do Rosário em cima dele para fazer um movimento de mulheres contra esse filho da p... Elas teriam um papel importante em cima do homem que deixava a mulher sem comer e dava chibatadas nela”

Ainda numa conversa com Vannuchi, o ex-presidente diz ao amigo que irá “colocar” as senadoras em cima de “Rondônia”.

Para os investigadores, Rondônia é o procurador Douglas Krischner, acusado de bater na esposa, teria vazado informações contra Lula.


INSULTO
“Nós temos uma Suprema Corte totalmente acovardada, nós temos um Superior Tribunal de Justiça totalmente acovardado, um Parlamento totalmente acovardado (...)”.

Em conversa com Dilma, horas depois de ser levado coercitivamente pela Polícia Federal para prestar depoimento, o ex-presidente reclama do Judiciário e do Congresso.

 

IRONIA
“Eu, sinceramente, tô assustado com a República de Curitiba. Porque a partir de um juiz de primeira instância (Sérgio Moro), tudo pode acontecer nesse país”

Num telefonema a Dilma, em 4 de março, o ex-presidente se mostra apreensivo com as investigações do juiz Sérgio Moro.


INTIMIDAÇÃO
“Domingo, domingo eu vou ficar um pouco escondido, porque vai ter um monte de peão na porta de casa pra bater nos coxinhas. Se os coxinhas aparecerem, vão levar tanta porrada que eles nem sabem o que vai acontecer"

Em conversa com o irmão Genival Inácio da Silva, o Vavá, sobre a resistência que seria organizada em frente ao prédio do petista, em São Bernardo do Campo, como resposta à onda de protestos no país.

PODER
“E hoje eu disse para os senadores: eu não quero incendiar o país! Eu sou a única pessoa que poderia incendiar esse país... E eu não quero fazer como Nero, sabe? Não quero! Sou um homem de paz”

Em 9 de março, em apoio ao seu projeto de voltar a percorrer o país, Lula conversa com Wagner Freitas, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), sobre a reunião que teve com senadores.

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