O furacão Delcídio na política brasileira

- Foto: Arte/Soraia Piva

O furacão Delcídio na política brasileira

“E os políticos que se preparem. Ainda vem mais por aí.” Estava escrito ontem na seção Pinga Fogo desta coluna. E veio, só que muito mais, muito mais mesmo. A República está em xeque, quase um xeque-mate, diante de revelações do senador Delcídio Amaral (PT), envolvendo tanto a presidente Dilma Rousseff (PT) quanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O que explica a intensa movimentação jurídica dos advogados do ex-presidente nos tribunais nos últimos dias. Por instinto ou por informações privilegiadas, Lula, aquele que “nada sabia”, desta vez, pelo jeito, de tudo tinha conhecimento.

E para não quebrar um pouco o encanto, houve um recorde no Palácio do Planalto. Nunca antes na história do país uma posse de ministros foi tão rápida e sem pompa e circunstância. Tomaram posse ontem os ministros da Justiça, Wellington Silva, da Advocacia-Geral da União, José Eduardo Cardozo, e da Controladoria-Geral da União, Luiz Navarro.

E nem houve tempo para os tradicionais cumprimentos. A presidente Dilma foi logo convocando-os para uma reunião de emergência. Sinal amarelo, para dizer o mínimo, piscando a todo vapor.

A primeira providência, como sempre, foi desqualificar as denúncias. Mas elas foram relacionadas, talvez nem todas, por Delcídio Amaral, embora as eventuais delações premiadas tenham sido desmentidas. Para o ex-presidente Lula, o presente foi surpresa, já que ele “não sabia” ter articulado a compra do silêncio de Marcos Valério, até hoje preso, na CPI dos Correios. Valor: R$ 220 milhões, não corrigidos. E Lula ainda interferia na Lava-Jato. Para a presidente Dilma, que nada tem com isso, Delcídio repetiu a acusação de interferência nas investigações da Polícia Federal.

E para fechar com chave de ouro, Delcídio, em nota, nega ter dado entrevista à revista IstoÉ, não confirma o conteúdo, mas também não contesta o teor do que foi publicado.

Lacerda em ação
O Prefeito Marcio Lacerda inicia hoje uma série de reuniões com lideranças dos partidos que compõem a base do seu governo. Ontem foram convidados presidentes dos diretórios estaduais e municipais das maiores legendas que estão na administração atualmente. O encontro vai acontecer em hotel da capital às 18 horas. Na próxima semana também haverá reunião com os vereadores da base aliada e logo depois serão promovidos encontros com deputados estaduais e federais mais votados em Belo Horizonte. Na pauta, os planos para os últimos 10 meses de mandato e, é claro, a sucessão municipal.

O que eles disseram


"Sempre se presumiu que o Delcídio não estava agindo sozinho, isso vai ficar claro quando a delação dele vier a público. E já diz, pelo que a gente já leu, que há envolvimento da presidente (Dilma) com relação à nomeação de ministros, para beneficiar eventualmente réus na Lava-Jato, e envolvimento em Pasadena"
Líder do Democratas, deputado Pauderney Avelino (AM)

"No nosso governo, não temos medo nenhum de passar o país a limpo.
Aliás, a mais profunda investigação sobre corrupção da história do Brasil está ocorrendo neste momento"

Vice-líder do PT, deputado Henrique Fontana (RS)

"A imprensa, a oposição, principalmente, aqueles que apostam na desestabilização política do país já estão fazendo discursos ardorosos de que tem que ‘impeachmar’ a presidenta, que tem que realmente justiçar o presidente Lula, que está todo mundo envolvido, sem parar para refletir"
Senadora Gleisi Hoffmann (PMDB-PR)

"Eu acho que está na hora de legislarmos para endurecer, para intimidar os corruptos e os corruptores. Eles, sabendo que vão mofar na cadeia, vão pensar duas vezes antes de lesar o cidadão"
Senador João Capiberibe (PSB-AP)

PINGAFOGO

Advogado Geral da União e ex-ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, na ânsia de desmentir as denúncias que teria feito o senador Delcídio do Amaral (PT-MS), acabou admitindo ter recebido pressões para interferir na Operação Lava-Jato da Polícia Federal.

Detalhe: quando estava na ativa, Delcídio tinha livre trânsito no Palácio do Planalto e praticamente fazia o papel de porta-voz informal das demandas da presidente Dilma Rousseff.

Quem prestou atenção no relato do ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo na coletiva sobre o escândalo, percebeu uma contradição importante. E o fez já assumindo o papel de Advogado Geral da União.

Melhor dizendo, de advogado do diabo. Ele não contestou a existência do documento com delação do ainda senador Delcídio do Amaral. Contestou somente o teor que ele continha. Sintomático, não?

Afinal, qual será o segredo de Polichinelo presente no já famoso e polêmico documento para ser tão necessário que ele seja bem guardado. A sete chaves mesmo.

É, o Brasil amanheceu ontem em polvorosa e nada indica que o meio político vai conseguir se livrar da encalacrada em que entrou. Com crise econômica, desemprego em alta, inflação recorde, quem paga o pato é o brasileiro.

 

 

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