Brasília - O ano passado foi tão marcante no campo político e econômico que ele parecia não ter fim. Na verdade, o término foi só no calendário, com a explosão dos fogos de artifício do réveillon. Os efeitos de 2015 estarão muito presentes em 2016, e governo e oposição sabem que os riscos do agravamento da crise são concretos. Enquanto o Planalto sonha com uma mudança gradativa de cenário e humor, a oposição aposta no confronto para promover a transição de poder em Brasília. Com a mudança na equipe econômica antes da virada do ano – a troca de Joaquim Levy por Nelson Barbosa no comando da Fazenda –, a presidente Dilma Rousseff começou a planejar a virada de página do ajuste fiscal, mesmo sabendo que a trajetória será longa e dolorosa. O primeiro passo foi dado antes de 31 de dezembro: a quitação dos R$ 72,4 bilhões das pedaladas e obrigações fiscais de 2015. “É uma forma de deixar claro que não queremos mais discutir o passado e precisamos olhar para frente”, disse um interlocutor palaciano.
A questão não é apenas econômica, mas também política. As pedaladas são, até o momento, o principal embasamento para o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Os dois fatores serão importantes, na visão palaciana, para afastar de vez o temor do impeachment. Tão logo o Congresso retome as atividades, deverá ser composta a comissão especial que analisará o pedido de afastamento da presidente. A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) foi considerada positiva pelo Planalto, mas a base aliada terá de assegurar o número de votos necessários — um terço na Câmara (171 votos) — para sepultar o impedimento. “O governo pode até conseguir esse número, mas jamais conseguirá recuperar a base parlamentar. Será sempre um governo capenga”, cravou o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Esses são os dois objetivos a curto prazo imaginados pelo governo. Caso consiga vencer essa tormenta inicial, Dilma e integrantes da equipe econômica pretendem retomar o plano de concessões de infraestrutura, que travou por causa da retração econômica e da queda de confiança em relação aos rumos do governo. Dilma nunca escondeu que tem especial apreço pelo setor de infraestrutura. Retomar os leilões de energia, rodovias, ferrovias, portos e aeroportos teria, na opinião de interlocutores palacianos, dois efeitos práticos: o primeiro, recuperar o caixa do governo. O segundo, retomar os trabalhos em uma área estratégica para o país que ficou paralisada pela crise e pelas investigações da Operação Lava-Jato, que afundaram as principais empreiteiras em um gigantesco esquema de corrupção a partir da Petrobras. E, no fim do ano, retomar os investimentos necessários ao país.
EFEITOS Para a oposição, a página só será efetivamente virada se Dilma sair do Palácio do Planalto. “Ela não tem mais nenhuma condição de propor uma unificação em torno de qualquer projeto para retomada do crescimento”, afirma o deputado Antonio Imbassahy (PSDB-BA), que assumirá o cargo de líder da bancada tucana na Câmara em fevereiro. “Por isso, precisaremos reforçar a pressão, junto aos parlamentares, aos formadores de opinião e à população, pelo impeachment da presidente Dilma”, declarou. Imbassahy acredita que, naturalmente, as pessoas sentirão os efeitos deletérios da crise econômica e a aversão à presidente aumentará.