Jornal Estado de Minas

Exércitos pró e contra impeachment da presidente Dilma fazem "duelo" político

Brasília – Com a abertura oficial do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, chegou a hora dos dois exércitos –os aliados e os adversários – da petista começarem a traçar as estratégias políticas para ver quem sobrevive no final da disputa. O primeiro embate ocorreu nesse domingo, quando defensores do afastamento da presidente foram às ruas manifestar contra o governo. Apesar da tendência de uma batalha mais morna nas praças e avenidas do país neste momento, por causa, sobretudo, das festas de fim de ano, a guerra política já foi iniciada e cada time escolheu seus interlocutores de confiança.

Duas grandes incógnitas pairam nesse processo. Qual é o tamanho do PMDB que está de cada lado e como será o humor do empresariado e de outros representantes do PIB ao longo desse processo. É bom lembrar que, há cerca de três meses, representantes peso-pesados do setor deram entrevistas defendendo a permanência da presidente em nome da normalidade institucional. “A presidente Dilma perdeu a oportunidade dada a ela e o apoio dos principais setores econômicos começou a diminuir”, lembra o professor e cientista político do Insper Carlos Melo.

Mas isso não significa um apoio incondicional ao impeachment a partir de agora. “Se há quem ache que a presidente não tem mais condições de conduzir um diálogo para tirar o país da atual paralisia, também existem aqueles que temem o depois, por não saber o que acontecerá ao Brasil”, ponderou Melo. Todos os cenários, inclusive, são nebulosos.
Se Dilma conseguir sobreviver, dificilmente conseguirá um placar próximo dos 300 votos favoráveis. “Escapa do impeachment, é verdade, mas a votação próxima dos 171 votos mínimos necessários a impede de aprovar matérias com quorum qualificado.”

Caso a presidente caia e o vice-presidente Michel Temer assuma o Planalto, poderá até ter um período de trégua com a mídia. Mas a crise econômica vai continuar. “Temer também enfrentará uma oposição feroz, formada pelo PT e pelos movimentos sociais. A vida dele não será fácil”, completou Melo. “Por tudo isso, o setor produtivo ainda não se posicionou com convicção quanto a esse debate”, acrescentou o cientista político do Insper.

O PMDB também é outro fator que poderá desequilibrar a disputa, embora o PMDB sempre seja marcado por ser uma legenda que jamais está unida em torno de um mesmo ideal. O partido tem a tradição de sempre manter um pé em cada canoa para evitar naufrágios.
“Somos uma federação de caciques que usam como querem as próprias aldeias. E, quanto mais fortes forem essas aldeias, mais poder de influência os caciques terão no comando central da legenda”, explicitou uma liderança expressiva do partido.

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), já se posicionou claramente a favor do afastamento da presidente. Na semana que passou, ganhou o auxílio luxuoso do vice-presidente Michel Temer que, se por um lado afirmou à Dilma que não fará gestos para desestabilizá-la nem ao governo, por outro não interferirá nos rumos que o partido tomará daqui para a frente. O PMDB do Senado, por exemplo, é mais próximo do Planalto. “Não somos a favor do governo, somos a favor do país. Por isso, queremos aprovar matérias que sejam importantes para nos tirar dessa crise econômica”, afirmou o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE).

Abandonar o barco


Na avaliação do mestre em ciência política Lucas de Aragão, PMDB, PP, PR e PSD são a legendas mais susceptíveis a abandonar o PT. “São partidos que formam a base aliada meio cinzenta porque não tem ideologia definida. Se virem que um governo do PMDB depois pode dar certo com certeza vão mudar de lado”, afirmou o também sócio-diretor da consultoria Arko Advice.

Existe também a imponderabilidade quanto ao peso das manifestações de rua no processo de impeachment.

Se os favoráveis ao afastamento da presidente mostraram grande poder de mobilização ao longo de 2015 e os movimentos sociais ligados ao PT também se organizaram para não demonstrar que Dilma está frágil, o cenário é muito distinto em relação aos cara-pintadas de 1992. “Aquelas manifestações de rua uniram o país. As de agora não, vão dividir. O PT é um partido enraizado na sociedade e há, por parte de outra parcela expressiva da população, uma grande sentimento de insatisfação com a presidente”, declarou Carlos Melo.

A adesão às manifestações de ontem são um termômetro também para a definição de estratégias dos movimentos pró-impeachment. O Movimento Brasil Livre (MBL) aguarda essa avaliação para definir a data da próxima grande mobilização, mas já foi decidido que não será em dezembro por ser um mês mais esvaziado do ponto de vista político. Também está indefinido se o grupo irá retomar o acampamento em frente ao Congresso, onde esteve em outubro e novembro.

Já os movimentos ligados ao Planalto se reuniram com o ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, na última quinta-feira, para cobrar reivindicações da área social, como avanços nas medidas previstas no Plano Nacional da Educação (PNE), na reforma agrária, segurança da manutenção do Minha casa, minha vida e retirada do regime de urgência do projeto de lei antiterrorismo. A presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Carina Vitral, nega que atender à essas demandas seja uma condicionante de apoio. “São pautas cotidianas, não condições de apoio à presidente Dilma na luta contra o golpe”, disse. O encontro foi uma prévia para reunião com a presidente, que pode ocorrer na próxima quinta-feira.

 

.