Brasília - Antes de o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ter 2,46 milhões de francos suíços congelados pelas autoridades da Suíça, uma conta em nome de sua mulher, a jornalista Cláudia Cordeiro Cruz, de 48 anos, teve gastos de pelo menos US$ 1,082 milhão em cartões de crédito internacionais. De acordo com documento do Ministério Público suíço entregue à Procuradoria Geral da República, entre os gastos estão academias de tênis dos EUA, escolas de inglês e transferências para bancos da Inglaterra e de Barcelona, na Espanha. Os pagamentos foram feitos entre maio de 2008 e abril de 2015. A conta Kopek, registrada em nome da mulher do deputado, pagou US$ 525 mil para o cartão de crédito Corner Card entre 2013 e este ano. Só entre agosto do ano passado e abril deste ano US$ 156 mil. No cartão American Express, foram US$ 316 mil entre junho de 2008 e outubro de 2012. O cerco a Cunha é cada dia maior. Na terça-feira, partidos de oposição vão se reunir para tomar uma decisão sobre ele, e o mais provável é que peçam seu afastamento do cargo.
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Duas contas de Cunha foram encerradas logo após a deflagração da Lava-Jato, em 2014. Nas outras duas havia um saldo em 17 de abril deste ano exatos 2.468.864 de francos suíços (R$ 9,6 milhões).
Ofensiva
A confirmação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de que Cunha e parentes têm contas bloqueadas na Suíça fez aumentar no PSDB o coro de políticos do partido que defendem o afastamento do peemedebista do comando da Casa. O foco que mais resiste a se distanciar, no entanto, são justamente os deputados tucanos, pois contam com ele para dar início a um processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
“Uma vez demonstrada (a existência das contas), creio realmente que a posição dele (Cunha) fica insustentável. O afastamento é a melhor saída”, disse ontem o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP). A posição dele é a mesma de outros tucanos que participara ontem, em Montevidéu, capital do Uruguai, do 20º Meeting Internacional - encontro entre empresários e políticos promovido por João Doria Jr., empresário filiado ao PSDB e pré-candidato à Prefeitura de São Paulo. “Está na hora de a Câmara dos Deputados fazer alguma coisa. Os fatos são relevantes, tanto do ponto de vista penal como político”, afirmou o governador do Mato Grosso, Pedro Taques (PSDB).
Os partidos de oposição se reunirão terça-feira em Brasília para tomar uma posição conjunta sobre a situação de Cunha. Nos bastidores, os líderes oposicionistas estão cientes de que a situação do peemedebista está insustentável, mas ainda evitam se manifestar publicamente sobre o caso para não prejudicar a estratégia de abrir um processo de impeachment de Dilma, aproveitando o impacto da reprovação das contas pelo Tribunal de Contas da União.
Cunha garantiu aos tucanos que decidirá na terça-feira se aceita ou rejeita o pedido de impedimento protocolado pelos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Jr., que é apontado pelo PSDB como o mais consistente.
Outro partido que também fará representação contra Cunha no Conselho de Éticada Câmara na terça-feira é o PSOL. O documento encaminhado por Rodrigo Janot ao partido confirma também que o peemedebista é investigado por lavagem de dinheiro e corrupção.
Nova delação explosiva
O ministro Teori Zavascki, responsável pelos processos da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), homologou ontem o acordo de delação premiada do lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, suposto operador do PMDB no esquema de corrupção da Petrobras – o partido nega ter vínculos com ele. A colaboração foi validada pelo Supremo porque Baiano citou o envolvimento de parlamentares com foro privilegiado, que só podem ser investigados com supervisão do tribunal. A partir da homologação, a Procuradoria-Geral da República (PGR) vai analisar se abre novas investigações ou se inclui as informações em inquéritos já em andamento.
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