Jornal Estado de Minas

Cunha: conversa com Dilma foi institucional e simboliza abertura de diálogo


Brasília - O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse que seu encontro da tarde desta terça com a presidente Dilma Rousseff foi uma conversa institucional e indica a retomada do diálogo sobre a situação econômica do país. No encontro, o principal assunto foi a peça orçamentária de 2016 encaminhada nessa segunda, 31, pelo governo.

Embora tenha dito que se manterá rompido com o governo, o peemedebista afirmou que está disposto a ajudar na questão do Orçamento do próximo ano, mas que o governo não pode jogar a responsabilidade sobre o Congresso. "Não fomos nós quem geramos essa situação", declarou.

Segundo o presidente da Casa, Dilma pediu apoio para as medidas de solução estrutural para o processo. Ainda de acordo com ele, a presidente não falou em aumentar impostos. Ele concordou que a solução seria o aumento da arrecadação, mas avaliou que sinais positivos seriam capazes de recuperar a confiança e o investimento, levando assim a melhora do cenário.

Cunha contou que a grande preocupação é com o aumento de despesa pública por projetos que possam ser aprovados e que tenham impacto orçamentário.

"Obviamente ela demonstrou esta preocupação. Da minha parte, mostrei a ela que o déficit não é o principal problema. O principal problema é não aumentar a dívida bruta do País. Porque você só vai financiar o déficit aumentando a dívida.
Se você controlar a dívida, você tem uma sinalização positiva, que anula o problema do déficit", avaliou. "Este ano, a taxa de juros subiu 4,5 pontos percentuais. Isso significa no ano que vem R$ 90 bilhões no Orçamento. Este ponto que tem que ser debatido. Na medida que a inflação vai cair, é normal que os juros caiam também. Consequentemente, com a queda de juros, ela vai ter uma diminuição da dívida bruta", completou.

Cunha sugeriu a Dilma que o governo precisa sinalizar ao mercado que a dívida bruta não vai aumentar. Ele também apontou que a piora do cenário se deve à perda da confiança na economia como um todo, seja investidor ou consumidor, e que é preciso retomar essa confiança.

O peemedebista discordou da oposição sobre a devolução da peça orçamentária.
"Não acho que porque se propôs um déficit o orçamento tem de ser devolvido. O governo precisa sinalizar que a dívida pública não vai aumentar", destacou.

Aos jornalistas, Cunha defendeu o corte de despesas do governo e disse que a medida, por menor que seja, é importante pelo simbolismo. "Continuo mantendo que o governo tem que fazer a sua parte, nem que seja simbólico. Corte de ministérios é simbólico. Tem que mostrar para a sociedade que todos estão imbuídos do espírito do sacrifício. Não é só a população pagando mais impostos em alguns casos como querem colocar para a população. Isso eu sou contra. Também isso não se falou, mas somos contra aumento de impostos.
A melhor sinalização que você tem é, primeiro, temos que recuperar a confiança. Recuperando a confiança, você pode recuperar os níveis de arrecadação", afirmou.

Cunha contou que deixou claro à presidente que tem uma visão diferente da equipe econômica e citou como exemplo a questão do superávit primário. "Superávit com adiamento de pagamentos é fingir que se faz superávit", comentou.

Ele lembrou que o déficit no Orçamento não é obrigação do Congresso em resolver. "Cabe ao Executivo dizer qual suas limitações e capacidades", emendou.

Para ele, Dilma quis discutir politicamente a situação econômica do País para ter canal aberto ao diálogo. Cunha disse que não se furtará ao diálogo "com quem quer que seja". "Não sou uma pessoa avessa ao diálogo. Estou sempre disponível para o diálogo", declarou..