Antônio Geraldo ajuda a dar nomes a rostos que aparecem sem identificação em acervo fotográfico - Foto: Túlio Santos/EM/D.A Press
Com um acervo não organizado de 135 mil imagens acumuladas em mais de 100 anos de história, a Assembleia Legislativa de Minas Gerais lançou uma campanha para a identificação dos personagens das fotografias. O lançamento foi feito ontem durante a abertura da Semana Fotos e Memórias. Ex-políticos e servidores aposentados que viveram a história do Legislativo na década de 70, em plena ditadura militar, passaram pelo hall da Casa e identificaram passagens já arquivadas – mas sem o devido registro – da história.

Foi assim que Antônio Geraldo Pinto, de 77 anos, ex-diretor-geral da Assembleia no período compreendido entre 1975 e 1980, identificou as imagens do deputado estadual João Ferraz, pessedista abrigado na chamada Arena 2, ao lado de seu oponente, o deputado Dênio Moreira, arenista de mesma origem partidária. Em 1975, João Ferraz marcou a história do Legislativo como o primeiro – e até hoje único – parlamentar a derrotar o Palácio da Liberdade e eleger-se presidente da Casa.

“Aureliano Chaves, da Arena, de passado udenista, havia acabado de ser eleito indiretamente para o governo de Minas, com o respaldo do governo militar”, lembra Antônio Geraldo. Deveria, portanto, apoiar para a presidência da Assembleia um arenista de origem no PSD. Era o trato. “Viajou para a Europa não sem antes acertar que Dênio seria o eleito”, conta o ex-diretor. Só que a política de Minas é farta em inconfidências. Inconformados com a escolha de Dênio, vários arenistas vindos do PSD se rebelaram. “A rebelião foi comandada por João Ferraz e Cristóvão Chiaradia. Foi silenciosa. A eles, se uniram os emedebistas da oposição, que queriam derrotar o governo militar”, lembra o ex-diretor da Assembleia, em referência aos deputados do MDB 1 (de origem do PSD que foram para a oposição) e do MDB 2 (de origem na UDN). “Na hora da eleição, veio o golpe: João Ferraz venceu a guerra dentro do seio pessedista e se elegeu para presidir a Casa”, revela. Aureliano não gostou. Mas a composição não tardou, por meio da indicação de vários de seus aliados para cargos de expressão na Assembleia.

“João Ferraz foi um conciliador. Reunia-se não só com políticos, mas com bastante frequência recebia magistrados e procuradores de Justiça”, diz o consultor da Assembleia Caio Borelli, identificando uma foto em que Ferraz conversa com o ex-procurador de Justiça Valdir Vieira.

Há fotografias para todos os gostos. Mário Andreazza – que foi ministro dos Transportes nos governos Costa e Silva e Médici – posa em uma das fotos ao lado de vários políticos não identificados, apresentando a maquete de uma obra no estado. Em outro canto, há notícias de foto do baiano Antônio Carlos Magalhães (ACM), nos tempos em que deixou a Arena para ingressar na Frente Liberal em apoio à eleição indireta de Tancredo Neves. ACM participou na Assembleia de entrevista coletiva, ao lado de Ulysses Guimarães e de Pimenta da Veiga.

“No jornalismo, temos uma expressão famosa que diz que uma imagem vale mais do que mil palavras. Mas isso nem sempre resolve tudo. Nós também precisamos de palavras para explicar as imagens, as fotografias. Por isso, a Assembleia está tentando identificar todas as fotos que possui em seu acervo, que são muitas”, afirmou o jornalista Manoel Guimarães, que, ao lado da historiadora Valentina Gomes Somarriba, é integrante do grupo Fotos Históricas da Assembleia, do Facebook, espaço em que pesquisam o contexto e os bastidores das imagens. Quem quiser ajudar a identificar as fotos basta procurar a Gerência de Memória Institucional da Assembleia..