Após mais de dez anos de investigação, a autora teve acesso ao inquérito do caso no Superior Tribunal Militar (STM) e, a partir dele, desconstruiu a farsa criada para encobrir o crime. O roteiro é muito parecido com os casos de Iara Iavelberg e Vladimir Herzog, ambos assassinados pelo regime em sessões de tortura, mas classificados pelos agentes da repressão como "suicidas".
Os indícios de homicídio de Milton Soares eram tão fortes que, em 2007, a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, ligada à Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, publicou no livro Direito à Memória e à Verdade a versão de assassinato com base na primeira investigação conduzida por Daniela. Mas eram apenas indícios.
Foi a própria autora que, em 2002, descobriu os restos mortais de Milton Soares em um local que parecia óbvio, mas nunca foi procurado: o cemitério municipal de Juiz de Fora (MG), cidade onde estava localizado presídio de Linhares, local onde o militante estava preso.
"Em 28 de abril de 1967, o Exército avisou a família que Milton tinha se matado, mas nunca entregou o corpo. Enquanto negociavam a entrega dos restos mortais, ele já estava enterrado numa cova rasa destinados a indigentes em Juiz de Fora. Os familiares passaram anos insistindo", diz Daniela.
A manobra, porém, deixou um rastro: os documentos do militante nos registros do cemitério eram verdadeiros. Em 2002, a Comissão de Mortos e Desaparecidos tentou exumar o corpo, mas a família do guerrilheiro não permitiu, o que dificultou a investigação.
Com o inquérito do STM em mãos, Daniela teve acesso às fotos do corpo, perícias da cela onde ocorreu o crime e buscou os peritos que a fizeram a necropsia. Um dos que assinam o laudo, Luzmar Valentim Gouveia, recebeu Arbex e, diante do documento, descartou o suicídio.
O Estado de S. Paulo
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