Mobilização contra o governo e a corrupção se espalha pelo interior de Minas

Manifestações ocorreram em todas as regiões mineiras, envolvendo mais de 40 municípios, segundo organizadores. Grupos pretendem levar os protestos para Brasília na próxima vez

Gustavo Werneck Francelle Marzano
MONTES CLAROS - No Norte de Minas, centenas de pessoas foram às ruas protestar contra escândalos de corrupção no Brasil e a presidente Dilma Rousseff (PT) - Foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press

As manifestações contra a corrupção e o governo da presidente Dilma Rousseff (PT) tomaram ruas, praças e avenidas em 44 municípios do interior de Minas, entre eles cidades-polo, como Uberaba e Uberlândia, no Triângulo, Montes Claros, no Norte, Juiz de Fora, na Zona da Mata, Governador Valadares, na Região Leste, Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, Varginha, no Sul, e Paracatu, no Noroeste. Vestidas de verde e amarelo – em alguns casos, de preto, simbolizando o luto pela situação nacional de crise política e econômica –, gente de todas as gerações carregou faixas, cartazes e bandeiras e procurou inovar nos protestos.

BETIM - Grupo de amigos uniformizados defendeu o impeachment presidencial - Foto: Jair Amaral/EM/D.A Press
Em Uberlândia, que reuniu cerca de 10 mil pessoas, segundo a coordenação local do movimento Vem pra Rua, ou 6 mil, conforme a Polícia Militar, “era exatamente meio-dia quando os manifestantes se viraram de costas para Brasília (DF)”, informou o analista de marketing Marco Rodrigo Machado Lara. Ele contou ainda que, “logo em seguida, todos se viraram de frente na direção da capital federal, apontaram o dedo indicador e gritaram ‘Vamos pra Brasília’”. É que a meta dos participantes dos protestos é, agora, seguir rumo ao Distrito Federal e protestar em frente ao Palácio do Planalto.

UBERLÂNDIA - Participantes pretendem viajar para manifestar em frente ao Planalto - Foto: Cleiton Borges/Correio de Uberlândia
O ato público em Uberlândia começou às 10h e durou mais de duas horas, seguindo pelas avenidas João Naves de Ávila e Rondon Pacheco, nos bairros Centro e Tibery. “O movimento é totalmente suprapartidário”, explicou Lara, que citou os três itens da pauta, como o pedido de saída da presidente, o Fora Dilma, “por meio de renúncia, cassação ou impeachment”; transparência total na prestação de contas dos empréstimos internacionais, especialmente os feitos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES); e não ao acordo de leniência com empreiteiras envolvidas no escândalo da Petrobras. “Somos pela democracia, contra golpe militar e medidas intervencionistas”, resumiu Lara.

TEÓFILO OTONI - Ato pacífico nas cores da bandeira brasileira, faixas e cartazes na praça - Foto: Ivana Maria Benjamin Rodrigues/Divulgação
As cidades mineiras se dividiram em protestos pela manhã e à tarde. Em Governador Valadares, a concentração ocorreu às 9h, na Praça dos Pioneiros, no Centro, em frente à prefeitura, e reuniu entre 1,2 mil e 1,4 mil pessoas, informou a coordenadora local do Vem pra Rua, a socióloga Patrícia Rocha. Ela disse que o movimento conseguiu patrocínio e mandou confeccionar material (bandanas, banners, cartazes, faixas etc.) para distribuição ao longo da caminhada pela Avenida Minas Gerais.

Umas das faixas, que se repetiu em outros municípios, foi “Eles não entenderam nada”, em referência à manifestação de 15 de março. Patrícia diz que, na pauta de revindicações, está o corte de 20 ministérios e 20 secretarias ligadas à Presidência da República. “É preciso diminuir os gastos públicos no país”, disse a socióloga.

PALAVRAS DE ORDEM A criatividade dos manifestantes marcou as manifestações. O brado contra a presidente Dilma e a corrupção levou cerca de 1,3 mil pessoas às ruas de Cataguases, na Zona da Mata, de acordo com a engenheira ambiental Beatriz Schofield, do Vem pra Rua local. Três grandes faixas chamaram atenção no protesto. Estava escrito: “Eles não entenderam nada. Vamos repetir. Fora corruptos”; “Fomos roubados, não vamos ficar calados. Fora Dilma”; e “Fora Dilma e leve o PT junto”. “As reivindicações são muito maiores, basta ver o preço dos produtos no supermercado . O PT não tem mais credibilidade para governador o Brasil”, afirmou Beatriz. Diante o prédio da prefeitura, os manifestantes cantaram o Hino Nacional.

CORONEL FABRICIANO - Participantes esbanjaram irreverência em manifestação no Vale do Aço - Foto: Bruno Almeida Pinheiro/Divulgação
No Vale do Aço, Ipatinga, Coronel Fabriciano e Timóteo também aderiram ao movimento contra a corrupção. Em Coronel Fabriciano, a 198 quilômetros de Belo Horizonte, houve caminhada de 2,5 quilômetros com cerca de 350 pessoas, incluindo aquelas que estavam acompanhando nos carros e motos, disse o coordenador do Vem pra Rua, Maurisson Morais.
A concentração começou às 9h e a caminhada, às 10h30, com apoio das lojas maçônicas da região. “O movimento cresceu muito aqui. Em 15 de março, tivemos apenas 40 pessoas e agora um número bem maior de gente demonstrando a indignação contra a corrupção, o petrolão e outros escândalos”, afirmou.

INSATISFEITOS Em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, cerca de 30 pessoas saíram às ruas para protestar contra o governo federal. Os manifestantes começaram a se reunir na Praça Milton Campos por volta das 9h30 e desceram em passeata pela Avenida Governador Valadares até a Praça Tiradentes, no Centro. Vestidos com camisa amarela estampada com a frase: “Chega! – Movimento Vem pra Rua –  Betim” o grupo cantou o Hino Nacional e pediu a saída do Partido dos Trabalhadores e da presidente Dilma Rousseff (PT) do poder.

Segundo uma das organizadoras do movimento, a professora Neiri Rangel, o protesto mostra a insatisfação com a política do governo federal. “Nós somos só um braço do movimento que acontece no Brasil. Estamos lutando por um governo com mais moralidade, ética e respeito”, afirmou. Neiri acrescentou ainda que a solução para o país seria a reforma política. Já o auxiliar administrativo Carlos Wherbest pedia a saída da presidente Dilma e de todos os filiados ao PT. Segundo ele, é necessário que o Supremo Tribunal Federal (STF) tome iniciativas para punir os políticos corruptos.
“Os juristas do STF precisam criar coragem e mandar para a cadeia todos os ladrões que usam o dinheiro público em benefício próprio. O Brasil precisa de políticos honestos e o povo precisa ir para a rua para garantir um país melhor.”

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