
A falha na comunicação com a classe eleitoralmente mais importante para o partido já foi diagnosticada. Em conversas com Dilma, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem insistido que o governo precisa se comunicar melhor. “Os dois têm conversado. Dilma parece ouvi-lo. Parece entendê-lo. Mas insiste nos erros”, diz um interlocutor do partido. Os aliados têm reclamado que, às vésperas de serem avaliadas pelo Congresso, o governo não soube explicar para a população até hoje onde quer chegar com as reformulações de regras trabalhistas que restringem benefícios.
Lula tem demonstrado preocupação especialmente com o eleitorado que vai votar pela primeira vez nas próximas eleições. Isso porque é uma geração que tinha menos de 10 anos quando ele saiu do poder e, de lá para cá, só tem visto notícias negativas relacionadas ao PT. Para o ex-presidente, o partido está perdendo o discurso da busca por mais conquistas sociais.
Em meio à crise econômica e política, Dilma viu sua popularidade desabar com a ajuda da classe média, maior fatia da população brasileira. Como nos outros segmentos, mais da metade da classe C tem a pior impressão possível do governo. De acordo com pesquisa Datafolha divulgada há pouco mais de duas semanas, 66% dos brasileiros que têm renda entre dois e cinco salários mínimos acham o governo Dilma ruim ou péssimo. Na faixa de cinco a 10 salários mínimos, o percentual cai um ponto: 65%.
A menos de dois anos para as eleições municipais, prefeitos e candidatos ao posto pelo PT estão preocupados com um efeito dominó em relação à baixa popularidade de Dilma. “Eles têm ligado principalmente para os deputados. Pedem que o Congresso não aprove as reformulações nas leis trabalhistas propostas pelo governo. Dizem que isso será cobrado nas eleições”, relata um aliado do Planalto. No esforço para ver o pacote aprovado, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, esteve no Congresso esta semana para explicar as medidas aos senadores.
Interlocutores de Dilma, no entanto, já admitem a possibilidade de ceder em alguns pontos. A insatisfação entre petistas é tanta que o assunto parou de ser discutido apenas internamente. O senador Paulo Paim (PT-RS), filiado à legenda desde 1985, ameaça mudar de partido caso as medidas sejam aprovadas. Ligado a sindicalistas e aposentados, ele tem sido pressionado pela base eleitoral. Outros correligionários, como o senador Walter Pinheiro (BA), também reclamam do pacote.
Para Renato Meirelles, presidente do Data Popular, instituto que tem se dedicado a estudar a classe média, há uma crise de perspectiva. “A classe C está descrente. (...) Está desiludida. Está sem liderança. Hoje a maior crise para a classe C não é a econômica ou a moral pela corrupção. É a de perspectiva, de liderança. Ela sabe que a vida não está fácil e não está enxergando quem vai ajudá-la a sair da crise.”
Meirelles avalia que o momento também não é bom para a oposição. “A classe C saiu dividida do processo eleitoral. Os mais jovens ficaram com a candidatura oposicionista e os mais velhos, com Dilma. Quando acaba o processo eleitoral, eles não viram uma única notícia boa ser dada pelo governo. Eles ficam órfãos de uma liderança. Mas essas dificuldades que o governo está tendo no início de mandato também não significam nada para a oposição. Porque ninguém enxerga na oposição um líder.”
Retrocesso Ex-ministro do governo Dilma, o presidente da Fundação Ulysses Guimarães, Moreira Franco, se dedicou, à frente da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, entre 2011 e 2013, a estudar a nova classe média. Para ele, há um retrocesso em relação às conquistas que a classe C obteve nas últimas décadas. “Os indicadores são o aumento da taxa de desemprego e evidentemente uma diminuição da renda. A classe média brasileira, nos últimos 10 anos, se robusteceu por ganho de renda. Não foram os programas sociais que impulsionaram os brasileiros para a classe média. Foi o trabalho com carteira assinada.”
De acordo com Moreira Franco, o PMDB, maior aliado oficial do PT na Presidência da República, já avalia os danos da crise nas eleições do ano que vem. “Vamos fazer em agosto e setembro um congresso nacional do partido, com objetivo de definir o novo programa para os próximos 10 anos. O primeiro item é o enfrentamento da crise para que possamos restabelecer um ambiente propício à retomada do crescimento econômico. Se conseguirmos produzir uma proposta clara e consistente, vai melhorar bastante a adesão do eleitorado ao PMDB.” Moreira Franco destaca que as eleições de 2016 serão fundamentais para os projetos presidenciais de 2018.
