"Não se pode fazer da necessidade de sanear a situação fiscal a ocasião para a apologia de uma política econômica conservadora, cujas consequências bem conhecemos", diz um trecho do documento.
O manifesto será debatido no 5.º Congresso do PT, que vai discutir os rumos do partido e do governo Dilma entre os dias 11 a 13 de junho, em Salvador. Após os escândalos de corrupção que abalaram a imagem do PT, os petistas admitem que o partido ficou "prisioneiro" do "presidencialismo de coalizão", passa por uma "crise de identidade" e necessita mudar.
A ser apresentado como "tese" da CNB e de outras correntes que apoiaram Rui Falcão para o comando do PT, o documento critica as medidas que reduzem os direitos trabalhistas, como o seguro desemprego e o abono salarial.
"O governo está pressionado pela necessidade de uma solução de curto prazo para seus problemas fiscais. Os meios econômicos e financeiros internacionais querem que o "ajuste" seja o ponto de inflexão de nossa política econômica em direção ao conservadorismo. (...) Esse movimento não se pode fazer confrontando os trabalhadores", insiste a tese.
O texto foi escrito por Falcão e pelo assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia. Ao convocarem as "esquerdas" e os "democratas" para a construção de um programa de emergência, os grupos que detêm a hegemonia do PT pregam a formação de uma frente para impedir "o avanço da direita" e dizem que o partido precisa "voltar às ruas".
O manifesto não menciona como deveria ser o programa, mas diz que "um fator de enorme convergência de todos esses setores é, sem dúvida, a figura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a maior liderança popular das últimas décadas da história brasileira".
Dilma e Vaccari
Com um tom bem mais ácido, o documento produzido pela corrente Mensagem ao Partido, grupo do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirma que o segundo mandato de Dilma começou com "uma clara inflexão conservadora na gestão macroeconômica, contraditória com o programa eleito".
Redigido pelo ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro, o texto "Mudar Mais: por um ciclo de mudanças democráticas no País" diz que os maiores erros, nos últimos anos, foram cometidos pelo Banco Central, define a taxa básica de juros (Selic) como "escandalosa" e cobra a rejeição das tentativas de desmontar a política de desenvolvimento.
"É preciso superar esse impasse ou o segundo governo Dilma trabalhará, na melhor das hipóteses, com um cenário de baixo crescimento e eventual crescimento do desemprego (...), em um contexto de ajuste fiscal vicioso", destaca o documento da Mensagem ao Partido.
Mesmo sem citar o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, o grupo de Cardozo e Tarso deixou claro que defende o afastamento do dirigente. Vaccari se tornou réu numa ação penal da Operação Lava Jato, acusado de participar do esquema de desvio de dinheiro na Petrobrás. Ele responde a processo por corrupção e lavagem de dinheiro e nega as denúncias.
"(...) Combateremos sem trégua a corrupção, a conciliação com a corrupção e a convivência com a corrupção.