Lula vai a Brasília para convencer parlamentares a votar pacote fiscal do governo

Ex-presidente se reúne com petistas e peemedebistas em busca de acordo em torno do pacote fiscal, mas Renan sugere que o Planalto dispense 11,5 mil comissionados para dar exemplo

  Lula chega para jantar com a bancada do PT no Senado, antes de encontro com a cúpula do PMDB na Casa: ajuste fiscal no cardápio - Foto: André Coelho/Agência O Globo

Brasília – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou nessa quarta-feira (25) em Brasília com uma missão árdua. O cacique petista tenta convencer PMDB e PT a apoiar as propostas de ajuste fiscal encaminhadas pelo Planalto ao Congresso e que representarão um arrocho de R$ 80 bilhões, de acordo com estimativas feitas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), no entanto, reforçou que a tarefa será complicada, e sugeriu que o governo corte na própria carne.

“O ministro Levy disse que o Brasil sofreu uma ‘escorregadinha’. Parece-me que foi um ‘escorregadão’ para eles terem que cortar R$ 80 bilhões. Por que não cortam os cargos comissionados do Executivo? Eu disse isso ao Levy. Nem que, mais para a frente, restituam os cargos. Mas cortar, agora, na carne, é o melhor exemplo que eles podem dar”, cobrou o peemedebista, estimando em 11,5 mil os comissionados que poderiam ser dispensados. “Até porque, tem um monte de esqueletos, como contratos públicos e operações de crédito e dólar feitos pelo Banco Central que não estão nessa conta dos R$ 80 bilhões”, alfinetou Renan, ao criticar a estratégia adotada até o momento pelo Planalto de restringir a tesourada a direitos previdenciários e trabalhistas.

Lula participou nessa quarta-feira de jantar com a bancada de senadores do PT e ainda teria um encontro com a cúpula do PMDB do Senado.

Mais cedo, foi a vez de o vice-presidente da República, Michel Temer, reunir-se com a bancada do PMDB da Câmara, enquanto o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), tomava café com as centrais sindicais. Em todos os encontros, ficou patente que o apoio poderá até vir, mas terá de ser conquistado a duras penas.

O cacique petista – que há tempos aconselha a presidente Dilma Rousseff a ser mais incisiva na defesa das medidas econômicas, para conseguir levar o PT, os movimentos sociais e os sindicatos para o lado dela – ouviu nessa qurata-feira muitas queixas da bancada de seu partido no Senado. No jantar, com a presença do presidente da legenda, Rui Falcão, e do chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, os petistas tinham muito do que reclamar a Lula. Desfiaram o rosário da escassez de atenção do Planalto, da ausência de diálogo da presidente e da completa falta de habilidade política na articulação governamental, temas recorrentes ao longo do primeiro e início do segundo mandato da petista.

Emendas

A falta de apoio a Dilma se traduz nas mais de 500 emendas apresentadas às medidas provisórias em tramitação – muitas de autoria do próprio PT. “Vai ter que mudar. Do jeito que estão, as propostas não passam”, afirmou o senador Delcídio Amaral (PT-MS). São justamente os problemas internos do PT que fazem com que o PMDB se sinta à vontade. “O PT tem que nos provar – e provar à sociedade – que o remédio amargo de agora trará benefícios no futuro”, justificou o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ).

Os deputados peemedebistas também defenderam a inclusão de Michel Temer no conselho político que assessora a presidente Dilma, batizado de G-6. “O PT acha que não fizemos uma coalizão, mas uma fusão, com eles no comando”, ironizou o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).

Quarentena para fusão de partidos

A Câmara aprovou nessa quarta-feira o projeto de lei que estipula a quarentena de cinco anos para a fusão de partidos após a criação de uma sigla. O texto, que ainda precisa passar pelo Senado, foi apresentado pelo líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE). A proposta é considerada “sob medida” para atrapalhar os planos do presidente do PSD e ministro das Cidades, Gilberto Kassab, que trabalha para criar o Partido Liberal (PL), que seria posteriormente fundido com o PSD. O projeto foi apoiado por peemedebistas e parlamentares de oposição, que temem perder correligionários para o novo partido de Kassab. PT e outras siglas da base promoveram uma guerra regimental para evitar que o projeto fosse votado.
Os petistas desejam a criação do PL, que reduziria a dependência do governo em relação ao PMDB.

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