Digo isso a propósito do pré-sal. Como crianças desavisadas, vimos o céu no fundo mar. Tornamos disfuncional a exploração (modelo de partilha do óleo com a Petrobras, necessariamente sócia em 30% de qualquer descoberta de terceiros habilitados a perfurar o subsolo marinho, a 6 mil metros). O resultado foi o desinteresse de muitos e sobrecarga para a estatal. Como se não bastasse, novos leilões exploratórios não foram feitos, evitando a entrada de outros players nas reservas do Brasil.
Os governos Lula-Dilma na área de petróleo e gás foram lenientes patronos de péssimas governanças corporativas, levando as ações a perderem 80% do valor que ostentavam (crime de lesa-pátria).
Os efeitos dos cinco anos sem leilões da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), entre 2008 e 2013, atingiram este ano o seu pico sobre a indústria de óleo e gás no Brasil. De acordo com o Banco de Dados de Exploração e Produção da ANP, o número de poços exploratórios perfurados este ano no país, até dezembro, foi o pior desde 2002. Ao todo, foram perfurados 81 poços entre janeiro e novembro, o que representa uma queda de 30% na comparação com igual período do ano passado. "Sem áreas para explorar, não tem perfuração” diz a ANP. Esse recuo é, sem dúvida, fruto dos anos sem leilões, um resultado esperado pela indústria.
A própria Petrobras reduziu seus investimentos em exploração por falta de dinheiro e de novas áreas, comenta o consultor e ex-diretor da ANP David Zylbersztajn. Aduz o analista: “A retração nas atividades de exploração no Brasil gera impactos não somente na renovação das reservas provadas de óleo e gás do país, como impacta os negócios da cadeia de fornecedores. No rastro do menor ritmo das petroleiras, empresas globais como Tenaris (controlada do grupo ítalo-argentino Techint), a americana Baker Hughes e a francesa Vallourec, por exemplo, vêm reportando queda de receita no mercado brasileiro nos últimos meses e já colocam o país como principal responsável no recuo de negócios na América Latina”. A Arábia Saudita, cujo custo é de US$ 8 o barril, mantém o preço em US$ 50 para prejudicar o Irã e a Rússia e sobretudo para matar o xisto dos EUA, mas tornará o pré-sal inviável (custo por barril na média de US$ 50). Esse preço é mortal.
A presidente, ao manter a atual diretoria da Petrobras, quer isentá-la de culpa? Em verdade, é um gesto teimoso, de uma impropriedade política colossal, a menos que seja para assinarem o balanço da empresa, e assim ficarem responsáveis pelo que fizeram de 2010 a essa data, que ninguém no país quer assumir risco tão grande.
Renovar a diretoria e o conselho da Petrobras com técnicos competentes da casa e pessoas testadas no mundo empresarial daria um choque de esperança e credibilidade aos acionistas nacionais e estrangeiros, como o primeiro passo para salvar a empresa. Ativar os leilões, mudar o regime de exploração e libertar o preço dos combustíveis do controle do governo, para fazer caixa, seriam passos imediatos para reanimar a empresa, com a recomendação de rever, em regime de urgência urgentíssima, os procedimentos gerenciais.
Mas, a presidente está paralisada e o quadro de descrédito só faz crescer, piorando a situação da empresa mundo afora. No fundo, milhões de pessoas se perguntam quais são os motivos para persistir na manutenção da atual diretoria e conselho de administração da combalida Petrobras, outrora a maior empresa do Brasil.
E não compreendem a lógica de comprar óleo e derivados do exterior e revendê-los com prejuízo. Somente irresponsáveis gerem empresas com cotação nas bolsas internacionais dessa maneira. Patrimonialismo é exatamente isso: usar o poder e o patrimônio público para satisfazer interesses pessoais e partidários.
Sacha Calmon
Advogado, presidente da Associação Brasileira de Direito Financeiro (ABDF) no Rio de Janeiro.