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Estado de Minas

Prefeitos de todo país perdem posto de "coronéis" na eleições 2014

Prefeitos reduziram poder de carrear apoio para seus candidatos na corrida presidencial, indicam pesquisadores, com base nos resultados locais da disputa deste ano


postado em 28/12/2014 06:00 / atualizado em 28/12/2014 08:09

Bertha Maakaroun

Os prefeitos dos municípios brasileiros podem até ainda influenciar pequenos grupos com seu apoio a candidatos nas eleições para deputado estadual e deputado federal. Mas os resultados que saltam da disputa eleitoral de 2014 para a Presidência da República colocam em xeque o tradicional coronelismo, velha prática em que “líderes” locais reafirmavam o “poder de convencimento”, carreando milhares de votos de cabresto aos seus candidatos. Pelo país afora, em grandes, médias ou pequenas cidades, prefeitos do PT, do PSDB e do PSB, em geral, não conseguiram resultados nas urnas que demonstrassem o poder de seu apoio a nenhum dos três principais candidatos ao Planalto no último pleito: Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB).

O desempenho eleitoral dos presidenciáveis nos municípios foi independente em relação ao partido político do prefeito. Foi assim que Dilma se saiu melhor em algumas cidades governadas pelo PSDB, e Aécio teve mais votos em outras comandadas pelo PT. Ao mesmo tempo, ter prefeito do PSB não significou garantia de melhor desempenho nas urnas para Marina Silva.
Em trabalho desenvolvido no Laboratório de Estudo do Estado e da Sociedade Civil, o cientista político e professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense Vitor de Moraes Peixoto, ao lado de seu orientando do Programa de Sociologia Política Nelson Motta Goulart, consideram: “Houve um tempo em que controlar a política local significava, automaticamente, transferir votos para o candidato apoiado no plano nacional. Mas agora os tempos são outros. Em 2014, os candidatos do PT e do PSDB não tiveram um volume de votos em cidades governadas por seus partidos ou aliados muito diferente da média nacional”. A constatação valeu também para prefeitos do PSB em relação a Marina Silva.

Em todo o país, os prefeitos contaram pouco para a decisão do eleitor na eleição presidencial. Nas 633 cidades governadas pelo PT, Dilma Rousseff obteve, no segundo turno, em média, 55,35% dos votos contra 44,65% de Aécio. Essa distribuição também variou pouco nas 708 cidades governadas pelo PSDB: 47,41% dos votos foram para Aécio e 52,59% para Dilma. Em cidades com prefeitos de partidos aliados os resultados também não foram muito diferentes. Nos 1.020 municípios administrados por peemedebistas, Aécio conquistou, em média, 43,59%, e Dilma, 56,41%. Já nas 438 cidades comandadas por prefeitos do PSB, legenda que apoiou Aécio, Dilma obteve o melhor desempenho médio: 65,93% dos votos contra 34,07% de Aécio.

Em Minas Gerais, não faltam casos de independência do eleitor em relação ao comando dos prefeitos. No primeiro e no segundo turnos, cidades governadas pelo PSDB, como Barbacena e Além Paraíba, na Zona da Mata, Itamarandiba, no Vale do Jequitinhonha/Mucuri, Aguanil, na Região Centro-Oeste, e Águas Vermelhas, na Região Norte, deram vitória a Dilma Rousseff. Em municípios administrados por prefeitos petistas, como Arapoã, no Triângulo Mineiro, e Baldim, na Região Central, Aécio Neves venceu a petista. Em Aiuruoca, na Região Sul, administrada pelo prefeito Joaquim Mateus de Sene (PSB), dos 3.532 votos válidos no primeiro turno, Aécio Neves obteve 48,19%, Dilma, 46,63% e Marina, 5,61%. Já em Além Paraíba, na Zona da Mata, governada pelo prefeito Fernando Lúcio Ferreira Donzeles (PSB), dos 20.424 votos válidos no primeiro turno, Dilma ficou com 53,01%, Aécio com 23,01% e Marina com 21,25%.

Emancipação A emancipação do eleitor chega na esteira da obtenção de informações diretamente das fontes por meio de sites e redes sociais e também do acesso direto aos benefícios de políticas sociais. “Até o início dos anos 2000, havia um entendimento de que ter o apoio de prefeitos era a base para ser presidente da República. Os partidos políticos acreditavam que era necessário se enraizar pelo país para alcançar o Planalto. Só que a eleição para prefeito está desvinculada da eleição para presidente da República”, afirma o pesquisador e cientista político Vítor de Moraes Peixoto. Na hora de contar votos, pesam muito mais políticas com capacidade de promover, ao longo do tempo, o desenvolvimento humano e a redução das desigualdades de renda, afirma ele.

Peixoto e Goulart buscaram relações entre a proporção de novas habitações construídas nos municípios por meio do Programa Minha casa, minha vida e o desempenho eleitoral de Dilma Rousseff. “A cada quatro pontos percentuais de novas casas construídas nas cidades em relação ao estoque original, Dilma somou um ponto percentual a mais à sua média de votos”, explicam os pesquisadores. O Bolsa Família apresentou ainda um impacto maior na decisão do voto. “A cada dois pontos percentuais de crescimento do programa, Dilma aumentou um ponto percentual sobre a sua votação média”, afirmam os cientistas.

Associação aponta processo ‘diluído’

O declínio dos coronéis é a ascensão das políticas públicas, admite o presidente da Associação Mineira dos Municípios, Antônio Andrada (PSDB). “A realidade política mudou, e com as redes sociais, a internet e a circulação da informação, o processo eleitoral que estava antes concentrado nas mãos dos chefes locais agora se diluiu”, afirma Andrada, prefeito de Barbacena.
Ele ressalta que hoje o cidadão tem como saber claramente o que é iniciativa do governo municipal ou das outras instâncias do Executivo (estadual e federal). “Os prefeitos executam políticas públicas federais que são de amplo conhecimento da população. Aquilo que no passado parecia dádiva do governo local, há hoje clareza de que se trata de um programa nacional e o município é apenas o órgão executor”, afirma Andrada.

O fim da era “Coronelismo, enxada e voto” é marcado pela ascensão de políticas nacionais. “Esses programas têm muita força, sobretudo nas camadas da população mais dependentes. A informação sobre eles está na internet, nas redes, em todo lugar. “O prefeito deixou de ter papel protagonista na comunicação com o eleitor”, afirma.

Cidade de porto médio da Zona da Mata mineira, Barbacena foi uma das que apontaram resultados nas urnas divergentes da direção adotada pelo prefeito, nesse caso, tucano. No primeiro turno, dos 69.358 votos válidos para a Presidência da República, Dilma Rousseff (PT) obteve 53,21%, Aécio Neves (PSDB) 31,59% e Marina 11,6%. No segundo turno, a petista ficou com 64,13% e o tucano com 35,87%. (BM)


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