"É uma realização muito grande. São 43 anos esperando. Agora quero cumprir a meta da minha mãe, que era enterrá-lo. Nós já sabíamos que meu irmão tinha sido assassinado pelo regime. Stuart não é uma ficção. Ficção quem fez foram os militares, que transformaram em terroristas os aterrorizados", afirmou Hildegard. À CNV, o capitão reformado Álvaro Moreira de Oliveira Filho revelou que o corpo de Stuart fora enterrado na cabeceira da pista da base da Aeronáutica de Santa Cruz, na zona oeste do Rio.
Este ano, com a investigação da CNV, a ossada foi identificada por peritos das universidades de São Paulo (USP) e de Northumbria, da Inglaterra, como sendo de Stuart, por meio de uma análise comparativa craniofacial. Mas só com o confronto com o DNA das irmãs vai ser possível afirmar com 100% de garantia que se trata mesmo dele. Hildegard já fez sua coleta, e foi até o interior da França, onde mora a irmã, para colher o material genético dela. "Estou convencida de que é dele. A imagem do crânio foi comparada com a de negativos de fotografias de Stuart, e se sabe que crânio é como impressão digital, não há dois iguais", disse Hildegard, que recebeu a confirmação preliminar em setembro, e desde então não se pronunciou publicamente sobre o caso porque a CNV lhe pediu discrição.
O caso de Stuart, então militante do grupo de esquerda MR-8, é notório porque sua mãe, estilista influente e de reconhecimento internacional, jamais se calou: apelou a autoridades do Brasil e no exterior (ele tinha pai norte-americano e, por isso, dupla cidadania) por informações do paradeiro do filho, incomodando o regime. O jovem foi preso, espancado e torturado durante horas, e teve o corpo arrastado por um jipe pelo pátio da Base Aérea do Galeão, com a boca próxima ao cano de descarga, inalando gás tóxico. De lá foi levado para Santa Cruz.
Zuzu acabaria morrendo cinco anos depois, num acidente de carro de circunstâncias nebulosas - em julho desse ano, o surgimento de uma foto cedida por um ex-delegado do Dops à CNV fortaleceu a suspeita de que a colisão que a vitimou possa ter sido provocada por militares: o coronel do Exército Freddie Perdigão aparece na imagem em frente ao automóvel capotado da estilista.
Hildegard espera que o sepultamento de Stuart reconforte também as famílias que nunca puderam se despedir de seus entes assassinados pela ditadura. "Quero que elas se sintam representadas". Satisfeita com o trabalho da CNV, concluído semana passada, e favorável à revisão da Lei da Anistia, ela não aceita o argumento de que as ações dos grupos de resistência deveriam ser investigadas também. "Os militares tinham o poder. Estupraram, torturaram, cometeram crimes imprescritíveis. Eles venceram a guerra e contaram a história da maneira que eles quiseram. Não existe outro lado.".