Jornal Estado de Minas

Pezão derrota Crivella e é reeleito governador do Rio de Janeiro

O governador acusou o adversário, que é bispo licenciado da Igreja Universal, de misturar política e religião

Jorge Macedo - especial para o EM

Reeleito governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), de 59 anos, fez campanha apresentando-se como um homem simples e interiorano.

Ontem, em Piraí, cidade do Sul do estado que administrou, ele fez questão de parar num boteco para comer pastel e tomar cerveja ao lado de correligionários.

Vice-governador, Pezão assumiu o comando do Rio de Janeiro em abril, depois da renúncia de Sérgio Cabral (PMDB). Ele buscou se desvincular de Cabral, que renunciou com a popularidade em baixa depois dos protestos de junho de 2013. O sucessor defendeu as políticas públicas da gestão peemedebista, como as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), mas evitava mencionar o nome do antecessor.

Pezão derrotou ontem o senador Marcelo Crivella (PRB), bispo licenciado da Igreja Universal. O governador acusou o adversário de misturar política e religião. Veiculou propagandas atacando práticas da cúpula da Universal e de seu líder, o bispo Edir Macedo, tio de Crivella.

O governador articulou ampla coligação com 18 partidos – tinha quase a metade de todos os 20 minutos do tempo de TV dos candidatos ao governo, oito vezes o de Crivella. A base do governador reeleito apoiava cinco candidatos a presidente: Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB), Pastor Everaldo (PSC), José Maria Eymael (PSDC) e Levy Fidelix (PRTB). Pezão sempre foi Dilma, mas não tentou evitar que parte do PMDB apoiasse Aécio –  movimento que ficou conhecido como “Aezão”.
Crivella contava com um recall fortíssimo.
Desde 2002, o nome dele esteve na urna eletrônica por seis eleições. Venceu e foi reeleito apenas para o Senado. No Executivo, Crivella perdeu duas vezes a disputa da prefeitura carioca e uma vez do governo do estado.

Estratégia Pezão traçou duas estratégias: apresentar-se ao eleitor, que desconhecia o vice-governador, e descolar a sua imagem de Cabral. Se o antecessor se degastou em passeios de helicóptero e demonstrações de ostentação em jantares em Paris ao lado de empresários, Pezão foi apresentado na TV como um homem simples, o prefeito de Piraí, cidade do interior com 28 mil habitantes, e o vice-governador que pôs o pé na lama quando chuvas arrasaram a Região Serrana, em 2011.

A mãe do governador, Ercy de Souza, de 84, foi o principal cabo eleitoral do filho na TV. Costumava aconselhá-lo a “ter sempre o pé no chão”.

Durante o governo Sérgio Cabral, Pezão foi secretário de Obras e, a partir de 2011, coordenador de infraestrutura. Consolidou a imagem de tocador de obras ao gerenciar as intervenções do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no estado. Ao executar o programa, ele se tornou amigo da presidente Dilma Rousseff.

Nascido em Piraí (RJ), cidade com 28 mil habitantes, Pezão ascendeu à política estadual graças à aliança com o ex-governador Anthony Garotinho (PR), a quem enfrentou no primeiro turno. Os dois romperam em 2007, no início do governo Cabral, por divergências políticas. Durante a campanha, trocaram acusações de vínculos com milícias e corrupção. Pezão foi prefeito por dois mandatos em Piraí, em 1997 e 2004.

 

Rio Grande do Sul

 

O peemedebista José Ivo Sartori, de 66 anos, vai comandar o Rio Grande do Sul. Ontem, ele derrotou o governador petista Tarso Genro. Ex-prefeito de Caxias do Sul, maior município do interior gaúcho, Sartori impôs uma derrota à principal aposta do PT na disputa nos estados no segundo turno.

Com esse resultado, o Rio Grande do Sul mantém a tradição de não reeleger o governador nas últimas décadas – é o único estado que não reconduziu um governante ao cargo desde 1998, quando a reeleição foi instituída.

Sartori começou a campanha desacreditado: tinha 7% na primeira pesquisa Datafolha, em agosto. Desconhecido do eleitorado, formou coligação que lhe rendeu o segundo maior tempo de TV no primeiro turno e contou com a força do PMDB no interior gaúcho.

O vice é o empresário José Paulo Cairoli (PSD).

A vitória do peemedebista é um desfecho surpreendente para a campanha marcada pela polarização entre Tarso e a senadora Ana Amélia Lemos (PP), ex-apresentadora de TV do grupo RBS. A troca de acusações fez com que ela perdesse espaço, ocupado por Sartori. No primeiro turno, ele venceu o petista por oito pontos – 40% a 32%.

Os petistas atribuíram o crescimento do peemedebista ao “marketing” e a “truque publicitário”, tentaram rotulá-lo como um candidato “vazio”. O PT exibiu na TV o trecho de uma entrevista em que Sartori fez piada sobre o piso nacional do magistério. Ele contra-atacou, tachando Tarso de “alucinado” e “manipulador”.

Sartori enfrentará o desafio de solucionar a situação das finanças estaduais: proporcionalmente, o Rio Grande do Sul é o estado mais endividado do país.

 

Distrito Federal


Brasília – O senador Rodrigo Rollemberg (PSB) foi eleito governador do Distrito Federal por 812 mil votos. Seu adversário, Jofran Frejat (PR), obteve 649,5 mil. O resultado na capital do país foi o primeiro a ser confirmado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), às 17h40.

Rollemberg acompanhou a apuração no seu apartamento, na Asa Sul de Brasília. O placar final representa a derrota do grupo político do ex-governador José Roberto Arruda (PR), que desistiu da disputa, sob risco de ter a candidatura cassada pela Justiça.

Jofran Frejat, até então candidato a vice na chapa do ex-governador, assumiu o posto, tendo a mulher de Arruda, Flávia Peres, como vice.

A disputa brasiliense se acirrou na reta final. Em meados de outubro, Frejat prometeu baixar as tarifas de ônibus para
R$ 1.

O tema dominou os debates no últimos dias e deu início a uma curva de ascensão do candidato do PR.

Rollemberg adiantou que vai iniciar ainda esta semana as conversas de transição com o governador Agnelo Queiroz (PT). Segundo ele, a primeira medida de sua administração será “radicalizar na transparência”, com a criação de um conselho formado por entidades da sociedade civil para acompanhar os projetos e gastos do governo. Ele prometeu divulgar os dados dos contratos do DF em painéis e abrir a senha para acompanhamento do orçamento pela população.

“Nós não vamos aparelhar o governo. Vamos fazer um governo com metas e resultados, com pessoas qualificadas”, afirmou. “A situação é realmente muito difícil. Existe um déficit, já assumido pelo atual governo, de
R$ 2,1 bilhões. Vamos estudar na transição quais serão as medidas que nos permitirão equilibrar financeiramente o DF”, declarou.

 

Mato Grosso do Sul


Governador eleito do Mato Grosso do Sul, o tucano Reinaldo Azambuja, deputado federal e proprietário rural, é tido pelo eleitorado como um “outsider”. Aos 51 anos, reservado, ele mantém o “erre” interiorano. Discreto, sorri pouco. Os aliados garantem: ele gosta de ouvir.

Foi ouvindo que Azambuja, filho de agropecuaristas e um dos candidatos mais ricos do país – seu patrimônio soma
R$ 37 milhões –, projetou-se na política. O novo governador começou a carreira como prefeito de Maracaju, no interior do estado, aos 33 anos. Reeleito, deixou o cargo com alta aprovação. Dois anos depois, foi o deputado estadual mais votado do estado e, em 2010, elegeu-se deputado federal.

Candidato ao governo pelo PSDB, ele veio quebrar a polarização entre PT e PMDB, que se alternam no poder há 20 anos no Mato Grosso do Sul. Lançou-se candidato a prefeito de Campo Grande dois anos atrás, rompendo com o PMDB do governador André Puccinelli, seu aliado. Ontem, venceu o petista Delcídio do Amaral, o mais votado no primeiro turno.

A candidatura de Azambuja se consolidou depois de uma caravana política lançada por ele há um ano, que passou pelos 79 municípios do estado e coletou queixas da população. O tucano prometeu transparência, combate à corrupção e mudança. Deu certo – ele virou o jogo contra o PT.

Goiás

O tucano Marconi Perillo foi reeleito para governar os goianos. Ele venceu com folga o adversário Iris Rezende (PMDB) e contará com a maioria da Assembleia Legislativa, pois sua coligação contará com 63% dos 41 deputados estaduais.

Foi a terceira vez que Marconi Perillo e Iris Rezende se enfrentaram pelo cargo – todas foram vencidas pelo candidato do PSDB.

No segundo turno, a campanha foi marcada pela comparação entre as gestões do tucano e do peemedebista, que governou Goiás de 1983 a 1986 e de 1991 a 1994.

Perillo, que no primeiro turno obteve 46% dos votos, 18 pontos à frente de Rezende, intensificou as agendas em cidades onde perdeu em 5 de outubro, como Goiânia, Senador Canedo e Aparecida de Goiânia.

Em sua propaganda eleitoral, o tucano destacou projetos sociais de sua administração como o Cheque Moradia e o Restaurante Cidadão, prometendo integrá-los a programas federais como o Minha Casa, Minha Vida.

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