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Estado de Minas

Desinteresse de brasileiros pela Copa surpreende especialistas

Entre as cidades, Belo Horizonte, Vitória e o interior de São Paulo reúnem a maior parte dos insatisfeitos


postado em 27/05/2014 09:01

Faixa contra a Copa em protesto no Rio de Janeiro, em março passado: população decepcionada com promessas descumpridas(foto: Yasuyoshi Chiba/AFF Photo)
Faixa contra a Copa em protesto no Rio de Janeiro, em março passado: população decepcionada com promessas descumpridas (foto: Yasuyoshi Chiba/AFF Photo)

A sensação de revolta e de insatisfação começa a superar uma paixão nacional. Num movimento quase inédito, o brasileiro está deixando o amor pelo futebol de lado para lutar por conquistas sociais. Nas rodas de amigos, a discussão futebolística tem dado espaço aos debates políticos numa clara mudança de comportamento. Pesquisa revelada pelo Ipsos Media CT — área especializada em mídia e tecnologia— reforça o desinteresse de brasileiros na Copa do Mundo: 32% da população do interior de São Paulo, a região com maior índice de abnegação, não querem saber do evento.

O descontentamento com o campeonato no país segue quase que generalizado. Belo Horizonte e Vitória aparecem em seguida, com 31% de desinteressados, cada uma; Curitiba, com 30%, e São Paulo, com 29%. “Com tantas manifestações acontecendo às vésperas da Copa do Mundo, o brasileiro fica desmotivado com o campeonato”, analisou o diretor de contas da Ipsos Media CT, Diego Oliveira. As cidades que demostraram maior interesse no Mundial são Fortaleza e Salvador, com 24%. A capital cearense também foi considerada a cidade que mais acredita na vitória do Brasil nesta Copa com 54%, seguida por Brasília (49%), Salvador (49%) e Goiânia (48%).

Especialistas ouvidos pelo Correio relacionam a rejeição ao Mundial à decepção com promessas descumpridas por políticos anos antes da Copa. “Quando se coloca um estádio de futebol enorme numa cidade onde o sistema de saúde não consegue atender a população e você não tem médico nos hospitais, nasce uma indignação e um sentimento de revolta na população”, analisou o presidente da Associação Brasileira de Consultores Políticos, Carlos Manhanelli. “O pessoal está sendo tratado como gado, mas está mostrando que não é bem assim, que não vai aceitar isso”, disse o especialista.

“Há sete anos, quando o Lula (ex-presidente) trouxe a Copa para o Brasil, queria transformar o evento num cartão de visita do país para o mundo. Mas quem pagaria por isso? Os custos estão sendo altos e quem paga é o povo”, frisou o sociólogo Marcelo Barra, da Universidade de Brasília. Outra pesquisa também divulgada neste mês demostra que o pessimismo dos brasileiros com o Mundial está ligado à ausência do tão prometido legado. Dados do Instituto QualiBest, coletados entre 17 e 24 de abril, revelam que 67% dos entrevistados concordam que, em vez de deixar um “legado”, a Copa deixará um “ônus”.

Segundo o cientista político Leonardo Barreto, a competição aqui está muito mais politizada do que na África do Sul, em 2010, ou na Alemanha, em 2006. “Não me lembro de presenciar problemas tão profundos em outros locais. E essa politização não é partidária, é espontânea, não é claramente organizada por organizações sociais de candidatos. São manifestações associadas à insatisfação com o dito legado mais prometido que entregue. E por mais que tenham sido entregues obras, há o questionamento se seriam prioritárias.”

Redes sociais


Ferramentas importantes na mobilização de manifestantes para as ruas, as redes sociais ajudaram a fortalecer os movimentos contrários ao Mundial. Num simples clique, pessoas com ideologias afins se encontram e combinam protestos. As manifestações de junho do ano passado ganharam força após a maciça divulgação nos sites de relacionamento. “É uma ferramenta que acaba convocando adeptos, agrupando para uma participação social nas ruas. Costumo dizer que a internet serve para encontrar as pessoas que estão pensando como você. A televisão vende, mas a internet você compra. Você entra para procurar o que você quer, uma ferramenta de busca”, explicou.

Nessa unificação, uma onda contrária se unificou na hashtag #nãovaitercopa. Só ontem, o comando recebeu 1,5 mil citações: 478 tuítes originados, 883 retuítes e 139 mensagens postadas. No auge das postagens, por volta da meia-noite a citação contra a Copa apareceu 206 vezes. O número é maior que a campanha #vaitercopa, criada por otimistas para reforçar que a realização do evento mesmo com pouca torcida. Às 7h de ontem, pico das mensagens, foram registradas 192 postagens positivas naquela hora.

Paralelamente à discussão se vai ou não ter o Mundial, críticas às declarações do ex-jogador Ronaldo Fenômeno — que se considerou envergonhado com os atrasos nas obras da Copa — superaram as postagens. Das 7h às 9h de ontem, foram disparados 1,2 mil posts #tenhovergonhadoronaldo. Em uma só hora, foram registradas 398 mensagens no Twitter.


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