Jornal Estado de Minas

Banco vai pagar quase R$ 50 mi a São Paulo por ter movimentado dinheiro desviado por Maluf

Em contrapartida, acordo prevê que instituição alemã não será alvo de ação judicial

Acusado de desviar recursos da prefeitura da capital paulista, o deputado federal Paulo Maluf está desde 2010 na lista de procurados da Interpol - Foto: Iano Andrade/CB/D.A Press - 6/11/13
Brasília – O Ministério Público de São Paulo, a prefeitura da capital paulista e o Deutsche Bank firmaram nessa segunda-feira acordo em que a instituição alemã se compromete a pagar aos cofres públicos US$ 20 milhões (aproximadamente R$ 47 milhões) por ter sido usada para movimentar dinheiro que teria sido desviado pelo agora deputado federal Paulo Maluf (PP-SP) quando ele foi prefeito da cidade.

O banco alemão aceitou pagar a indenização em troca da garantia de que não será alvo de ação judicial. Em um processo no Judiciário, o Deutsche Bank poderia ser acusado de negligência pela movimentação de cerca de US$ 200 milhões em contas no exterior por parentes de Maluf. De acordo com o Ministério Público, durante toda a investigação, o banco alemão colaborou, mas, no acordo, não há qualquer admissão de culpa pela instituição financeira. “Trata-se de mais um passo no combate à corrupção, além de ser uma forma efetiva de reparação dos danos produzidos por esses atos”, disse o procurador-geral de Justiça, Márcio Elias Rosa.

A assessoria de Paulo Maluf informou que não se manifestaria porque o nome dele não foi citado. Também ressaltou que o deputado não tem e nunca teve conta no exterior. Em nota, o banco alemão manifestou satisfação com o acordo. “O Deutsche Bank está satisfeito em resolver essa questão, após ter cooperado totalmente com as autoridades ao longo da investigação”, diz o texto.

Pelo acordo, o valor destinado à Prefeitura de São Paulo será usado na implantação de creches, hospitais, escolas e parques municipais. A previsão é que o dinheiro deve ser liberado em 60 dias.
Serão destinados US$ 18 milhões à prefeitura; US$ 1,5 milhão aos cofres do estado; US$ 300 mil ao Fundo Estadual de Interesses Difusos e US$ 200 mil a dois processos que tratam de denúncias contra o ex-prefeito, para perícias e inspeções judiciais.

O Ministério Público, a Polícia Federal e a prefeitura constataram que, na gestão de Maluf (1993-1996), houve desvio de cerca de US$ 340 milhões das obras da Avenida Água Espraiada (atual Avenida Roberto Marinho) e do Túnel Ayrton Senna. Segundo o Ministério Público, dos US$ 200 milhões remetidos para a Ilha de Jersey (paraíso fiscal britânico), cerca de US$ 93 milhões foram investidos entre 1997 e 1998 na Eucatex, empresa controlada pela família Maluf.

Em nota, a prefeitura informou que o município usará o dinheiro na aquisição ou na desapropriação de áreas para construção de parques municipais e instalação de equipamentos sociais na cidade. O governo municipal ressalta que, caso o estado de São Paulo abra mão de sua parte na indenização, por não ser vítima nem ter sido prejudicado no desvio de dinheiro das obras, o valor também será revertido à capital.

Segundo a nota, o acordo assinado nessa segunda-feira não encerra as ações ajuizadas no Brasil e no exterior contra os demais réus nem atinge o total dos prejuízos sofridos pela prefeitura com o caso. O Ministério Público informou que estão sendo negociados acordos com mais três bancos que movimentaram dinheiro do ex-prefeito: os suíços UBS de Zurique e Citybank Genebra e o Safra de Nova York. Caso sejam firmados os acordos, a expectativa é que os três desembolsem até US$ 60 milhões a título de indenização..