Jornal Estado de Minas

Haddad e Kassab tentam contornar o desgaste causado com máfia da propina

Dirigentes partidários pregam união em nível nacional

Correio Braziliense
PT, PSD e Planalto juram que as desavenças públicas entre o atual prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), e o antecessor, Gilberto Kassab (PSD), por causa das investigações da máfia da propina na prefeitura paulistana, não serão suficientes para afastar as legendas no plano nacional. Tampouco serão empecilho para uma aliança no eventual segundo turno na disputa ao governo paulista. “Nossa relação está bem consolidada em cidades importantes, como Campinas e São Bernardo do Campo”, disse o deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP), que foi coordenador da campanha de Marta Suplicy à prefeitura paulistana em 2008, contra o próprio Kassab, no primeiro grande episódio de desavenças entre petistas e o ex-prefeito (veja quadro).
Salvo rusgas pontuais, Zarattini acredita que Haddad buscou, a todo momento, preservar o pessedista durante a divulgação do escândalo de que auditores fiscais deram um prejuízo de R$ 500 milhões à prefeitura de São Paulo na gestão Kassab. “Haddad sempre foi cuidadoso ao afirmar que não se pode acusar sem provas”, declarou o parlamentar do PT. Zarattini, contudo, admitiu que o atual prefeito exagerou ao afirmar que a gestão anterior tinha sido um “descalabro”. “Foi uma riscada na lataria”, comparou.

Em viagem oficial ao Peru, a presidente Dilma Rousseff não quis se envolver na questão ontem. Ao ser indagada se as investigações de pagamento de propina em São Paulo poderiam atrapalhar a relação entre PT e PSD, ela respondeu que não era o momento adequado para discutir esse tipo de assunto. “Estou aqui fazendo uma visita de Estado e vocês estão perguntando de eleição?”, reclamou Dilma.

No entanto, um sinal de que há um esforço mútuo para azeitar as relações no plano nacional foi a decisão do ministro da Secretaria da Micro e Pequena Empresa, Guilherme Afif Domingos (PSD), de permanecer no cargo às vésperas da reforma ministerial. Ele poderia se desincompatibilizar para concorrer a uma vaga no Legislativo, mas avisou que permanecerá no governo federal.

Parceria

O secretário-geral do PSD, Saulo Queiroz, confirma que o partido vai manter a aliança com Dilma, porque a parceria é a melhor para os planos de crescimento da legenda. Desde o início do ano, Kassab tem feito consultas aos diretórios estaduais da sigla e sempre recebeu o aval para concretizar o apoio à reeleição da presidente. “O único caminho para crescermos a nossa bancada de deputados federais é estar ao lado de Dilma. Em qualquer um dos outros cenários, nós perdemos força”, avaliou Queiroz.

O dirigente acredita que nem o escândalo da propina nem a intenção de o PSD lançar nome próprio na disputa pelo governo paulista afetarão as relações na esfera nacional. Queiroz lembra que Kassab está convencido da necessidade de se lançar ao Palácio dos Bandeirantes como uma estratégia para fortalecer o partido no estado. Num eventual segundo turno, caso a disputa se polarize entre o governador, Geraldo Alckmin (PSDB), e o provável candidato do PT, Alexandre Padilha, também não haveria dificuldades para o PSD se definir. “Não há, em hipótese nenhuma, possibilidade de Kassab se unir ao Alckmin”, assegurou.

Em 2008, quando concorreu à reeleição para a prefeitura de São Paulo, Kassab provocou um racha no PSDB, comandado pelo então governador de São Paulo, José Serra. Apesar de os tucanos terem anunciado a candidatura de Geraldo Alckmin, Serra ficou ao lado de Kassab, que acabou derrotando a petista Marta Suplicy no segundo turno.

Relação turbulenta


A relação entre o PT e o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab nunca foi tranquila. Pelo contrário. Em 2008, quando disputava a reeleição à prefeitura paulistana contra Marta Suplicy, a petista errou na mão ao questionar, durante propaganda no horário eleitoral gratuito, sobre a vida pessoal de Kassab. Ao mostrar uma foto do então candidato pelo DEM, surgiu a pergunta: “Você sabe se ele é casado? Tem filhos?”.

Apesar do empenho explícito do Planalto e da cúpula petista — incluindo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva — por uma aliança nas eleições municipais de 2012, Kassab foi muito vaiado durante cerimônia de comemoração dos 32 anos do PT, em fevereiro do ano passado. Até então, a parceria estava bem encaminhada, mas o tucano José Serra decidiu concorrer à prefeitura e Kassab apoiou o PSDB. (PTL)