Jornal Estado de Minas

Filho de José Alencar é curinga do PMDB com ou sem PT

Apadrinhado pelo ex-presidente Lula, o empresário Josué Gomes da Silva é cotado para candidato ao governo ou Senado, mesmo que o PMDB decida não repetir a aliança de 2010

Daniel Camargos
Josué (E) foi prestigiado (na sequência) por caciques como Roberto Requião, Valdir Raupp e Clésio Andrade; Saraiva Felipe, presidente estadual do PMDB; e Mauro Lopes, secretário-geral - Foto: Leandro Couri/EM/D.A Press
Recém-chegado ao PMDB, o empresário Josué Gomes da Silva, presidente do Grupo Coteminas, já é apontado como um curinga na disputa eleitoral do ano que vem. Com o peso político de ser filho do ex-vice-presidente José Alencar (PMDB) e apadrinhado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o executivo da indústria têxtil é cogitado por peemedebistas para vários cargos, desde a candidatura própria ao governo de Minas, passando por compor chapa com o PT, tentar um posto no Senado e até substituir Michel Temer na chapa encabeçada pela presidente Dilma Rousseff (PT).


Na companhia de caciques nacional e estaduais do PMDB, Josué afirmou nessa segunda-feira ser um soldado do partido. “O soldado pressupõe estar preparado para trabalhar em prol do partido e vir a ser candidato”, pontuou. Apesar de se esquivar de assumir um compromisso eleitoral, o empresário fez discurso de candidato, com críticas ao governo estadual, comandado há dez anos pelo PSDB. “O povo deseja mudança em Minas Gerais. Isso é natural. A alternância do poder é própria da democracia e é hora de as oposições chegarem ao Palácio da Liberdade”, defendeu.
A tese da candidatura própria ao governo do estado com um pré-acordo de segundo turno com o PT ganhou força na reunião dos peemedebistas. Numa eventual disputa com o PSDB na segunda etapa da eleição, um partido apoiaria o outro. O presidente nacional em exercício do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), citou o exemplo da disputa pela Prefeitura de São Paulo, no ano passado, quando o PMDB lançou Gabriel Chalita e o PT Fernando Haddad. O petista saiu vitorioso com o apoio de Chalita no segundo turno, contra José Serra. O peemedebista lembrou que a estratégia deu certo, ao contrário do que ocorreu em Belo Horizonte, com a derrota da chapa de Patrus Ananias (PT) e Aloísio Vasconcellos (PMDB).

O presidente do PT em Minas Gerais, deputado federal Reginaldo Lopes, reforçou a tese de Raupp. “Vamos juntos de qualquer forma, seja em dois palanques ou em um palanque. Mas nós vamos derrotá-los porque ninguém aguenta mais os tucanos em Minas”, conclamou o petista.

Disputa interna

A possibilidade de Josué ser o nome do PMDB para a candidatura própria causou ciúmes no partido. O senador Clésio Andrade (PMDB), que ontem mais uma vez se anunciou pré-candidato ao governo, não acredita que o empresário possa atrapalhar seus planos. “Muito pelo contrário. Ele fortalece e declarou que reconhece minha candidatura e que é também um nome para todos os cargos de que o PMDB precisar”, desconversou. Segundo ele, Josué poderia ser candidato ao Senado ou ainda postular a Vice-Presidência da República. “Sabemos que o processo político é dinâmico e pode se alterar”, argumenta Clésio, ao considerar que Michel Temer não está confirmado como companheiro de chapa de Dilma para a reeleição.

Josué elogiou o padrinho Lula, se dizendo agradecido pela maneira com a qual o ex-presidente tratou seu pai, José Alencar. “Lula sempre foi muito generoso com meu pai na campanha e no governo”, afirmou. Coube a Valdir Raupp minimizar a influência de Lula no xadrez político do PMDB, com o ex-presidente fazendo lobby para que o empresário companha chapa com o PT . “O PMDB é um partido independente e não vamos discutir com o ex-presidente Lula. O que temos é uma aliança nacional, que deverá ser mantida, mas os diretórios estaduais têm liberdade total para lançar suas candidaturas”, afirma.

Descontente

As boas relações entre PMDB e PT estão longe de ser uma unanimidade. Bem ao seu estilo, o senador Roberto Requião (PMDB-PR) não poupou críticas ao aliados petistas, ao dizer que Lula fez uma aliança com o poder e negociou com o “capital vadio, capital improdutivo”. Ele condenou a forma como a economia tem sido conduzida pelo governo Dilma e reclamou do fato de o PMDB não estar se preparando para lançar candidato próprio ao Palácio do Planalto em 2018. “Nós temos as presidências da Câmara dos Deputados e do Senado, mas não temos propostas”, lamentou.